Economia

Calor aumenta em 70% a demanda por ar-condicionado em BH e expõe falta de mão de obra

Prazo para instalação de ar-condicionado na capital mineira pode chegar a 30 dias
Calor aumenta em 70% a demanda por ar-condicionado em BH e expõe falta de mão de obra
Foto: Adobe Stock

O calor intenso em Belo Horizonte não elevou apenas as temperaturas, mas também a demanda por instaladores e mecânicos de ar-condicionado. Com um aumento de 70% na
procura por instalação e manutenção desses aparelhos em residências e lojas na capital
mineira, a falta de mão de obra qualificada se tornou um gargalo para o setor.

O aumento na procura pelos serviços se deve ao salto de até 60% nas vendas de ar-condicionado, resultando em longos prazos de espera para os consumidores.

Há 42 anos na região central de Belo Horizonte, a Total Ar tem registrado um aumento expressivo em vendas de ar-condicionado. Na loja, os produtos que têm maior saída são os modelos com capacidade de resfriamento em até 7 mil BTUs, ideais para espaços de 6 a 10 metros quadrados (m²) e os modelos de até 30 mil BTUs, recomendado para refrigerar ambientes de até 50 m².

“Neste ano, entre janeiro e fevereiro, as vendas aumentaram em 50% e a gente sempre orienta para que o consumidor não deixe para comprar o produto no verão, pois pode enfrentar a falta de instaladores no mercado”, alerta o gerente Paulo Franchini.

Serviço intenso para atender BH e região

O proprietário da JRS Ar-Condicionados, José Roberto, que atua desde 2017 como mecânico de ar-condicionado e refrigeração em Belo Horizonte, afirma que há uma demanda crescente pelo serviço. “Está extremamente difícil achar um instalador. É muita gente procurando e tenho que dispensar serviço porque não dá para atender a clientela”, lamenta.

O profissional tem atendido solicitações de instalação de clientes da Capital e cidades da Região Metropolitana, mas afirma que mantém a mesma equipe de trabalho de dias comuns, sem novas contratações.

“Talvez pelo fato de termos uma classificação boa no Google, muita gente de outras cidades nos procura. Estamos com mais de 50% de demanda e, para aqueles clientes que conseguem aguardar, a média é de 15 dias de espera. Já a instalação ocorre em um dia”, explica José Roberto.

Demanda por ar-condicionado cresce na capital mineira Foto: Frigelar/Divulgação

A mesma situação acontece com o técnico em instalação Lauro de Castro Alves, da Clima Peças. Segundo ele, a procura tem aumentado em 70% em comparação ao verão de 2024 e foi necessário contratar mais profissionais no mês passado para atender a demanda.

“Contratamos dois mecânicos para ajudar. Sabemos que é preciso mão-de-obra qualificada, mas sempre que anunciamos vaga, só aparece gente sem formação”, argumenta.

Espera para a instalação do ar-condicionado pode chegar a até 30 dias

No País, a indústria de ar-condicionado espera um crescimento de 15% na produção este ano.
O eletrodoméstico, agora visto como item de conforto e mais acessível que um celular, tem
demanda reprimida no mercado brasileiro

Com apenas 21% da população com ar-condicionado instalado, há grande potencial de crescimento, segundo previsão da Associação Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação e Aquecimento (Abrava).

O presidente do Departamento Nacional de Comércio e Distribuição da Abrava, Toríbio Rolon, afirma que, apesar da cultura de alto consumo energético, os aparelhos atuais consomem 70% menos energia que os modelos antigos, tornando-os mais eficientes e sustentáveis.

“O nosso setor depende muito do clima, principalmente pelo ar-condicionado split que está muito ligado ao calor, e outros produtos que estão mais aliados aos restaurantes, academias, comércios, que apresentam uma demanda especifica. Há ainda a realidade da crescente expansão do mercado imobiliário com apartamentos menores em que o ar-condicionado se torna um uso indispensável”, comenta.

Presidente do Departamento Nacional de Comércio e Distribuição, Toríbio Rolon | Crédito: Abrava/Divulgação

Belo Horizonte é o terceiro principal mercado do País

Toríbio Rolon afirma ainda que a capital mineira é o terceiro principal mercado consumidor de
ar-condicionado no País e que essa demanda por aqui é intensificada também em outras
regiões: “São Paulo possui uma vantagem nesse aspecto, pois acaba tendo as quatro
estações em um mesmo dia, aumentando a demanda”.

Para ele, Minas Gerais segue uma tendência das grandes cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, impulsionada pelo consumo de polos industriais, sedes e filiais.

“Muitas empresas passam por BH e este é um setor que consome bastante. Já o Norte de Minas, por exemplo, é uma região muito quente, então, é um mercado que se aproveita do calor da região. Por lá, há também uma concentração de indústrias do setor alimentício, o que favorece para a representatividade do Estado”, analisa.

Ainda na avaliação de Rolon, a curva de produção é maior que a curva de disponibilidade de mão de obra e esse cenário já é um desafio para o mercado.

“Não conseguimos formar tantos técnicos para atender a demanda. Vai ter uma média de espera de até 30 dias para instalar um ar-condicionado. O normal seria o prazo de uma semana, no máximo, mas existe, sim, uma falta muito grande de técnicos com agenda”, reconhece.

Formação profissional é a solução

Investir em um curso de Instalação e Manutenção de Ar Condicionado pode ser o caminho para quem deseja ingressar nessa área, o que, consequentemente, pode contribuir com o desafio enfrentado por esse setor.

Para o professor e especialista da Escola Técnica CPT, João Lopes, o profissional também conhecido como Técnico em Refrigeração e Climatização é responsável pela instalação, manutenção, avaliação e dimensionamento de projetos de climatização. Ele pode atuar tanto de forma individual ou prestando serviços para empresas.

“Nesse curso a gente fala bastante sobre conhecimentos em diferentes tipos de ar-condicionado, sistemas elétricos, mas também de habilidades. A gente entende que quem precisa trabalhar não pode perder muito tempo, então os cursos são bem rápidos e podem ser feitos em uma semana”, explica.

Com um aumento de 30% na procura pelo curso, Lopes ressalta que, apesar do pico de demanda ocorrer no verão, a necessidade por instalação de ar-condicionado se estende por todo o ano.

“A profissão oferece a flexibilidade de atuar como autônomo. E é uma área que tem muito serviço e paga-se bem”, conclui.

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