Economia

Brasil pode despontar em hidrogênio verde com licitação na Europa

Brasil pode despontar em hidrogênio verde com licitação na Europa
Crédito: REUTERS/Sergio Perez

São Paulo – O lançamento oficial do primeiro leilão da Europa para compra de amônia verde em 2023 surge como uma oportunidade concreta para que o Brasil comece a viabilizar projetos de hidrogênio renovável, aproveitando a vantagem de possuir uma matriz elétrica menos poluente para despontar como ator de peso na transição energética mundial, afirmaram especialistas e empresas à Reuters.

O projeto europeu H2Global publicou, na semana passada, o edital de sua primeira licitação destinada à compra de amônia verde, que pode ser obtida por meio do hidrogênio produzido com energia renovável. Bastante aguardada, a iniciativa é a primeira no mundo a ganhar corpo e já estava no radar de grandes empresas de energia que estudam projetos da nova tecnologia no País, como AES Brasil e Engie.

O leilão vai comprar amônia verde a ser produzida fora dos países da União Europeia e da Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA, na sigla em inglês). Os contratos de compra terão prazo de dez anos, e as primeiras entregas do produto em portos da Alemanha, Holanda ou Bélgica estão planejadas para o final de 2024 ou início de 2025.

Ocorrerá uma espécie de “licitação dupla”: o H2Global negociará, em uma ponta, a compra da amônia verde com os produtores e, em outra, a venda para grandes consumidores. A diferença de preços esperada nessas negociações será bancada por recursos aportados pelo governo alemão no H2Global, no limite de 360 milhões de euros.

Como esses projetos devem exigir elevados investimentos, a expectativa é que empresas de diferentes elos da indústria –geração de energia, fornecimento de equipamentos de eletrólise, conversão em amônia e transporte– se juntem em consórcios para aproveitar suas expertises.

Do lado dos compradores, as principais candidatas são grandes indústrias que poderiam substituir pelo hidrogênio verde combustíveis fósseis hoje utilizados em seus processos produtivos.

Não há um volume específico a ser comprado, mas com base na referência de preço final da amônia –1.272 euros por tonelada–, o volume a ser entregue nos dez anos de contrato deve alcançar patamar superior a 230 mil toneladas, segundo cálculos de Nelson Siffert, diretor do Instituto ICT Resel.

Por ter condições favoráveis de geração de energia renovável,  o Brasil é candidato natural a ter projetos participantes da licitação.

Várias empresas vêm posicionando seus projetos do combustível renovável na costa, em portos como Pecém (CE) e Açu (RJ), mirando justamente o mercado de exportação. Uma das barreiras para deslanchar os projetos é a necessidade de garantir, primeiro, um comprador para o produto.

“É uma boa notícia, porque esses projetos demandam bastante investimento e precisam ser financiados… Quem ganhar a licitação vai ter um contrato de compra de longo prazo que ajuda muito na financiabilidade”, afirma Marcos Ludwig, sócio do Veirano Advogados e integrante do grupo temático sobre hidrogênio verde e da diretoria da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha (AHK) no Rio de Janeiro.

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