Construída com dinheiro do acordo de Brumadinho, Biofábrica Método Wolbachia é entregue em BH

Construída com recursos do acordo de reparação pelos danos causados em Brumadinho, a Biofábrica Método Wolbachia teve suas obras concluídas e foi oficialmente entregue em solenidade na tarde desta segunda-feira (29), em Belo Horizonte.
Além do governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), estiveram presentes no evento representantes do Ministério da Saúde e do World Mosquito Program (WMP) Brasil/Fiocruz.
A biofábrica produzirá semanalmente dois milhões de mosquitos Aedes aegypti com Wolbachia, para que se reproduzam com os Aedes aegypti locais, num esforço para o combate à dengue. O início da operação será em janeiro de 2025.
Aos poucos, será estabelecida uma nova população de mosquitos, o Wolbitos, todos com Wolbachia, um microrganismo intracelular presente em 60% dos insetos da natureza, mas que não está presente no Aedes aegypti.
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Quando presente, a Wolbachia impede que os vírus da dengue, zika, chikungunya e febre amarela urbana se desenvolvam dentro do mosquito. Assim, a iniciativa deve contribuir para a redução da transmissão de arboviroses.
Zema afirmou que a biofábrica terá capacidade plena de produzir 60 milhões de Wolbitos por mês, o que contribuirá para melhorar os números do Estado em relação à dengue. “À medida que a população dos mosquitos que não transmite as arboviroses crescer, esses números vão estar caindo ao longo dos próximos anos, evitando sobrecarga no sistema de saúde, o sofrimento de muitas pessoas e também óbitos”, declarou.
Biofábrica terá investimento de R$ 77 milhões
A construção do prédio da biofábrica contou com investimento de aproximadamente R$ 20 milhões. Para início da operação serão necessários aportes de ao menos mais R$ 57 milhões.
A obra é uma obrigação de fazer da Vale S.A., realizada como parte do Acordo Judicial de reparação os danos decorrentes do rompimento da barragem de Brumadinho, em 2019. A tragédia tirou a vida de 272 pessoas e gerou uma série de impactos sociais, econômicos e ambientais.
“Esse espaço aqui, e tantos outros que estão sendo inaugurados, tem um custo. E esse custo é pago com dinheiro de sangue, de lágrimas e de dor. Então que ele seja usado com muita responsabilidade e que muitas vidas sejam salvas”, afirmou Andresa Rodrigues, presidente da Associação dos familiares de vítimas e atingidos pelo rompimento da barragem Mina Córrego do Feijão (Avabrum).
A biofábrica será de propriedade do governo do Estado, sob gestão da Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG), com operações custeadas pela mineradora por cinco anos. Após o período, a operação será de responsabilidade da Fiocruz.
Próximos passos da biofábrica
A próxima etapa será a obtenção das licenças obrigatórias para funcionamento e a revisão de contratos com a Fiocruz, responsável por conduzir no Brasil a execução de projetos que utilizam o Método Wolbachia, patenteado pelo WMP.
Os Wolbitos produzidos serão soltos, com a anuência da população, em Brumadinho e em outros 21 municípios vinculados à Bacia do Rio Paraopeba. A expectativa da SES-MG é que, posteriormente, ocorra a expansão da produção de mosquitos para todo o território estadual.
Com o passar do tempo, a porcentagem de mosquitos que carregam o microrganismo aumenta, até que permaneça alta sem a necessidade de novas liberações.
O vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz, Marco Aurélio Krieger, explicou que a tecnologia da biofábrica começou a ser testada no País há dez anos. Durante esse tempo de operação de unidades como a biofábrica de Belo Horizonte, foram protegidos cerca de três milhões de pessoas no Brasil.
Com o apoio do Ministério da Saúde, a estratégia da Fiocruz é partir para uma ampliação nacional. Neste ano e no próximo, a estimativa é que mais de 5,5 milhões de pessoas sejam protegidas em âmbito nacional. “A expectativa que nos próximos dez anos a gente consiga proteger 70 milhões de pessoas que estão nos municípios brasileiros responsáveis por 80% dos casos de dengue nos últimos 20 anos”, declarou.
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