Economia

Cemig está mapeando entre 15 e 20 novas localidades para receber microrredes

Tecnologia que garante autonomia energética para distritos e municípios será replicada a partir da experiência de Serra da Saudade; projeto-piloto entra em operação em junho
Cemig está mapeando entre 15 e 20 novas localidades para receber microrredes
Microrrede no município de Serra da Saudade. Foto: Divulgação Cemig

A Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) está mapeando entre 15 e 20 localidades no Estado para receberem microrredes autônomas. Essa estruturação é um desdobramento direto do projeto-piloto implantado na Serra da Saudade, menor município do País em número de habitantes, no Centro-Oeste mineiro, que, em junho, será o primeiro a operar com uma microrrede gerida por uma concessionária.

Esta forma inovadora de uso de microrredes está avançando em Minas Gerais e propicia o fornecimento de energia elétrica por meio de sistemas que funcionam independentemente da rede principal, com armazenamento em baterias, mantendo o abastecimento em regiões remotas ou de difícil atendimento em situações de falha.

De acordo com o gerente de Engenharia, Automação e Sistemas da Distribuição da Cemig, William Alves, a microrrede é um projeto que une inovação, sustentabilidade e compromisso social. “Estamos falando sobre atender melhor as regiões que, historicamente, têm dificuldades de acesso a um fornecimento elétrico de qualidade. Em vez de grandes obras com postes, cabos e transformadores, levamos uma solução mais limpa e inteligente, com geração solar e armazenamento em baterias”, explica.

Segundo levantamento da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que apoia tecnicamente a Cemig na iniciativa, possíveis localidades mapeadas apresentam cenários onde a adoção de microrredes pode ser mais vantajosa economicamente do que ampliar ou duplicar as redes tradicionais. A Cemig destaca que, além das localidades identificadas, novas áreas estão sendo analisadas com base em critérios técnicos e socioeconômicos. A prioridade são regiões que sofrem com fornecimento intermitente e onde a construção de infraestrutura convencional é inviável ou onerosa.

Serra da Saudade é um exemplo, é um modelo de um projeto-piloto que vai ser inaugurado agora no mês de junho e já estamos em fase final de instalação. Passaremos a fazer o comissionamento e, então até o final do mês, teremos esse sistema funcionando. Será o primeiro sistema no Brasil instalado e, a partir dele, nós já começaremos um estudo. Identificamos várias oportunidades no sistema da Cemig”, adianta Alves.

A escolha por microrredes se torna especialmente estratégica para a Cemig quando comparada aos investimentos necessários para melhorar o atendimento tradicional. Em muitas dessas localidades mapeadas, o custo para duplicar as redes, instalar novos alimentadores ou construir linhas de reforço superaria os R$ 30 milhões. Já a microrrede oferece um modelo mais enxuto, com instalação modular, menos impacto ambiental e manutenção simplificada, com aporte de até R$ 7 milhões.

Segundo o engenheiro de Ativos da Cemig, Henrique Parreiras, no custo estão incluídos instalação do sistema de baterias e a usina fotovoltaica, que vai ser utilizada para carregar as baterias. “O valor também custeia a instalação dos medidores inteligentes, que vão englobar 100% dos clientes urbanos de Serra da Saudade e o projeto de eficiência energética que vai trocar a iluminação nos prédios públicos como a escola municipal, a prefeitura e o centro de saúde municipal”, enumera.

O modelo já é utilizado em países como a China, mas ainda é considerado incipiente no contexto brasileiro. O que torna o tema ainda mais relevante é a possibilidade de expansão para comunidades inteiras que convivem com um fornecimento instável de energia por questões geográficas, ambientais ou logísticas.

Entenda o que é uma microrrede:

  • A microrrede é uma rede elétrica local e independente, capaz de gerar, armazenar e distribuir energia sem depender da rede convencional.
  • No caso de Serra da Saudade, a microrrede conta com uma usina fotovoltaica, que capta energia solar, e um banco de baterias, que armazena e redistribui a eletricidade conforme a demanda dos moradores.
  • Quando há falha no sistema convencional, como em casos de quedas de energia, a microrrede entra em operação de forma automática, mantendo a cidade abastecida.
  • Em Serra da Saudade, a previsão é de até 48 horas de autonomia com base no armazenamento atual, podendo variar conforme as condições de geração solar.

“É como se a cidade se desconectasse temporariamente da Cemig e passasse a operar com uma usina e baterias próprias. A grande diferença é que tudo isso é feito pela própria concessionária, com supervisão remota e controle integrado”, explica Wiliam Alves.

Conheça os diferenciais da tecnologia das microrredes da Cemig:

  • A microrrede ainda contribui com indicadores de qualidade do serviço, uma vez que o tempo de interrupção por cliente – conhecido no setor como DEC – tende a ser muito menor, já que o sistema local entra em operação imediatamente em caso de falha externa.
  • Outro diferencial é a versatilidade da tecnologia, que pode ser aplicada em pequenos distritos, comunidades rurais, áreas indígenas ou regiões de preservação ambiental.
  • Diferente de soluções urbanas, a microrrede não exige adensamento populacional para funcionar bem.
  • Em Serra da Saudade, por exemplo, vivem menos de 1 mil pessoas, o que torna o projeto um laboratório real para outras regiões semelhantes.

Ainda que o foco inicial esteja em comunidades pequenas, o modelo de microrredes pode ser adaptado para centros urbanos de maior porte. Em uma visita recente à China, técnicos da Cemig observaram cidades com mais de 200 mil habitantes divididas em microrredes integradas. Nesse cenário, as unidades funcionam de forma autônoma, mas conectadas entre si, o que permite maior resiliência e flexibilidade no sistema.

“A lógica é a mesma: se um trecho da rede principal cai, as microrredes mantêm o fornecimento funcionando. É uma arquitetura que oferece robustez e autonomia ao mesmo tempo”, destaca o gerente.

A experiência no município de Serra da Saudade e o mapeamento das novas localidades serão apresentados no Seminário Nacional de Distribuição de Energia Elétrica, que acontece entre os dias 27 e 30 de maio, no Expominas, em Belo Horizonte (SENDI 2025) em painéis voltados para soluções tecnológicas aplicadas à realidade brasileira. A expectativa da organização é que o tema gere forte interesse de outras concessionárias e especialistas do setor. Inclusive, o avanço das microrredes será um dos destaques do seminário.

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