Bolsonaro anuncia troca de comando e Silva e Luna assumirá a Petrobras

São Paulo – O presidente Jair Bolsonaro anunciou na sexta-feira (19) que o governo decidiu indicar o general Joaquim Silva e Luna para assumir os cargos de conselheiro e presidente da Petrobras após o encerramento do ciclo do atual CEO da companhia, Roberto Castello Branco.
Em publicação no Facebook, Bolsonaro compartilhou nota assinada pelo Ministério de Minas e Energia sobre a mudança.
Silva e Luna, atual presidente de Itaipu, assumiria “após o encerramento do ciclo, superior a dois anos, do atual presidente” da petroleira estatal, de acordo com o comunicado.
Não foi possível falar imediatamente com a Petrobras.
Castello Branco assumiu o comando da petroleira em janeiro de 2019, logo após a posse de Bolsonaro. Ele vinha defendendo a independência da companhia para reajustar preços dos combustíveis, mas acabou desagradando o presidente após um comentário sobre caminhoneiros, que têm ameaçado greves devido aos valores do diesel.
O CEO da Petrobras disse no final de janeiro que a questão dos caminhoneiros não era um problema da companhia. O mandato do Castello Branco se encerra em 20 de março.
Na noite de quinta-feira (18), após um reajuste da companhia nos valores dos combustíveis, Bolsonaro reclamou e disse que o comentário teria “consequências”, prometendo mudanças na estatal, sem detalhar.
As ações da Petrobras tiveram forte queda na sexta-feira em meio às discordâncias entre Bolsonaro e Castello Branco, que não chegou a se manifestar em público sobre o assunto. Não foi possível contato com o executivo.
Os papéis preferenciais da Petrobras encerraram com perda de 6,63% na sexta-feira.
Elogios – O novo indicado para chefiar a petroleira, por sua vez, tem recebido elogios frequentes de Bolsonaro em suas tradicionais transmissões semanais e manifestações públicas por seu trabalho em Itaipu.
Ainda no ano passado, por exemplo, o presidente disse que a gestão de Silva e Luna tem se comprometido com o uso de recursos públicos e permitido a realocação de recursos para obras estruturantes no Paraná.
Silva e Luna é general de Exército da reserva e foi ministro da Defesa do governo Michel Temer. Ele foi o primeiro militar a ocupar o Ministério da Defesa desde a sua criação em 1999 e, agora, também coroa a volta de um ex-ocupante das Forças Armadas na Petrobras. (Reuters)
Suspensão de impostos anula reajuste no diesel
Rio – A suspensão temporária de impostos federais sobre o diesel, anunciada na sexta-feira (19) pelo presidente Jair Bolsonaro, tem potencial para quase anular possíveis efeitos nas bombas de reajuste de 15% feito pela Petrobras nas refinarias, apontaram analistas ouvidos pela Reuters.
Bolsonaro anunciou que irá zerar por dois meses, a partir de 1º de março, PIS/Cofins que incidem sobre o diesel fóssil, com o objetivo de “contrabalançar” o reajuste que considerou “excessivo” feito pela petroleira estatal.
O reajuste da Petrobras elevou o diesel nas refinarias em média em R$ 0,34 por litro, para R$ 2,58 por litro na sexta-feira. O repasse dos reajustes nas refinarias aos consumidores finais nos postos não é garantido, e depende de uma série de questões, como margem da distribuição e revenda, impostos e adição obrigatória de biocombustíveis.
O prazo de dois meses, segundo o presidente da República, visa dar tempo para o governo pensar em uma forma de eliminar o imposto de forma definitiva.
“O PIS/Cofins que será reduzido é praticamente o valor do aumento que a Petrobras fez ontem no preço”, disse o chefe da área de óleo e gás da consultoria INTL FCStone, Thadeu Silva.
No entanto, o especialista ponderou que está programado um aumento da mistura de biodiesel no diesel comum também a partir de 1º de março, em um momento em que o biocombustível está com preços elevados. “Então alguma alta (do diesel nas bombas) ainda vamos ter”, frisou.
O presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), André Nassar, afirmou ainda ser cedo para avaliar se o aumento da mistura do biodiesel poderá elevar o preço do diesel nas bombas. Mas ponderou que o impacto do biocombustível é pequeno comparado ao diesel fóssil, cujos valores têm sido crescentes –a alta do preço da Petrobras é de 27,5% nas refinarias, no acumulado do ano.
Ele lembrou que biodiesel responderá em março por apenas 13% do volume do combustível vendido nos postos, ante 12% atuais, enquanto o diesel impacta no restante.
Caminhoneiros – A medida de Bolsonaro veio como resposta a pressões feitas por caminhoneiros, que se queixam dos preços altos do diesel e chegaram a ameaçar uma greve no início do mês.
As discussões ocorrem ainda em meio a uma baixa demanda por combustíveis, em função da pandemia de Covid-19.
O presidente da Fecombustíveis, Paulo Miranda, destacou que toda vez que o produto sobe, os consumidores tomam providências para economizar e acabam reduzindo a demanda.
“Os aumentos (do diesel) foram muito expressivos. No nosso segmento, nós trabalhamos com margens muito apertadas, estou imaginando que a maioria não terá condições de absorver esse aumento”, afirmou. “Quanto mais caro, mais difícil de vender.”
Segundo ele, o PIS/Cofins representa aproximadamente R$ 0,35 centavos por litro, mas o efeito do corte deverá ser de cerca de R$ 0,31 por litro, uma vez que o combustível vendido nas bombas recebe atualmente uma mistura de 12% de biodiesel.
“Isso anula aumento que a Petrobras está dando a partir de hoje. Mostra para os caminhoneiros que o governo está com boa vontade de tentar ajudar”, disse Miranda.
Interferências – O anúncio de Bolsonaro veio acompanhado de críticas ao presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, o que volta a reanimar temores sobre possíveis interferências políticas na administração da empresa, em momento em que a estatal estava avançada em processos para vender refinarias.
A presidente do Instituto Brasileiro do Petróleo (IBP), que representa as petroleiras, Clarissa Lins, preferiu não comentar as declarações do presidente, mas defendeu a liberdade do mercado para definir preços, em prol de um ambiente para a atração de investimentos de longo prazo. (Reuters)
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