Economia

Medioli prevê aportes de R$ 560 mi em obras e volta a criticar rota do Rodoanel

Prefeito de Betim também falou sobre outros assuntos, como o andamento da construção do Aeródromo Inhotim
Medioli prevê aportes de R$ 560 mi em obras e volta a criticar rota do Rodoanel
Vittorio Medioli aposta na vocação logística de Betim | Crédito: Leonardo Morais

Importante polo industrial do Estado e com as contas públicas em dia, o município de Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), cada vez mais se destaca no desenvolvimento econômico de Minas Gerais. De indústrias centenárias a inovadores centros logísticos, abriga empresas de diferentes portes e setores, especialmente pela localização privilegiada, mas não apenas por ela.

É o que defende o prefeito Vittorio Medioli (sem partido), reeleito em 2020, com 76,34% dos votos válidos. Segundo ele, o ambiente de negócios favorável, a robusta infraestrutura, a desburocratização de processos e a transparência por parte do Executivo municipal também estão entre os fatores que favorecem grandes investimentos por parte do setor privado.

“O setor público é sócio de cada investimento privado e tem o dever de fomentar a atividade privada, porque o fomento de uma atividade sustentável vai impactar na geração de emprego, criação de mais oportunidades, aumento de arrecadação e, a partir daí, mais serviços públicos, mais educação, mais saúde, mais infraestrutura, mais esporte e mais cultura. Aqui em Betim todo investidor é bem-vindo”, argumenta.

Nesta entrevista exclusiva ao DIÁRIO DO COMÉRCIO, Medioli também fez um balanço de sua gestão, das metas nas áreas de saúde e educação e os investimentos previstos para infraestrutura. Conforme o representante do município, que também é empresário, dono do grupo Sada, composto por empresas de diferentes setores como transporte e logística, indústria e comércio, serviços, concessionários, comunicação, bioenergia e esporte, estão previstos R$ 560 milhões para obras públicas entre este e o próximo exercício.

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O prefeito também falou sobre outros assuntos como o andamento da construção do Aeródromo Inhotim, o imbróglio com o governo do Estado em torno da implantação do Rodoanel Metropolitano e a construção de um estádio na cidade, como opção aos existentes na Capital e inclusive já oferecido ao Cruzeiro, que enfrenta novo embate com a Minas Arena para jogar no Mineirão.

Confira trecho da entrevista exclusiva

Qual o balanço de sua gestão em 2022?

Betim passou bem pelo período de pandemia e teve uma importante recuperação em termos fiscais, com bons indicadores e vem se posicionando entre os municípios mais bem avaliados nas áreas de saúde e educação. Temos programas sólidos de melhorias constantes, como a construção de uma nova rede de unidades básicas de saúde, já entregamos 19 unidades e duas UPAs, fizemos o Centro Materno-infantil com 170 leitos e não para por aí. Vamos começar a obra de um novo CTI moderno que vai ampliar a capacidade do hospital, também vamos construir uma nova UPA  na periferia, a maior e mais demandada, e outras seis unidades básicas para depois construir um Centro de Referência da Mulher que é pioneiro aqui em Minas Gerais. Na educação aprovamos na Fundação para o Desenvolvimento da Educação (FDE) um modelo de creche maior, que pode atender em tempo integral cerca de 400 alunos. Já entregamos 11, outras 11 estão em construção. Isso zerou a demanda abaixo de cinco anos e proporcionou um salto na qualidade do atendimento pré-escolar em Betim. Estamos refazendo também o ensino fundamental, com meta de zerar o analfabetismo e de levar Betim a 7.5 de Fundeb. Já temos três grandes escolas operando neste novo modelo, a única aprovada no Estado. A partir do mês que vem incluiremos o ensino audiovisual em todas as salas de aula. Compramos telões de 65 polegadas, computador  e todos os professores terão ferramentas web para potencializar o ensino. Também trocamos todos os móveis das escolas e colocamos a merenda escolar em nível excepcional de qualidade . E colocamos o sistema de registro da presença com reconhecimento facial, com um aplicativo que permite que os pais controlem a presença.

E em termos de infraestrutura?

Nos seis primeiros anos foram mais de R$ 500 milhões investidos e lançamos um pacote com outros R$ 560 milhões para os próximos dois. As obras já estão todas contratadas e com recursos garantidos, a grande parte com contrapartida.  Parte oriunda do Acordo da Vale e que a mineradora já depositou e parte de contratações feitas a nível estadual ou federal. Tivemos nove transposições que geraram grande impacto na mobilidade, distritos industriais e a abertura de mais de 40 quilômetros (km) de vias. Betim tem hoje uma ocupação de cerca de 35% do território e temos que abrir e estruturar novas vias, mantendo 70% dele no estado rural e de preservação. Já lançamos três novos distritos industriais municipais e outros dois estão previstos para ainda este ano e geramos centenas de empregos. Betim é um canteiro de obras. Uma das principais (obras) está sendo tocada pela iniciativa privada e diz respeito à construção de aeródromo.

O Aeródromo Inhotim. Qual a situação?

Estamos monitorando o grupo investidor. As obras preliminares já começaram, o licenciamento já foi aprovado, assim como as averbações na Aeronáutica e esperamos que neste ano e no próximo a obra tome vulto, de forma que Betim receba os primeiros voos em 2025. Também existe uma capacidade técnica e um aporte de recursos para capacitar a região. O projeto é de um fundo de investidores que inclui bancos, como o Santander, que é o administrador, escritórios, empresários e proprietários de áreas na região. Os integrantes possuem interesses convergentes e o município não terá um centavo de despesa, como também estabeleceu a transferência de propriedade. Ou seja, eles ficarão com a concessão por 35 anos e os terrenos do entorno, enquanto a Prefeitura ficará com a infraestrutura, gerando garantias reais ao equilíbrio financeiro do município. O terreno praticamente foi doado pelo fundo, que é o idealizador. Recentemente, esse grupo aportou R$ 100 milhões, o que deve ser suficiente para tocar a obra em 2023. No fim do ano haverá outra chamada para uma nova capitalização. O modelo é sustentável e a iniciativa pública além de não ter gastos, ainda ganha um aeroporto, melhorias no entorno e mais arrecadação.

Qual foi o impacto do pacote de ICMS na arrecadação da cidade e quais as expectativas para 2023?

Assumi a gestão com R$ 2 bilhões de dívidas em um orçamento de R$ 1,3 bilhão. Hoje nosso orçamento pulou para R$ 2,5 bilhões e temos um caixa positivo. A dívida previdenciária que somaria R$ 1 bilhão, considerando os reajustes inflacionários, está em no máximo R$ 350 milhões. Nosso plano é zerá-la até o final de 2024. Honramos tudo, não tomamos nenhum empréstimo, tocamos a maioria das obras com recursos de convênios, contrapartida e Termos de Ajustamento de Conduta. Construímos viadutos e estradas e aumentamos a iluminação pública sem fazer um centavo de empréstimo. Parece um milagre, mas, na realidade, é o resultado de uma boa gestão. No ICMS, o município, em 2010, tinha uma participação no bolo de 9,74% e hoje é de 4,80%. Perdemos cinco pontos e não tem um município que teve uma perda de participação tão acentuada. Estamos contestando essas contas. Estamos com metade da receita, mas com uma situação financeira saneada. Implantamos também sistemas de transparência com auditorias constantes. Com a substituição tributária e uma fiscalização mais apurada, a arrecadação de ISS mais que dobrou e hoje está acima de R$ 140 milhões. O IPTU, mesmo com diminuição do valor, quase triplicou a arrecadação. E a movimentação econômica como compra e venda de imóveis, IPTU, ITBI e taxa de transferência e alvarás também aumentaram até mesmo durante a pandemia. Sem contar os dados positivos de geração de emprego.

Quais são os critérios e ações para atração de investimentos privados?

Não pode ser bom para alguns, tem que ser bom para Betim. Tem que ter as contrapartidas e isso estancou o crescimento desordenado. Não damos licença em bairros que já têm sinais de adensamento e não há como abrir vias públicas. Hoje o que temos são investimentos sustentáveis que cumprem com as contrapartidas. Ainda existem alguns gargalos, algumas ineficiências, mas há evolução. E tem que haver uma visão legal, fazer tudo o que a lei permite. Mas a lei permite muita coisa e certas administrações usam a lei para gerar dificuldade, com interpretações falhas. Nós simplificamos isso. O setor público é sócio de cada investimento privado e tem o dever de fomentar a atividade privada, porque o fomento de uma atividade sustentável vai impactar na geração de emprego, criação de mais oportunidades, aumento de arrecadação e a partir daí, mais serviços públicos, mais educação, mais saúde, mais infraestrutura, mais esporte e mais cultura. Aqui em Betim todo investidor é bem-vindo.

A cidade tem se tornado um importante polo logístico. Novas empresas se instalarão no município?

Temos uma vocação logística porque somos a entrada Sul da Região Metropolitana de Belo Horizonte, que é atendida pelas BRs 262 e 381. A BR 040 nós gostaríamos que o Rodoanel nos levasse até ela, mas isso é uma briga que ainda temos com o Estado. Mas temos recebido empresas de porte internacional como o Mercado Livre, Amazon, e também a B2W (Americanas), mas agora não sabemos como vai ficar.

Em relação ao Rodoanel, como está o imbróglio com o governo do Estado?

Aquele projeto é um absurdo, pois insistem em jogar o percurso em um trajeto inviável que não resolve nenhum problema. Betim vai continuar a ser uma cidade totalmente inviabilizada nas suas principais artérias. Queremos um Rodoanel que capte esse trânsito. Não podemos cortar os bairros mais populosos a um custo absurdo. Serão mais de 100 becos sem saída. Na Europa quando se interrompe uma via tem que fazer a transposição. Aqui prevê centenas de transposições. Vai custar mais que o próprio Rodoanel.  Tem um orçamento de R$ 3 bilhões pelo Estado e ainda um pedido de mais R$ 15 bilhões via BNDES. Como é possível? Por isso o Brasil é um país que não vai evoluir. Enfim, o Estado não vai fazer o trajeto dele, porque é autonomia municipal. Nós temos um plano diretor que dá uma faixa para o Rodoanel passar. Com poucas desapropriações e um trajeto um pouco mais longo, mas que elimina as curvas. Contagem também não quer que passe dentro da cidade. Sem contar que no mundo inteiro se chama anel porque passa por fora (do dedo) e não cortando o dedo no meio.

A Minas Arena e o Cruzeiro voltaram a ter problemas quanto à utilização do Mineirão para jogos. O estádio de Betim vai sair do papel? Seria uma solução?

Nós fizemos a proposta ao Cruzeiro. Temos um terreno de 100 mil metros quadrados. A ideia é, por meio de uma PPP, erguer um estádio e explorá-lo em todos os sentidos, com lojas, shopping e outras atividades. Obviamente haveria a participação do município sobre o correspondente do terreno. Inicialmente pensamos na Allianz, porque no mundo é a que mais investe nisso. A proposta é uma arena diferenciada, não como a do Atlético ou o Mineirão, que já está ultrapassado e tem um gasto exorbitante.  Uma arena moderna e multiúso. Já entramos em contato com empreendedores e o Cruzeiro gostou, mas depois o Estado entrou no meio e disse que bancaria os gastos com o Mineirão. Agora estão com outro impasse. É impossível algo economicamente inviável se sustentar. O Mineirão é inviável. O Estado tem que bancá-lo já que a iniciativa privada não banca. Além de tudo, dá prejuízo e o Estado paga. Quanto ao nosso projeto, estamos vendo alternativas para barateá-lo e já encontramos uma forma que custa 50% do orçamento inicial mantendo as funcionalidades. Existem outros modelos também. Podemos fazer um estádio de 15 (mil) a 20 mil pessoas ou de 20 (mil) a 25 mil podendo chegar a 50 mil. Temos várias hipóteses e cada uma tem um plano de retorno financeiro. Estamos preparando uma proposta com as diversas opções e vamos ver quem se interessa.

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