Bloqueio de rodovias federais prejudica vários setores no Estado

Os efeitos das manifestações dos caminhoneiros apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) foram sentidos pelos setores de supermercados, viagens, combustíveis, saúde, indústrias, entre outros. Os bloqueios das rodovias federais que passam por Minas Gerais iniciaram-se na madrugada do dia 1º e seguiram ao longo de terça-feira (2), mesmo após a determinação do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, de liberar todas as estradas do País.
Com a decisão do Supremo, Romeu Zema (Novo) publicou em seu Twitter que havia acionado a Polícia Militar para a desobstrução das rodovias do Estado que estavam bloqueadas. “Solicitei às nossas forças de segurança para desobstruir qualquer via ou estrada interditada por manifestações. A eleição já acabou, temos que assegurar o direito de todos de ir e vir e também garantir que mercadorias cheguem onde precisam para não haver desabastecimento. Vamos cumprir a lei”, postou o governador reeleito, na manhã de terça-feira.
Após o posicionamento do governo, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) informou que havia conseguido desobstruir ontem (1º) cerca de 20 pontos de interdição. Ainda de acordo com atualizações da própria PRF, o Estado encerrou a terça-feira com 20 pontos ainda bloqueados nas estradas mineiras. Para quem quiser acompanhar, os perfis da PRF e da Via 040 no Twitter estão em constante atualização da liberação das rodovias federais para a população.
Impacto das manifestações
Algumas entidades já estão emitindo alertas quanto ao fornecimento de itens indispensáveis para a população mineira, que pode ser prejudicada por conta dos bloqueios das estradas.
O Sindicato do Comércio Varejista de Derivados do Petróleo do Estado de Minas Gerais (Minaspetro) informou aos revendedores que a situação nas imediações das bases está se agravando. “No fim da manhã de hoje (terça-feira), os manifestantes seguem com trechos fechados em Betim, Governador Valadares e Uberaba. Postos de algumas regiões já estão apresentando falta de produto. As bases também estão com problemas de suprimentos (anidro e hidratado), uma vez que os caminhões não conseguem chegar para descarregamento”, publicou o sindicato por meio de nota.
Ainda, segundo o Minaspetro, a Polícia Militar já havia sido acionada para garantir a segurança na saída dos caminhões que conseguem carregar nas bases, principalmente em Betim, local que atende a maior parte dos postos do Estado. “É importante salientar que a população não faça uma corrida aos postos, pois é justamente essa ação que pode agravar o desabastecimento dos estoques”, ressaltou na publicação.
Outro setor que também já está sentindo o impacto dessas paralisações é o de viagens e turismo. A rodoviária de Belo Horizonte, por exemplo, informou que das 301 partidas previstas para acontecerem na terça-feira, de 0h às 16h, ocorreram 191 viagens. O que corresponde a 110 embarques cancelados pelas empresas, gerando um impacto de 37%.
Em relação à movimentação de passageiros, o Terminal Rodoviário Governador Israel Pinheiro (Tergip) comunicou que embarcaram 2.252 pessoas. Se fosse uma terça-feira típica, esse número seria 3.477 passageiros – ou uma redução de 35%.
Sobre as chegadas, das 278 previstas para o período, foram registradas 216 – uma redução de 22%. Quanto ao número de passageiros que desembarcaram, foram contabilizadas 3.595 pessoas, sendo que a média típica para o dia seria de 6.188 passageiros – uma baixa de 42%.
As linhas mais afetadas com as manifestações nas rodovias foram as interestaduais para São Paulo e Rio de Janeiro. Em Minas, os destinos mais afetados são os seguintes: Conselheiro Lafaiete, Formiga, Itaúna, Divinópolis, Congonhas, Curvelo, Corinto e São João del-Rei.
Por outro lado, os voos que estão saindo da capital mineira estão operando normalmente, sem impactos pelas manifestações e paralisação nas estradas, conforme afirmou ao DIÁRIO DO COMÉRCIO a BH Airport, concessionária que administra o Aeroporto Internacional de Belo Horizonte, em Confins.
Quanto ao setor supermercadista, a reportagem apurou que unidades da rede de Supermercados BH no interior do Estado já começam a sofrer com baixas no estoque e enfrentam dificuldade na reposição. Procurada pelo DIÁRIO DO COMÉRCIO, a Associação Mineira de Supermercados (Amis) não se pronunciou.
No setor de saúde, a Associação Brasileira da Indústria de Tecnologia para Saúde (Abimed) também comunicou que enviou ofícios para as autoridades competentes a respeito da situação de bloqueio das vias de locomoção no País. O objetivo principal é garantir o pleno acesso à saúde por parte da população, mesmo em um momento conturbado.
Prejuízo para comércio pode superar 2018
Em uma análise das interrupções do fluxo rodoviário, a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) apurou que as perdas diárias para o comércio com os bloqueios podem gerar um prejuízo maior que R$1,8 bilhão, registrado em 2018. A greve dos caminhoneiros naquele ano causou retração de 5,8% no volume de vendas, com um custo total para o varejo, em valores atuais, de R$18 bilhões, informou a entidade.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) também alertou quanto ao risco de desabastecimento e falta de combustíveis, caso as rodovias não sejam rapidamente desbloqueadas. Em nota, a entidade disse que “as indústrias já sentem impactos no escoamento da produção e relatam casos de impossibilidade de deslocamento de trabalhadores. As paralisações também já atingem o transporte de cargas essenciais, como equipamentos e insumos para hospitais, bem como matérias-primas básicas para as atividades industriais”.
Presidente só se manifestou 40 horas depois
O presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), só se pronunciou na tarde de terça-feira, após mais de mais de 40 horas de silêncio após a eleição. Durante a coletiva de imprensa, no Palácio da Alvorada, Bolsonaro comentou sobre os protestos feitos por caminhoneiros contrários ao resultado da eleição presidencial.
“Os atuais movimentos populares são frutos de indignação e sentimento de injustiça de como se deu o processo eleitoral. As manifestações pacíficas sempre serão bem-vindas, mas nossos métodos não podem ser como o da esquerda, que sempre prejudicaram a população”, declarou, rapidamente.
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