Economia

BHP visa mercado com proposta à Anglo; veja análise de especialistas

Aquisição por cerca de US$ 39 bilhões balançou o setor e promete concentrar a produção mundial de cobre
BHP visa mercado com proposta à Anglo; veja análise de especialistas
Companhia tem até o dia 22 de maio para declarar oficialmente sua firme intenção de compra | Crédito: Reuters / Ivan Alvarado

Ao oferecer uma oferta de aquisição à Anglo American, a BHP fortalece seu potencial na mineração e visa a manutenção de seu poder na entrega e precificação do minério no mercado global, avaliam especialistas. A gigante inglesa balançou o mercado ao fazer uma oferta de cerca de US$ 39 bilhões pela companhia. Caso prospere, o acordo criará a maior mineradora de cobre do mundo, responsável por 10% da produção do mineral no planeta.

O economista e sócio da 3A Investimentos, Samuel Chagas, acredita que a aquisição da Anglo é uma estratégia da BHP para aumentar seus volumes de toneladas de minério e continuar relevante na disputa por preço e entrega do mineral. “Em uma avaliação prévia, isso vem para ‘blendar’ um minério de maior qualidade da BHP”, afirma.

A BHP tem até o dia 22 de maio para declarar oficialmente sua firme intenção de fazer uma oferta pela mineradora ou anunciar que não pretende comprar a empresa, de acordo com a legislação do Reino Unido. Ambas as empresas envolvidas na negociação têm operações em Minas Gerais. A BHP, em uma joint venture com a Vale, a Samarco, em Mariana, e a Anglo, no Complexo Minas-Rio, que também conta com participação da Vale.

O economista da 3A Investimentos disse, inclusive, que a possível aquisição da Anglo pela BHP não representa uma ameaça para a Vale, já que a própria companhia tem vantagem imensa no setor com a exploração em Carajás, no Pará, com uma extração de baixo custo de minério de ferro e um teor muito elevado.

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O CEO da Vale, Eduardo Bartolomeo, disse, durante conferência com analistas de mercado sobre resultados no primeiro trimestre, que a mineradora está atenta ao anúncio da oferta da BHP, mas não vê impacto em seu projeto Minas-Rio, junto da Anglo, caso o acordo seja realizado.

Chagas observa também uma especulação do mercado financeiro sobre a negociação, ao oferecer para a China uma espécie de arcabouço das reservas mundiais já licenciadas do insumo siderúrgico. É que o governo chinês tem participações na BHP e uma aquisição da Anglo aumentaria, indiretamente, seu alcance sobre o mineral. A estatal chinesa Chinalco é a maior acionista da mineradora Rio Tinto, uma das líderes mundiais do setor. O economista ressalta que essa possibilidade é algo aventado no campo especulativo pelos investidores.

Possíveis barreiras da BHP na aquisição da Anglo

Mas nem tudo são flores no caminho dos ingleses. O ministro de recursos minerais da África do Sul, Gwede Mantashe, criticou uma possível aquisição da Anglo pela BHP. Em entrevista ao Financial Times, ele afirmou que a experiência da gigante da mineração inglesa não foi positiva no país, após a fusão com a sul-africana Billiton, em 2001.

Mantashe ressaltou, porém, que sua declaração não era posição oficial do governo. O Public Investment Corporation (PIC), gestora estatal do país africano, é o maior acionista da Anglo American. Recentemente, a BHP, junto da Vale, foi alvo de uma nova ação no judiciário holandês das vítimas da tragédia de Mariana.

O coordenador de Ciências Contábeis do Centro Universitário Estácio, Alisson Batista, comenta que a possível aquisição da Anglo é bastante interessante para a BHP, uma vez que ampliaria seu horizonte na mineração. “Quando ela tem mais capilaridade, mais ativos, fortalece seu potencial”, aponta.

Caso a Anglo venha realmente a ser adquirida, a empresa vai se tornar a segunda grande aquisição da BHP em cerca de um ano, após comprar a mineradora de cobre Oz Minerals em 2023, e, provavelmente, estaria entre os dez maiores negócios de mineração de todos os tempos, em termos de valor.

“Com os retornos futuros, isso melhora vários indicadores, como retorno sobre investimentos, ativos que ela possui dentro do contexto da mineração, toda essa gama de serviços que, em um mercado de alto valor agregado, que é o mercado mineiro, que possui minério de qualidade, Minas Gerais só tem a ganhar”, completa Batista.

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