Economia

Carvão vegetal é alavanca para descarbonização da siderurgia

Minas Gerais é líder mundial na produção e consumo de carvão vegetal
Carvão vegetal é alavanca para descarbonização da siderurgia
Alex Ayala/Divulgação/Amif

Grandes emissoras de CO2, as produtoras de aço no Brasil têm a oportunidade de avançar nas metas de neutralização de carbono ao utilizar um produto produzido majoritariamente em Minas Gerais. Na avaliação do CEO da Aperam South América, Frederico Ayres, o carvão vegetal é uma das alavancas para a descarbonização da siderurgia nacional.

A empresa do executivo é um dos players do setor que produzem carvão vegetal, oriundo de florestas plantadas renováveis, e usa o produto como matéria-prima nas operações ao invés do coque, derivado do carvão mineral, um dos vilões da poluição da atmosfera.

A fabricação de carvão vegetal é feita pela Aperam no Vale do Jequitinhonha. A companhia tem capacidade de produzir 450 mil toneladas por ano, o que a torna a maior produtora global. O produto fabricado pela companhia é usado da usina de Timóteo, no Vale do Aço, reduzindo a pegada de carbono da operação, e também é vendido para outras indústrias.

Vale dizer que Minas Gerais é líder mundial na produção e consumo de carvão vegetal, proveniente de florestas plantadas. O Estado abriga a maior área de plantação do Brasil, com 2,3 milhões de hectares, o que representa cerca de 24% de toda a base florestal do País.

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A importância do carvão vegetal para o futuro do setor siderúrgico mineiro e brasileiro foi um dos temas debatidos no evento Forest Leaders Forum, promovido nesta terça-feira (4) pela Associação Mineira da Indústria Florestal (Amif), em Belo Horizonte.

Participaram do debate: o CEO da Aperam; a presidente da Aço Verde do Brasil (AVB), Silvia Nascimento; o CEO da ArcelorMittal Aços Longos Brasil, Everton Negresiolo; e o vice-presidente sênior da Vallourec América do Sul, André Lacerda – todos de empresas que possuem florestas plantadas e que adotaram a rota do carvão vegetal nas operações. O presidente da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), Paulo Hartung, mediou a discussão.

Produção de aço é viável com carvão vegetal

Assim como Ayres, Silvia Nascimento defende a utilização de carvão vegetal, oriundo de florestas plantadas, para o avanço da descarbonização do setor siderúrgico nacional. Ela ressalta que a AVB só produz através da rota do produto, e não utiliza combustível fóssil.

A executiva salienta que é viável usar carvão vegetal nas usinas siderúrgicas. Dados apresentados pela presidente mostram que a produção de uma tonelada de celulose consome mais madeira do que uma tonelada de aço. “Se a celulose consegue, a siderurgia também é capaz de produzir um volume significativo de aço através da rota florestal”, afirma.

Carvão vegetal é a tecnologia disponível no curto prazo

O carvão vegetal não é a única opção que a siderurgia tem para descarbonizar a produção de aço. Entretanto, as outras tecnologias são vistas como inviáveis no momento, o que faz com que o produto das florestas plantadas seja a principal alternativa por hora.

“Por enquanto, o que tem disponível de mais curto prazo é o carvão vegetal”, diz Lacerda. O executivo da Vallourec espera que os demais processos de descarbonização amadureçam e se tornem viáveis daqui a um tempo. Ele pontua que, hoje, a infraestrutura de gás natural é escassa e que os projetos de hidrogênio ainda estão se desenvolvendo.

O CEO da ArcelorMittal faz uma análise parecida. Para Negresiolo, não há uma tecnologia específica que a siderurgia vá utilizar no futuro para produzir aço verde. Ele afirma que assim como atualmente há usinas que usam carvão vegetal, coque e sucata, por exemplo, é possível a adoção de outras opções, como hidrogênio e captura de carbono. “Não tem bala de prata. É importante que o mundo estude todas essas tecnologias”, pontua.

Saída dos EUA do Acordo de Paris deve resultar em mudanças na agenda

Outro ponto debatido no evento da Amif foi o impacto que a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris pode causar na siderurgia. Os executivos acreditam que os movimentos da indústria em direção a uma produção mais sustentável não serão interrompidos, porém, a medida adotada por Donald Trump resultará em mudanças na agenda de descarbonização.

Para a presidente da AVB, os posicionamentos do republicano vão oferecer ao setor a chance de rediscutir metas, prazos e tecnologias. Conforme ela, está sendo colocado não só por países da Europa, mas pela sociedade como um todo, que as metas impostas anteriormente são “ultra-agressivas” e “extremamente difíceis de serem atingidas”.

“Apesar de todas as dificuldades que isso vai representar para o mundo, acredito que é uma oportunidade ímpar dessa provocação trazer à tona o que é factível, o que realmente vai acontecer, o que economicamente hoje o mundo consegue suportar”, diz Silvia Nascimento.

“Quando falamos de descarbonização, temos um alto custo com tecnologias, o que, em um momento de mercado difícil, se torna impraticável. Acho que, se o mundo for maduro o suficiente, eventualmente, vamos aproveitar para criar uma agenda mais saudável, mais realista e mais factível com o mundo que temos atualmente”, complementa.

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