Cinco anos após tragédia da Vale, Brumadinho busca vocação além da mineração
O rompimento da barragem da Vale, no dia 25 de janeiro de 2019, destruiu vidas, contaminou o meio ambiente e “forçou” Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), a projetar uma independência da mineração. Desde a tragédia se passaram exatos cinco anos e a economia do município, contudo, permanece dependente do setor mineral. Já o futuro é incerto.
Para alcançar a diversificação econômica, é preciso que a cidade fortaleça outros setores além da mineração. A diretora da Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos da Tragédia do Rompimento da Barragem Mina Córrego do Feijão (Avabrum), Alexandra Andrade, destaca que Brumadinho tem vocações agrícola, comercial e de serviços e um imenso potencial turístico.
O presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Brumadinho, Henrique Mendes, acredita que o comércio representa, sim, uma importante parte da futura economia municipal. Entretanto, ele crê que é de extrema importância para um futuro econômico sustentável e menos submisso ao minério a aplicação de investimentos no setor industrial, que ainda é inexpressiva.
O assessor de Comunicação da Prefeitura de Brumadinho, Décio Júnior, diz que a cidade não tem um nicho específico na pauta da descentralização econômica. Logo, está aberta a receber empresas de quaisquer áreas diferentes da mineração. Segundo ele, o turismo é forte na região, mas, sozinho, não é suficiente, o que torna necessário o fortalecimento dos demais segmentos.

Conforme o porta-voz do Executivo municipal, a atração de novos negócios não é algo fácil e requer investimentos em infraestrutura e logística para que os empresários tenham boas condições de instalação. Nesse sentido, ele afirma que a cidade já iniciou a pavimentação da estrada da Serra da Conquistinha, que faz a ligação direta de Brumadinho à rodovia Fernão Dias.
Com recursos próprios da prefeitura e da iniciativa privada, a estrada deve favorecer o escoamento dos produtos das empresas que estão no município e das que queiram se instalar ali. De acordo com Décio Júnior, serão oito quilômetros pavimentados, sendo que cinco deles já foram concluídos. A previsão é que a obra completa seja entregue na metade deste ano.
Falta de execução das ações de reparação aos danos da tragédia impede maiores avanços
Ainda que a melhoria na Serra da Conquistinha possa beneficiar Brumadinho, não será o bastante para que o município consiga, de fato, descentralizar a economia. Conforme o assessor de Comunicação, para diversificar as fontes de riqueza e depender menos das mineradoras, a cidade precisa da execução efetiva das ações de reparação aos danos causados pela tragédia, previstas no acordo entre o governo de Minas Gerais e Vale, homologado pela Justiça em fevereiro de 2021.
Prestes a completar três anos, o acordo não teve a participação dos familiares das vítimas nem do município, mesmo com pedido judicial, à época, reitera Décio Júnior. Ele também destaca que, dos R$ 37,68 bilhões a serem pagos pela mineradora ao Estado, apenas R$ 1,5 bilhão são para Brumadinho. Esse recurso, entretanto, não vai para os cofres municipais e, sim, para a realização de 33 projetos na cidade, definidos em consulta pública e de obrigação de fazer da Vale.

As diversas iniciativas incluem uma requalificação urbana, impactando de maneira positiva o município, visto que seria capaz de apresentar uma cidade atrativa aos investidores. No entanto, segundo o porta-voz da prefeitura, a Vale é lenta na elaboração dos projetos e dos orçamentos, bem como na execução das ações. Sendo assim, ele afirma que nada saiu do papel ainda.
Em nota, a Vale afirmou que segue comprometida com a reparação de Brumadinho. Conforme a mineradora, desde 2019, mais de 15,4 mil pessoas fecharam acordos de indenização cíveis e trabalhistas e, até o momento, 68% dos R$ 37,7 bilhões previstos no acordo foram executados. A empresa ainda se defendeu dizendo que, dos 33 projetos a serem realizados no município, 12 estão em execução, incluindo cinco obras que se encontram em fase de projeto de engenharia.
“Importante esclarecer que o faseamento e o fluxo dos projetos são aprovados pelos compromitentes e apoiados por parecer da auditoria externa independente da Fundação Getúlio Vargas. Todas as ações estão sendo implementadas observando a transparência, acesso à informação e competências das autoridades públicas”, reiterou a mineradora no comunicado.
Município assume responsabilidade de parte das obras
Para tentar agilizar parte das ações, Décio Júnior diz que o Executivo municipal assumiu, no ano passado, a responsabilidade de cinco projetos que eram de incumbência da Vale. São eles: construção de 260 casas populares; duplicação da estrada JK, no trecho que liga a entrada da cidade até Alberto Flores; melhoria da JK, de Alberto Flores a Casa Branca; melhoria da estrada de Córrego do Feijão a Casa Branca; e pavimentação da estrada de Brumadinho a Bonfim.
De acordo com o assessor de Comunicação, essas intervenções estão avaliadas em R$ 467 milhões e o dinheiro já foi depositado pela mineradora na conta do município. Conforme ele, de todas as ações que serão executadas diretamente pela prefeitura, somente a obra de pavimentação está em execução, enquanto os outros projetos constam na fase de elaboração.
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