Economia

Bolsa de valores tem “relativa estabilidade”

Ainda que diante de uma disputa acirrada no segundo turno, Ibovespa acumulou valorização de 1,84% na 1ª quinzena de outubro
Bolsa de valores tem “relativa estabilidade”
Crédito: Amanda Perobelli/Reuters

Desassociar política de economia é praticamente impossível. Os conflitos entre Rússia e Ucrânia e a elevação da taxa de juros na Europa e Estados Unidos, por exemplo, afetam o mercado de ações global. No Brasil, não é diferente. As dúvidas e expectativas quanto ao futuro do País com o período eleitoral também têm impacto direto na Bolsa de Valores. 

Mas, apesar do atual contexto de importantes decisões políticas com o agora segundo turno das eleições, a Bolsa brasileira apresentou, durante esta primeira metade do mês, um “cenário de relativa estabilidade”. 

O Ibovespa, principal indicador de desempenho das ações negociadas na B3, acumulou alta de 1,84% no fechamento das duas primeiras semanas do mês. O índice fechou a primeira semana com resultado positivo de 5,75%, enquanto na segunda semana houve retração de 3,70%. 

Conforme o sócio-diretor da Belo Investment Research, Paulino Oliveira, entre as ações, a maior retração até agora é da MRV (MRVE3). A queda no período foi de 17,46%. A Braskem (BRKM5) teve a maior alta, com 36,33%, consequência de uma “proposta de compra à potencial companhia”. Ele ressalta também as ações da BR Foods (BRFS3), que subiram 4,02% no acumulado do mês. 

Para a equipe de análise da Terra Investimentos, formada por Régis Chinchila e Luis Novaes, “a primeira semana do índice no mês foi marcada pelo otimismo pós-primeiro turno com a indicação de um Congresso mais à direita, favorecendo a visão pró-mercado e de não intervenção em estatais, empresas de grande representação no índice”. 

Quanto à segunda semana, os analistas afirmam que “não houve motivos que impulsionassem o mercado além da valorização da última semana (primeira), e esse recuo seguiu o exterior, que não vai bem”.

Tendência para as próximas semanas

De acordo com Régis Chinchilla e Luis Novaes, os investidores devem ficar atentos a alguns pontos, como a crise inflacionária e o segundo turno das eleições, que ocorrerá no próximo dia 30 de outubro. 

“Os principais pontos de atenção dos investidores são a crise inflacionária no Hemisfério Norte, que promete estar longe de um fim, ao passo que o conflito militar escala, e as medidas de contenção de preços, estabilidade dos mercados e reaquecimento das economias, que não surtem os efeitos necessários”, destacam.

“No Brasil, temos as eleições de segundo turno e a temporada de balanços (que ocorrem simultaneamente no exterior), que também podem gerar flutuações expressivas na Bolsa”, completam.

Quanto a quais setores da Bolsa de Valores podem ser impactados nas próximas semanas, os analistas da Terra Investimentos ressaltam “todos os que de alguma forma estão ligados às campanhas políticas ou podem estar ligados”. A explicação, segundo eles, é pelo fato de que os candidatos ainda podem mudar seus discursos antes da eleição final. Dessa forma, se espera “volatilidade em setores como saneamento básico, educação, utilidade pública, agronegócio”, a depender do que os candidatos vão falar. 

Para eles, outros setores que também podem sofrer impactos são aqueles “expostos ao mercado externo, como petrolíferas, mineradoras e outros”. O motivo é a perspectiva não ser positiva para as grandes economias: Estados Unidos, Europa e China. 

Ainda de acordo com os analistas, todos esses fatores citados anteriormente “têm potencial para gerar tendência nos ativos”. Já a divulgação dos balanços “deve servir como baliza para os investidores em muitos ativos da Bolsa, seja para compra ou venda”, visto que é “um período muito esclarecedor de como se encontram as companhias”.

Escolha vai determinar favorecidos

A disputa pela Presidência entre Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pode favorecer diferentes áreas da B3. Conforme o sócio-diretor da Belo Investment Research, Paulino Oliveira, “tendo em vista que há uma possibilidade real de tanto Lula quanto Bolsonaro chegarem à Presidência, a gente tem que olhar para a potencial política econômica de cada um deles”.

De acordo com ele, na prática, temos “um Congresso que é muito mais ao centro e à direita, com alguma proximidade ao Congresso que o Lula pegou na primeira vez que foi presidente (2003), o que força um governo, portanto, mais de centro”. Dessa forma, mesmo em uma eventual vitória do petista, não será possível “levar a cabo uma política econômica de esquerda, porque não vai ter apoio político para isso”.

Quanto ao atual presidente da República, Paulino afirma que se o candidato for reeleito, a tendência é ser menos liberal do que foi no primeiro mandato. Além disso, Bolsonaro chegaria à Presidência com menos apoio, o que pode causar empecilhos práticos à governabilidade. 

Para ele, tanto na vitória de um quanto de outro, haverá uma espécie de gridlock (em português, engarrafamento), com dificuldades para o governo, o que deve trazer “continuidade na política econômica, dificuldade de reformas e estabilidade”. 

Quanto às ações específicas, Paulino ressalta que as empresas de economia mista serão favorecidas por uma potencial vitória de Bolsonaro, pois é um governo que favorece a privatização. Já se Lula for o novo presidente, os benefícios devem ser para “tudo aquilo que recebe investimento público”, como saneamento básico, infraestrutura, entre outros.

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