Economia

Cbic reduz projeção de crescimento da construção civil para 1,3%

Minas foi o segundo estado com mais oportunidades de emprego criadas neste ano
Cbic reduz projeção de crescimento da construção civil para 1,3%
Alta taxa de juros, atualmente em 15%, tem ampliado o custo do crédito e se tornado o maior problema do setor. | Foto: Reprodução/Adobe Stock

Os impactos do ciclo prolongado da alta taxa de juros têm diminuído o ritmo da atividade da construção civil ao longo do ano, levando a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic) a revisar a projeção de crescimento para 2025. A entidade reduziu em um ponto percentual a projeção, passando de 2,3% para 1,3%.

As altas taxas, conforme explicado por representantes da entidade, têm ampliado o custo do crédito e se tornado o maior problema do setor desde o quarto trimestre de 2024. Para relembrar, a taxa de juros começou a aumentar em setembro de 2024, quando estava em 10,5%. Atualmente encontra-se 4,5 pontos percentuais maior (15%). Segundo a economista-chefe da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic), Ieda Vasconcelos, “esse fator contribuiu significativamente para a redução do nível de atividades”.

Conforme dados apresentados por ela em teleconferência na manhã desta segunda-feira (27), o Produto Interno Bruto (PIB) do setor recuou 0,6% no primeiro trimestre e 0,2% no segundo, na comparação com os períodos imediatamente anteriores. A produção de insumos típicos da construção ficou praticamente estável entre janeiro e agosto, registrando leve queda (-0,1%), enquanto o varejo de materiais registrou leve alta de 0,7%.

Menor dinamismo na construção

A economista também lembrou que, de acordo com a Sondagem da Indústria da Construção, realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), com o apoio da Cbic, o nível de atividade do setor, nos primeiros nove meses de 2025, alcançou uma média de 47,2 pontos, o que corresponde, na visão dos empresários, ao menor dinamismo desde 2020 (42,8 pontos).

No entanto, o presidente da entidade, Renato Correia, esclarece que o setor continuará registrando incremento em suas atividades. “A projeção de alta, revisada para 1,3% em 2025, não reflete o fim do ciclo de crescimento do setor. Este ano, devemos ter o terceiro ano consecutivo de crescimento do PIB da construção civil”, afirma Correia.

Conforme os dados apresentados, na avaliação semestral, o PIB da construção cresceu 1,8% nos primeiros seis meses deste ano, na comparação com igual período do ano anterior, e o setor opera 23% acima do nível registrado antes da pandemia, no final de 2019.

Outro indicador que demonstra que o patamar de atividades da construção continua elevado é a Utilização da Capacidade de Operação, ainda da Sondagem da Indústria da Construção, da CNI. “A média de 67% de janeiro a setembro/25 é apenas um ponto percentual abaixo da média alcançada no mesmo período de 2024, e é o mesmo patamar dos anos 2022 e 2023”, diz Ieda Vasconcelos.

A economista-chefe da Cbic esclarece ainda que, caso a projeção de 1,3% se confirme, é um índice que ela considera bastante positivo dado que a base de comparação do ano passado é um crescimento superior a 4% (4,3%) em relação a 2023.

Minas Gerais é o segundo estado que mais gerou emprego na construção

Com relação ao mercado de trabalho, a Cbic espera que o setor continue gerando novos empregos, porém, em um ritmo menor. De janeiro a agosto, a construção gerou 194,5 mil novos empregos formais no País, queda de 9,3% em relação ao mesmo período de 2024. “Mesmo considerando esse recuo, o setor continua criando novos empregos em todos os seus segmentos”, afirma a economista.

A construção de edifícios foi o segmento que liderou as contratações (74,9 mil novas vagas). Seguido de obras de infraestrutura (62.420 novas vagas) e de serviços especializados para construção (57.190 novas vagas).

Minas é vice-líder em contratações para obras de infraestrtura

As obras de infraestrutura foram o único segmento que registrou incremento com relação a 2024, alta de 18,8%. Enquanto de janeiro a agosto do ano passado foram contabilizadas 52.540 novas vagas, em igual período de 2025 foram 62.420 oportunidades.

Minas Gerais e São Paulo foram os dois estados do País que mais criaram novas oportunidades nos primeiros oito meses de 2025. Em Minas foram 19.810 novos postos no setor, enquanto em São Paulo foram 47 mil.

No Estado, o setor de serviços especializados para construção foi o que mais gerou vagas (8.245), seguido das obras de infraestrutura (6.598) e da construção de edifícios (4.967).

Quando avaliadas as cidades, Belo Horizonte foi a segunda que mais gerou emprego na construção civil. Destaque para o segmento de obras de infraestrutura, que foi responsável por 72% (6.996) dos novos empregos gerados no setor.

Renovação da mão de obra

Em todo o País, o número de trabalhadores com carteira assinada chegou a 3,05 milhões em agosto, próximo ao recorde histórico verificado em outubro de 2013. O salário médio de admissão da construção é R$ 2.462,70, valor 7,3% superior à média nacional. O custo da mão de obra tem sido, conforme destaca a economista da Cbic, outro problema conjuntural que contribui para a queda do desempenho da construção civil. “Na sondagem, os empresários destacaram a falta ou alto custo do trabalhador qualificado, como também do não qualificado.”

Os jovens de 18 a 29 anos representam metade das contratações, volume que o presidente da Cbic, Renato Correia, comemora. “O aumento contínuo das contratações entre 18 e 24 anos é uma excelente notícia. O jovem está vendo perspectivas e aquele momento em que não tínhamos jovens entrantes parece que ficou no passado”.

Setor deve manter crescimento em 2026

Para 2026, a entidade espera um crescimento maior que este ano. Sem precisar índices, que serão divulgados apenas em dezembro, a Cbic acredita que os programas criados pelo governo federal podem trazer alívio e favorecer as previsões de continuidade de crescimento.

As mudanças nas regras do financiamento imobiliário com recursos do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) podem ajudar a incrementar a atividade. A expectativa é que R$ 37 bilhões sejam injetados no crédito habitacional já no próximo ano.

Já o Reforma Casa Brasil disponibilizará um total de R$ 40 bilhões e facilitará o acesso ao crédito para reformas, ampliações e adequações de moradias. “O programa pode movimentar a cadeia produtiva do setor e incentivar o comércio varejista de materiais de construção”, comentou Ieda Vasconcelos.

Entre janeiro e agosto, o SBPE financiou R$ 97,1 bilhões em crédito imobiliário, queda de 18% em relação ao mesmo período de 2024 (R$ 118,5 bilhões). Do total, R$ 83,8 bilhões foram destinados à aquisição de imóveis, volume 7% inferior ao registrado no ano anterior (R$ 90,1 bilhões).

Já o financiamento para construção recuou 53%, passando de R$ 28,4 bilhões para R$ 13,3 bilhões no mesmo intervalo. “A retração reflete a captação líquida negativa da poupança, principal fonte de recursos do SBPE e que há cinco anos consecutivos vem perdendo recursos”, pontuou a economista-chefe da Cbic.

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