Caso SVB não deve afetar Brasil, mas põe em risco reputação de startups

O colapso do Silicon Valley Bank (SVB), ou mais conhecido como o banco das startups, está provocando bastante tensão no mercado financeiro nos últimos dias. Essa é a segunda maior falência bancária da história dos Estados Unidos, sendo também a maior desde a crise de 2008.
O banco era extremamente importante para o setor de tecnologia, assim como também para o Vale do Silício, região situada no estado norte-americano da Califórnia. A instituição, também, concentrava grande parte dos valores de financiamento de investidores de startups.
Em número divulgado pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), cerca de 2,5 mil investidores tinham contas com a rede bancária. Para especialistas ouvidos pelo DIÁRIO DO COMÉRCIO, a falência do banco não reverbera no mercado brasileiro. No entanto, coloca em xeque a reputação das próprias startups.
Setor foi contaminado pela inflação americana
Para o professor de Economia do Ibmec BH Claudio Shikida, um dos principais efeitos momentâneos é o aumento da taxa de juros na economia americana, assim como nas ações. “Vejo que o banco central americano agiu rápido para amortizar os impactos. Não vejo que seja uma grande crise que deva mexer com o mercado como um todo. Na verdade, essa crise afeta, especificamente, o setor de startups”.
Para Shikida, antes mesmo da atual crise bancária, as startups já vinham percorrendo por processos de ajustes. Ele menciona, inclusive, a plataforma brasileira Nubank dentre os principais nomes que eram atrelados ao SVB. “Vejo que esse processo de ajuste é doloroso e que precisa fazer demissões. Mas, no bom sentido, esse processo ocorre para ser um negócio sustentável para evitar uma quebra”, pontua.
O conteúdo continua após o "Você pode gostar".
Leia mais: Nubank nomeia ex-executivo da Meta para o conselho
O economista e CFO da Somus Capital, empresa especializada em assessoria de investimentos, Luciano Feres, acredita que a referida crise é pontual. Ele entende que o fato ocorre diante de um momento em que os Estados Unidos perpassam por um período de juros altos. “Esse banco atuava com empresas que precisavam se autofinanciar com juros baixos. O fato de o país estar com uma inflação e juros altos acabou contaminando esse setor”, acredita.
O banco já vinha, desde o início do ano passado, sofrendo com a conjuntura americana. Dessa forma, investidores começaram a deixar a instituição com o receio de uma possível falência, que veio a se concretizar.
Ainda é cedo para mensurar impactos
“Ainda é prematuro afirmar, mas podemos ter empresas brasileiras que poderiam ter com esse banco relacionamentos de crédito e de investimentos até então. Se isso se confirmar, essas empresas e, consequentemente, seus clientes e o próprio negócio podem ser colocados à prova”, é o que avalia o CEO da Epar, player que oferece serviço de gestão financeira, Eduardo Luiz.
Ao lançar uma visão otimista, que seria das empresas brasileiras não terem negócios diretos com o SVB, o mercado e as empresas de tecnologias perdem muito. Eduardo Luiz afirma que, nesta situação, são levadas em consideração a credibilidade, a liquidez e principalmente a confiança e a segurança das startups.
“Quando alguns desses preceitos ficam prejudicados, há uma verdadeira corrida em busca de saques e retiradas, enquanto o banco que não tinha liquidez corrente, o dinheiro fica mais caro e mais difícil de ser acessado”, observa o CEO da Epar. “O mercado, ficando cético e inseguro, faz com que empresas, negócios e projetos tenham dificuldade de acesso ao crédito e rolagem, por exemplo, de dívidas”.
Ainda é cedo para considerar a chance de uma crise global, mas ela vem sendo descartada até o momento. Para o CEO da U4C, Túlio Iannini, a falência afeta somente pelo lado da confiabilidade.
“O mercado financeiro exige credibilidade. Esse problema, se não for muito bem interpretado, pode ser entendido de uma forma que não existe”, diz. Ele afirma que essa corrida entre as instituições financeiras fez resultar nesse colapso. “Isso ocorreu a tal ponto que não conseguisse se sustentar. Como o banco não tinha a condição de tirar todo o dinheiro de uma vez, a geração de boatos criou um alerta, gerando reação dos investidores. Isso desencadeia uma crise, gera desemprego e mexe com a economia”, aponta Túlio Iannini.
O que fazer antes de contratar uma startup ou fintech?
Com toda a insegurança gerada nos últimos dias e com a reputação das empresas de tecnologia colocadas à mesa, Túlio sugere uma saída para evitar contratempos. Em caso de insegurança para contratar um determinado serviço com as empresas desse setor, é importante que o site do Banco Central do Brasil seja acessado. “Por ele, as pessoas e empresas poderão conferir uma lista de empresas fintechs autorizadas”, afirmando que são empresas reconhecidas e de credibilidade para futuras negociações.
Ouça a rádio de Minas