Cenário é de cautela na bolsa de valores

A instabilidade política e o aumento da inflação e da taxa de juros impactaram o Ibovespa, principal índice de ações da bolsa de valores brasileira. Em agosto, foi registrada queda de 2,48% no índice, o que fez com que no acumulado do ano até o oitavo mês, a retração ficasse em 0,20%. Até julho, o Ibovespa apresentou alta de 2,34%.
Para os próximos meses, as estimativas são cautelosas e o desempenho da B3 pode ser afetado pela tendência de aumento da taxa de juros e também pelos cenários incertos em relação à política e a economia brasileira. Porém, os períodos de baixa são considerados oportunos para investir e diminuir o preço médio de compra, podendo gerar ganhos no futuro.
A analista da Terra Investimentos, Heloisa Sanchez, explica que, em agosto, o Ibovespa fechou em queda de 2,48%, aos 118.781 pontos, devido principalmente às tensões no cenário político e econômico. No acumulado dos oito primeiros meses de 2021 o Ibovespa finalizou com uma leve desvalorização de 0,20%.
“Ao longo do mês tivemos diversos assuntos que seguem indefinidos no mês de setembro, entre eles temos a reforma tributária com a questão da taxação dos dividendos; inflação elevada, sendo impulsionada principalmente pelo setor elétrico; Orçamento de 2022, que embora o Projeto de Lei Orçamentária Anual (Ploa) já tenha sido enviada, há diversas questões que podem vir a ser alteradas, como os precatórios, bolsa família e o fundo eleitoral. Outro ponto de destaque é a tensão entre os poderes causada pelo presidente Bolsonaro, que levanta ponto de atenção para as manifestações de 7 de setembro”.
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Com todas as incertezas, Heloisa destaca que para setembro será importante acompanhar todas as questões citadas e aguardar definições sobre os assuntos. Outro ponto importante a se observar é a reunião do Copom e a elevação da taxa Selic como tentativa de conter a inflação que segue em 8,99% no acumulado em 12 meses.
“Neste momento, o investidor deve ter cautela na renda variável, que pode apresentar ainda bastante oscilação neste mês, uma vez que ainda temos muitos assuntos que precisam ser resolvidos”.
Mesmo com a tendência de oscilações no Ibovespa, o momento também é considerado interessante para se investir em ações. Isto porque é possível adquirir papéis a preços mais baixos, o que pode gerar retorno futuro. Investimentos em renda fixa atrelados à inflação também podem ser uma opção interessante para os aportes.
“Vale lembrar que os momentos de queda do Ibovespa são sempre melhores para investir e diminuir o preço médio de compra, podendo se beneficiar com a valorização futura dos papéis. Enquanto que na renda fixa, ativos atrelados à inflação podem ser interessantes, visto que com o recente aumento de quase 50% na tarifa da conta de luz, o IPCA pode vir nos próximos meses acima do esperado”.

Reforma
O assessor de investimentos da iHUB, escritório credenciado XP, Diogo Santos, explica que além das questões políticas internas, como as incertezas da reforma trabalhista e comprometimento com o teto dos gastos públicos, a queda do Ibovespa também foi influenciada pelo aumento da taxa de juros.
“O aumento da taxa Selic é um fator que contribui para a queda da bolsa, uma vez que a Selic se eleva e pressiona a parcela de empresas da bolsa que possuem dívidas. Outro fator que contribui para a queda das ações devido à subida da taxa Selic é o fato de parte dos investidores migrarem para a renda fixa. No cenário internacional ainda existem preocupações com a variante Delta do Covid-19, além disso o crescimento da economia global dá sinal de que será abaixo das expectativas dos analistas. Todos estes fatores contribuíram para a queda da bolsa em agosto”.
Santos acredita que a tendência da bolsa para setembro é positiva, mas no percurso podem ocorrer algumas correções “Diante do cenário, o investidor precisa estar confortável com seu nível de risco para poder passar por esses momentos sem comprometer parte importante de seus investimentos”.
Em relação às opções para se investir, Santos explica que a Selic deve continuar a subir, portanto, os títulos pós-fixados ficam mais atraentes do que estavam no início do ano. “Além disso, continuo otimista com a bolsa. Com as quedas recentes, nós identificamos algumas oportunidades que, se observadas em um horizonte maior de tempo, podem trazer bons retornos aos acionistas. A XP destaca algumas ações potenciais como VIA, CVC, Even e 3R Petroleum”.
O proprietário da consultoria LDL 1000 Consultoria e Planejamento, Luiz David Lourenço explica que todos os problemas enfrentados fazem com que o consumo também seja menor, afetando as empresas do setor listadas na B3. A instabilidade vista no cenário econômico e político pode afetar inclusive o desempenho do Ibovespa em setembro.
“Toda hora que tem ruído político, o consumo interno se retrai, consequentemente, as empresas de varejo sofrem bastante, tanto que estão entre as que mais perderam valor no mês de agosto de 2021 e continuam perdendo valor ao longo do tempo e setembro deve repetir essa performance negativa”.
Lourenço explica que setembro se inicia ainda incerto, principalmente com as discussões acaloradas sobre o 7 de Setembro, sobre a CPI e também sobre a não votação e não aprovação da reforma tributária e a revisão de PIB.
“Então temos os preços das commodities caindo que são aço, minério e petróleo, o consumo interno por conta das brigas políticas e, ainda, mais um agravante agora que é a crise hídrica, além da pressão inflacionária com a subida dos juros. Com a taxa Selic subindo, consequentemente também arrefece um pouco o consumo interno. Mas, o mercado se mostra bastante otimista apostando em um índice de 140 mil a 150 mil até dezembro, caso não aconteça mais nenhum fato grave no âmbito político e econômico no País. Isso daria um crescimento na ordem de 25% na bolsa, o que não deixa de ser bom”.
Oscilações
Para o restante do ano, segundo Tiago Cespe, da Cespe Educação Financeira, a tendência é mais oscilações na bolsa. Apesar disso, o momento pode ser interessante para investimentos, desde que o investidor esteja bem orientado e atento ao risco.
“Para o mês de setembro assim como o restante do ano, notícias do campo político e fiscal devem continuar gerando volatilidade no mercado, principalmente com a proximidade da corrida eleitoral. O mercado ainda aguarda uma definição a respeito do tema precatórios, bolsa família e o respeito ao teto de gastos. É importante salientar que esses períodos de instabilidade surgem oportunidades para quem tem visão de longo prazo, contudo, continua sendo de extrema importância estar atento ao seu gerenciamento de risco. Saber qual o percentual da sua carteira deve ser alocada em ativos com maior volatilidade continua sendo primordial”, explicou Cespe.
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