Cemig investe R$ 24,4 milhões em projeto de usinas híbridas

Grandes usinas hidrelétricas, torres altas em zonas afastadas e muitos cabos de energia. Essas são as imagens referências que a maioria das pessoas tem em mente ao ouvirem falar sobre o setor elétrico. Mas, em uma lógica de mundo descarbonizado e descentralizado, as formas de produção e distribuição de energia podem ir muito além desse padrão. Atenta ao assunto, a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) desenvolve projetos que aproveitam diferentes fontes de energia alternativa.
Um exemplo é o projeto de P&D “Veredas Sol e Lares”, que propõe a criação de uma usina híbrida com instalação de placas solares no reservatório da Pequena Central Hidrelétrica (PCH) Santa Marta, em Grão Mogol, no Norte de Minas.
A Cemig investiu R$ 24,4 milhões no projeto, que ainda conta com participação da Associação Estadual de Defesa Ambiental e Social (Aedas), da Efficientia, que é subsidiária integral da Cemig, da Axxiom, empresa do Grupo Cemig, e da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas). O Observatório dos Vales e do Semiárido Mineiro (UFVJM) e o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) também são parceiros no desenvolvimento do projeto.
De acordo com o gerente de Inovação Tecnológica e Alternativas Energéticas da Cemig, Frederico Bruno Ribas Soares, a usina ganha esse conceito de “híbrida” porque combina dois tipos de geração de energia em um mesmo empreendimento. No espelho d’água da usina serão instalados cerca de 7 mil painéis de células fotovoltaicas flutuantes com capacidade para produzir até 1,2 MW (megawatt). A energia que será produzida será suficiente para atender a demanda de 1.250 famílias de Grão Mogol e pode beneficiar de forma indireta 9 mil famílias de 21 municípios localizados próximo ao reservatório.
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O gerente explica que uma das principais vantagens de um projeto híbrido é o aproveitamento de uma única infraestrutura para dois tipos de usinas geradoras de energia. “Todo empreendimento energético exige um trabalho oneroso e demorado de preparação do terreno, requerimento de licenças, planejamento da infraestrutura elétrica, entre outros processos. Se você utiliza uma estrutura já existente como a da PCH para implantar uma usina fotovoltaica, não precisará passar por todo aquele processo inicial novamente”, explica.
Outra vantagem é a possibilidade de escolher a melhor fonte de energia para cada momento do dia. Isso porque o sol não é uma fonte constante de energia e, por isso, nem sempre haverá condições climáticas para a produção de energia fotovoltaica. “A possibilidade de escolher entre uma fonte e outra traz inteligência para o processo. Se a usina fotovoltaica está gerando muita energia por causa da incidência dos raios solares, então pode-se priorizar essa fonte. Já no período da noite ou em dias de pouca incidência solar, a prioridade passa a ser a hidrelétrica”, explica.
Soares também chama a atenção para o potencial da utilização das PCHs para o projeto de usina híbrida. Segundo eles, trata-se de usinas hidrelétricas de menor porte e que existem em grande quantidade em Minas Gerais. “Muitas delas são antigas e a possibilidade de aproveitá-las para a instalação de painéis fotovoltaicos é uma oportunidade. É a chance de recapacitar essas PCHs e trazê-las de volta para o sistema”, afirma
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Impacto social – Além do potencial de geração de energia alternativa, a usina híbrida construída na PCH Santa Marta, em Grão Mogol, também tem um forte impacto social, conforme explica Frederico Soares. Ele destaca que o local escolhido para abrigar o projeto-piloto é estratégico tanto por ser uma das regiões com maior incidência solar no País, mas também por ser uma região com Índice de Desenvolvimento Humano deficitário. Essa demanda do ponto de vista social pode ser atendida por meio do projeto da usina híbrida.
“Percebemos que tínhamos em mãos uma possibilidade de inovação social e passamos a nos perguntar: como esse empreendimento pode beneficiar a comunidade no entorno? Quais os benefícios para além da geração de energia? E é nisso que estamos trabalhando nesse momento”, explica. De acordo com o gerente, o primeiro grande benefício está associado à economia na conta de luz da população local. Isso porque a energia fotovoltaica gerada no espelho d’água da usina será compensada no sistema elétrico.
Além disso, a Cemig estuda a possibilidade de capacitação de mão de obra local para implantação do sistema fotovoltaico. A ideia, segundo Soares, é ensinar os interessados a instalarem as placas para que eles utilizem esse conhecimento em novos trabalhos e gerem receita com o serviço. Para se ter ideia do potencial desse mercado basta olhar para o número de brasileiros inseridos no segmento de geração distribuída criado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel): são 43 mil pessoas. E a estimativa da agência é que esse público cresça para 886 mil consumidores até 2024.
“Nosso objetivo é que a implantação do empreendimento tenha ampla participação da comunidade. Em vez de chegar ao local que já tem seu contexto e construir uma nova narrativa nós queremos interagir com a comunidade. Estamos olhando para a comunidade não como beneficiários de um sistema, mas como coautores desse projeto”, frisa.
Soares destaca que o modelo de Grão Mogol pode ajudar, inclusive, em uma reformulação das regras da tarifa social de energia elétrica. Hoje, essa tarifa é subsidiada, ou seja, todos os consumidores pagam para que outros tenham o benefício. O modelo da usina Santa Marta pode surgir como uma alternativa ao subsídio. “Em vez de todos pagarem a conta, a tarifa social pode ser bancada por um projeto como esse de usina híbrida”, diz.
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