Economia

Brasil vai ganhar importância no mercado de games nos próximos anos

Brasil vai ganhar importância no mercado de games nos próximos anos
Divulgação

Não importa o estilo, o propósito e nem a plataforma onde rodam: os games em suas infinitas versões ganharam o mundo e se transformaram em um mercado bilionário, que não para de crescer. De acordo com o último levantamento da Newzoo – uma das principais fornecedores de jogos do mundo – há mais de 2,3 bilhões de jogadores ativos no mundo, dos quais 46% (1,1 bilhão) gastam dinheiro em games. Segundo a pesquisa, o mercado mundial de jogos digitais alcançará receita de US$ 137,9 bilhões em 2018.

O estudo da Newzoo mostra que o Brasil é o 13º país no ranking dos 20 maiores em receita com games. Na América Latina, o País é o segundo maior com previsão de US$ 1,5 bilhão de faturamento em 2018, perdendo apenas para o México, que deve chegar US$ 1,6 bilhão de receita este ano. De acordo com dados preliminares do 2º Censo da Indústria Brasileira de Jogos Digitais, realizado pela empresa Homo Ludens, o número de estúdios de desenvolvimento de games no Brasil passou de 142 para 375 nos últimos cinco anos.

Para discutir esse mercado em ascensão, o Consulado dos Estados Unidos no Brasil trouxe a Belo Horizonte o especialista em games e realidade virtual, John Williamson. Ele se reuniu com representantes do Governo Municipal e com empreendedores do setor que fazem parte do San Pedro Valley, comunidade de startups da Capital. Em entrevista ao DIÁRIO DO COMÉRCIO, Williamson, que é designer e produtor de games de plataformas como PS4 e Xbox 360, comentou o potencial do mercado de games no Brasil. Com base em sua experiência com produção de jogos para o governo dos EUA, ele também comentou as possibilidades do uso dos games para além do entretenimento.

Como você avalia o mercado de games no Brasil?

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O Brasil é um dos países que mais consomem games no mundo. E o País tem muito potencial por causa de sua população, que é uma das maiores do mundo. Acredito que nos próximos cinco anos o Brasil vai passar na frente de países como Itália e Portugal em relação ao faturamento com games. Como os brasileiros já fazem no futebol, eles também se destacarão na indústria de games.

Mas o Brasil tem mão de obra qualificada e infraestrutura para isso?

Sim, o Brasil está começando a ter pessoas qualificadas e as instituições estão treinando profissionais para isso. São mais de 300 estúdios de jogos no País e esse número deve crescer. A infraestrutura não chega a ser um grande problema porque todas as ferramentas que você precisa para aprender a fazer jogos são gratuitas e você não precisa de um computador tão potente para isso. Você pode usar um laptop simples e fazer downloads dos programas para fazer os modelos, as texturas e criar seu próprio jogo em casa.

Qual a grande tendência no mercado de games?

A tendência continua sendo games de celular porque esse é um aparelho que todo mundo tem. Além disso, as pessoas gastam mais tempo no celular do que em qualquer outra coisa. Também é uma plataforma mais fácil para a criação de jogos. O lado negativo disso é que é fácil para todos, então tem mais concorrência, apesar de menor risco. É claro que há outros bons mercados, mas eles têm custos mais altos. Se você quiser fazer um jogo caro, como o “Homem-Aranha” que acabou de ser lançado, você terá que investir centenas de milhões de dólares e assumir um risco maior. No caso de games de realidade virtual é mais fácil vender porque as pessoas que jogam esse tipo de game compram um número maior deles, mas, por outro lado, é um público menor. Então, tudo no mercado de games é uma questão de custo calculado.

As universidades terão que se reinventar para formar profissionais desse mercado?

Acredito que sim, as universidades precisam estar atentas e se adaptarem às novas ferramentas. Mas eu acredito que a formação nesse segmento é interessante porque vai muito além do desenvolvimento de games. Quando você se forma nessa área você aprende a contar histórias. E se você decidir não fazer jogos poderá contar histórias em outros lugares, seja trabalhando para uma empresa de engenharia ou para o governo.

Games são muito associados a entretenimento, mas eles podem ser úteis para outras finalidades? Como as empresas ou o governo podem se beneficiar deles?

Eu fazia jogos basicamente para entretenimento, mas agora eu faço jogos de simulação e treinamento. São para situações em que o treinamento real é caro e perigoso demais, então parte desse treinamento vai para o mundo virtual e o tempo que você tem que gastar no projeto real é significativamente reduzido. Eu faço jogos para treinamento de pilotos da Força Aérea, para controladores de trafego aéreo, para os profissionais de primeiros socorros. Então, os jogos podem ir muito além do entretenimento, mas, de qualquer forma, o game precisa continuar sendo desenvolvido de forma que gere engajamento nas pessoas. Da mesma forma que você se sente motivado a voltar e terminar aquele nível do joguinho “Candy Crush”, o game para treinamento tem que trazer alguns truques psicológicos para motivar as pessoas a voltarem.

Mas os games são úteis apenas para treinamento no mundo corporativo?

Há outras possibilidades para o futuro, como ajudar na seleção de pessoas. Hoje, as empresas aplicam testes para saber se as pessoas são capazes de executar o trabalho, mas e se elas pudessem ver como esse candidato faz uma pequena parte do trabalho por meio de uma plataforma de realidade virtual? Isso ajudaria a empresa a selecionar os melhores de forma prática e eficiente. Em vez de saber se o candidato é um bom piloto somente quando ele já está dentro de um avião decolando, ela pode submetê-lo a um teste de uma manobra, por exemplo, no espaço tridimensional.

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