Economia

Belo Horizonte possui mais farmácias que bairros; entenda os motivos

Diversificação de produtos vendidos nas farmácias e mudança de comportamento do consumidor na pandemia incentivam o crescimento do setor na Capital
Belo Horizonte possui mais farmácias que bairros; entenda os motivos
Foto: Reprodução Adobe Stock

O número de farmácias em Belo Horizonte supera a quantidade de bairros existentes na Capital. De acordo com dados da Receita Federal, Belo Horizonte conta com 1340 unidades ativas, o que daria quase três farmácias distribuídas em cada um dos 487 bairros da capital mineira. Especialistas acreditam que esse aumento exponencial está relacionado a uma tendência de mercado, uma vez que esses estabelecimentos não se limitam apenas a vender medicamentos.

De acordo com o economista e docente do curso de Gestão do Centro Universitário de Belo Horizonte (UniBH), Fernando Sette Junior, a diversidade de produtos oferecidos, aliada à facilidade de acesso, contribui para que esses negócios se multipliquem. “As farmácias de hoje vendem de tudo: desde produtos de higiene pessoal até cosméticos e alimentos. Essa diversificação é uma estratégia para atrair um público mais amplo e aumentar o ticket médio por cliente”, explicou.

Para ele, o movimento vem crescendo em Belo Horizonte, uma vez que as farmácias deixaram de ser vistas apenas como ponto de aquisição de remédios. “Por conta da proximidade e dos horários de funcionamento estendidos, as farmácias acabam conseguindo atender demandas de última hora. Inclusive, há alguns anos, nas gôndolas próximas aos caixas encontrávamos remédios. Hoje, é mais comum encontrarmos doces e produtos que atraem a atenção do consumidor”, salientou.   

Quando se compara o número de farmácias com o total de supermercados e mercearias na capital, que são 557, a quantidade de estabelecimentos farmacêuticos chega a ser, também, quase três vezes maior. O economista acredita que esse cenário é reflexo de um mercado competitivo e de uma demanda que vai além da simples necessidade de medicamentos.

“O Brasil tem uma população que busca cada vez mais praticidade e conveniência. Em Belo Horizonte, isso se traduz na grande quantidade de farmácias, que passaram a funcionar como mini-mercados, aproveitando o fluxo constante de pessoas”, considerou Sette Junior.

Outro fator apontado pelo economista foi que, com a pandemia da Covid-19, foi criado um cenário singular onde o mercado farmacêutico prosperou enquanto muitos outros setores enfrentaram dificuldades. “Durante os períodos de lockdown, quando inúmeros estabelecimentos comerciais foram obrigados a fechar, as farmácias permaneceram abertas por serem consideradas serviços essenciais”, relembrou.

As operações contínuas permitiram que o setor farmacêutico acumulasse capital e expandisse sua presença no mercado, enquanto outras indústrias lutavam para sobreviver. Com o aumento da demanda por medicamentos, produtos de higiene e itens relacionados à saúde, muitas redes de farmácias aproveitaram a oportunidade para crescer, abrindo novas unidades em diversas localidades.

Na avaliação da farmacêutica e docente do curso de Farmácia no UniBH, Helena de Oliveira Moraes, outro fator crucial para o aumento do número de farmácias é o contínuo crescimento da expectativa de vida no Brasil, que reflete mudanças significativas no mercado de consumo.

“Com o envelhecimento da população, a demanda por medicamentos tem aumentado, pois pessoas mais velhas tendem a consumir mais produtos de saúde – o que abre espaço importante para prestação de serviços clínicos providos pelos farmacêuticos, como por exemplo o acompanhamento farmacoterapêutico destes pacientes”, considerou Helena de Oliveira.

A mudança de comportamento por causa da pandemia, levando os consumidores a recorrerem com mais frequência às farmácias também contribuiu para essa expansão. Esse hábito se manteve no período pós-pandemia, consolidando as farmácias como destinos preferenciais para a compra de uma ampla gama de produtos.

O farmacêutico de hoje precisa ser, além de um profissional de saúde, um gestor, entendendo de marketing, vendas e gestão de estoque, considerou a farmacêutica.  “Essa mudança no perfil profissional tem levado muitos farmacêuticos a buscar especializações que vão além da farmácia clínica, como gestão de negócios e marketing farmacêutico”, observou.

A multiplicação de farmácias em Belo Horizonte reflete não apenas a demanda por medicamentos e produtos diversos, mas um mercado em constante evolução, onde os profissionais precisam se adaptar às novas exigências para se manterem competitivos. Diante disso, Belo Horizonte tem se tornado um exemplo de como a modernização do comércio farmacêutico está impactando tanto a economia quanto a própria profissão, ampliando os serviços e espaços de atuação do conhecimento farmacêutico na comunidade.

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