Cai a confiança dos empresários da indústria no Sudeste

O otimismo do empresário da indústria da região Sudeste reduziu em julho. O Índice de Confiança do empresário Industrial (Icei), calculado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostra que a queda da confiança na região foi o suficiente para que migrasse da confiança para a falta de confiança entre o mês passado e o atual. Além do Sudeste, industriais do Centro-Oeste e do Norte também se mostraram menos otimistas.
O indicador do Sudeste, de acordo com a pesquisa da CNI, caiu de 50,5 pontos para 49 e ficou abaixo da linha divisória de 50 pontos, que significa confiança. “É um combo de preocupação. A falta de confiança na própria economia brasileira e o aumento da volatilidade da taxa de câmbio podem ter afetado a confiança dos empresários do Sudeste. A região já vinha com índices baixos e, nesse momento de dólar alto, fez a transição para a não confiança. A indústria depende de insumos importados e a dificuldade de saber os custos gera esta incerteza”, avalia o gerente de Análise Econômica da CNI, Marcelo Azevedo.
De acordo com Azevedo, a região acompanhou um cenário que é praticamente todo o País, porém o Sudeste concentra a maioria das indústrias do Brasil e muitas estão ligadas ao mercado externo, seja por meio de exportações ou de importações.
Os dados da CNI mostram que nas regiões Centro-Oeste e Norte também houve recuo. O indicador no Centro-Oeste saiu de 53,4 pontos para 51,6. Já no Norte, o índice estava 55 em junho e passou para 53,4 pontos em julho. Já no Nordeste e no Sul, a confiança ficou estável, com 55,3 pontos e 47,9 pontos, respectivamente.
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Apesar da queda registrada neste mês, as empresas de grande e médio portes seguem confiantes, registrando índices de 51,6 e 50,6, nesta ordem. Porém, registraram queda de 0,9 ponto do índice de confiança. Já as pequenas empresas registraram falta de confiança ao apresentarem índice de 49,3; recuo de 0,4 ponto.
Ainda de acordo com a pesquisa, a confiança ainda caiu em 18 dos 29 setores da indústria pesquisados e em todos os portes de empresas industriais no mesmo período. Os setores menos confiantes foram:
- equipamentos de informática e eletrônicos (45,9);
- máquinas e equipamentos (46,06);
- produtos de material plástico (46,8) e
- metalurgia (47,3).
O setor de celulose e papel foi o único a fazer a transição da falta de confiança para a confiança. Nesse setor, o índice em junho era de 49,4 e passou para 51 em julho. Dessa forma, 18 setores da indústria mostraram confiança, enquanto 11 registraram falta dela.
Os setores mais confiantes foram:
- Farmoquímicos e farmacêuticos (57,3);
- Manutenção e reparação (57,3);
- Têxteis (53,7) e
- Móveis (53,5).
Cenário nacional e câmbio são fatores de preocupação para 20% do setor
Brasília – A elevada carga tributária segue como o principal problema enfrentado pelas empresas industriais. Mas existe outro fator que despertou a atenção da indústria recentemente e tem preocupado o setor: a taxa de câmbio. De acordo com os indicadores econômicos da pesquisa Sondagem Industrial, divulgada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), o percentual dos três principais problemas enfrentados no trimestre subiu de 5,6% para 19,6%, entre o primeiro e o segundo trimestres de 2024.
O economista Fernando Dantas diz que a taxa de câmbio se tornou uma preocupação para a indústria porque existem fatores que impactam diretamente nas operações e na competitividade. Entre os principais motivos, ele destaca a desvalorização da moeda local.

“Uma moeda desvalorizada pode aumentar os custos de produção, impactando a margem de lucros. Do ponto de vista da política monetária de investimentos, as flutuações cambiais impõem que as indústrias precisem de maior estabilidade para planejar investimentos de longo prazo. As flutuações das taxas de câmbio geram incertezas, dificultando a previsão de receitas e despesas futuras”, destaca.
Dantas também afirma que as empresas com dívidas e financiamentos em moedas estrangeiras são diretamente afetadas pela desvalorização da moeda local, aumentando os custos financeiros e o risco de inadimplência.
“A desvalorização da moeda, então, também pode gerar inflação importada, significando que os preços dos produtos importados e os serviços adquiridos no exterior podem diminuir o poder de compra do consumidor, têm impacto sobre a capacidade das indústrias de repassar esses custos e isso gera uma série de impactos sobre a capacidade da indústria de se manter competitiva, previsível e com preços estáveis”, ressalta.
Segundo o professor de Logística e Planejamento Estratégico do Centro Universitário Uniceplac e Mestre em Gestão Econômica do Meio Ambiente, Romilson Aiache, qualquer instabilidade em áreas que compõem formação de custos e de preços dificulta o planejamento empresarial e o desempenho da organização. “Pensando na oferta agregada, isso pode atrapalhar a produtividade e a competitividade dos nossos produtos”, ressalta. (Brasil 61)
Fragilidade da economia afeta a competitividade dos produtos
Brasília – Para o professor Romilson Aiache, a instabilidade econômica, além de causar desgaste ao País, afeta a produtividade e a competitividade dos produtos brasileiros.
“A taxa de câmbio é administrada pelo Bacen, que se mantém com postura independente do governo. Assim, a taxa de câmbio passa a ser uma resposta do mercado ao desempenho da economia. Nesse sentido, a reversão de um cenário desfavorável não é simples, pois depende de um conjunto de fatores econômicos e políticos, pois o mercado é sensível às medidas e atitudes governamentais”, alerta.
Na opinião do economista Fernando Dantas, o contexto de volatilidade da taxa de câmbio torna o cenário da indústria nacional desafiador, muito embora, segundo ele, o câmbio desvalorizado torne o produto brasileiro mais competitivo em nível global. Por outro lado, o especialista destaca que “os insumos estrangeiros consumidos para a produção desses produtos nacionais também se valorizam sobremaneira, o que torna esse planejamento da indústria bastante difícil. Realmente, é necessário que se empreenda esforços no sentido de dar maior previsibilidade e estabilidade para a taxa de câmbio, a fim de tornar os produtos brasileiros mais competitivos.
Melhoria do cenário
O doutor em economia Gustavo Galvão Paraíso acredita que a valorização do dólar é um fenômeno que decorre das altas taxas de juros pagas pelos títulos do Tesouro Americano.
“Esse é um fenômeno que independe da própria política monetária aplicada no Brasil e se estende por todas as moedas transacionadas e conversíveis. O que o Banco Central faz para poder gerenciar essa situação é ofertar moeda, realizar contratos de swap cambial e há certa limitação para esse tipo de política”, aponta.
Mas outras ações também poderiam controlar esse cenário de instabilidade. “Ajudaria também se o governo sinalizasse a responsabilidade com o equilíbrio fiscal e assim sinalizasse aos investidores estrangeiros que a estabilidade das expectativas gerará a segurança para o Brasil. Seus investimentos, o que trariam maior fluxo de recursos em moeda estrangeira, melhorando o perfil da taxa de câmbio no Brasil”, avalia. (Brasil 61)
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