Apesar de oportunidades, gargalos ameaçam projetos de mineração no Brasil

Os gargalos tradicionalmente enfrentados pelo setor produtivo, como o alto custo de produção e a burocracia, ameaçam os projetos da indústria extrativa no Brasil. O alerta é do estudo “Top 10 Riscos e Oportunidade para a Mineração, elaborado pela EY, empresa global de consultorias e auditorias.
A mineração vivencia um período de transformação no modelo de negócios para manter a competitividade em meio a entraves, como aumento de custos, esgotamentos de recursos e disputas geopolíticas. No Brasil, embora ainda pujante em recursos, entraves burocráticos, como a obtenção de financiamentos e aprovações necessárias, ameaçam os projetos do setor e reduzem as oportunidades.
De acordo com a EY, os pontos mais citados no Brasil foram custos e produtividade, esgotamento de recursos e reservas, além de circunstâncias geopolíticas.
Além disso, na comparação com o estudo realizado no ano passado, houve o acréscimo da preocupação com o esgotamento de recursos entre os principais temas. A preocupação reforça a necessidade de alavancar projetos, incluindo em mapeamento geológico no território nacional.
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De acordo com o líder de Energia e Recursos Naturais da EY, Afonso Sartorio, o Brasil possui atualmente 1/4 do território mapeado de forma adequada para a avaliação de novos projetos, enquanto em outros países mineradores o índice chega a metade. “Precisamos ampliar atenções para esta etapa, que muitas vezes é feita pelo governo, para identificarmos novas oportunidades de atuação”, pontua.
A necessidade vai de encontro a uma mudança de estratégia por parte das empresas, que estão revisando o portfólio de produtos para atenderem principalmente aos minerais de demanda crescente. Além do minério de ferro, o especialista cita outras commodities que vêm recebendo investimentos expressivos em volume, como ouro, níquel, lítio, manganês e bauxita.
Diferente de outros países, Sartório ressalta que o Brasil não está mais concentrado apenas em algumas commodities dada a uma maior diversidade de minerais na geografia local. “Temos visto investimentos em novos projetos de mineração e maior intenção de compras de operações que estão presentes no Brasil”.
Embora ainda exija um maior mapeamento geológico para novos projetos, o País leva vantagem por possuir depósitos menos esgotados do que algumas federações concorrentes. Segundo o especialista, no minério de ferro, teores observados na Austrália são inferiores aos do Pará e de Minas Gerais. Já no Chile, apesar das vastas reservas de cobre, as operações foram estruturadas para mineração em áreas muito processadas, o que exige maior investimento para ampliação da produção mineral.
Tempo de aprovações de projetos e falta de opções de financiamentos impactam setor
No entanto, o tempo de aprovação de projetos no País é aproximadamente 20% acima da média mundial, o que faz com que o Brasil leve em média três anos a mais para desenvolver um ativo minerário “O Brasil está relativamente melhor posicionado, contudo, exige um processo rigoroso para novas licenças, algo precisa ser feito de forma mais ágil. Se o minério não está disponível, os consumidores vão buscar em outras geografias e com isso perdemos inúmeras oportunidades”, reforça.
Além disso, o País ainda carece de diversidade de opções de financiamento se comparado a outros países, como Canadá, Chile e Austrália, o que faz com que investimentos brasileiros sejam feitos em grande maioria por empresas maiores ou por capitais internacionais. “Notamos que o governo está atento a isso, estruturando o BNDES com fundos focados em projetos de menor porte e esperamos que a medida seja bem-sucedida. Precisamos ampliar opções para que, principalmente empresas de pequeno porte, tenham mais fôlego para fazer primeira etapa da cadeia de mineração”.
Outro desafio apontado gira em torno das sanções impostas pelos Estados Unidos a produtos oriundos de indústrias de diferentes países. Recentemente, o presidente Donald Trump anunciou a cobrança de tarifas de 25% sobre as importações de aço e alumínio – cujo Brasil é o segundo maior fornecedor.
Para Sartório, o momento exige diálogo entre os governos, tendo em vista que os Estados Unidos não são autossuficientes e precisarão desses produtos para o avanço da infraestrutura no país. “O Brasil tem argumentos para negociar. 25% do aço e 50% do alumínio norte-americano é importado”, pontua.
Sustentabilidade é diferencial competitivo para avanços
Uma das principais oportunidades identificadas no Brasil com relação a outros países está concentrada em iniciativas de apelo sustentável. Projetos, como a reutilização de resíduos e rejeitos e uso de energia renovável são apontados como importantes diferenciais competitivos com alto potencial de se transformarem em linhas complementares de receita.
Dentre as iniciativas em destaque estão projetos de reutilização de rejeitos que tem produzido insumos para a indústria de construção a partir de materiais não utilizados. Além disso, indústrias, como de alumínio, têm conquistado um alto percentual de circularidade e já começam a lucrar com isso. “A indústria nacional está bastante ativa e tem soluções bem avançadas em pesquisa. Iniciativas sustentáveis, que antes eram um custo, agora passam a ser fonte de receita, além de resolverem problemas que impactariam licença de operação da empresa”, completa.
Para o futuro, a expectativa é de aumento de demanda por minerais e materiais, tanto para o avanço de países em desenvolvimento, quanto para a efetivação da transição energética ao redor do mundo. A prioridade a partir de agora, segundo Sartório é que as empresas desenvolvam a capacidade de enxergarem variações, novos fluxos comerciais e eventuais impactos em preços para se sobressaírem.
“A necessidade de minerais é muito grande, temos muitas reservas no mundo e precisamos de investimentos. É um mundo mais volátil em termos de preço e demanda e interpretar esses sinais e tomar decisões a partir daí é muito vantajoso”, conclui.
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