[PUBLIEDITORIAL EM APROVAÇÃO] Santa Casa de Belo Horizonte abre estrutura dedicada ao atendimento de crianças e jovens com TEA
De “tímido” a “estranho”, as pessoas que sofrem do transtorno do espectro do autismo (TEA) sempre ouviram opiniões e julgamentos estigmatizantes sobre seu comportamento. A falta de conhecimento, o preconceito e a dificuldade de acesso ao sistema de saúde sempre fizeram e, ainda hoje, fazem com que, especialmente, crianças e adolescentes sofram com a incompreensão e a falta de tratamento para o autismo.
Atenta a esse público, a Santa Casa de Belo Horizonte (SCBH) inaugurou o Centro de Autismo, especializado no diagnóstico e tratamento do transtorno. Localizado no bairro Santa Efigênia, na região Leste, próximo ao Hospital de Alta Complexidade 100% SUS e ao São Lucas Hospital Particular e Convênios, o espaço tem 1.700 m² distribuídos em quatro andares.
Os pacientes de zero a 18 anos serão atendidos por uma equipe formada por neuropediatras, psicólogos, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, assistentes sociais, enfermeiros e, posteriormente, nutricionistas, psicopedagogos e fisioterapeutas.
Para a coordenadora do Centro de Autismo, Gabriella Tárcia, o que parece uma “epidemia de autismo” tem razões científicas e históricas. Dados do último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados em 2022, revelam que 2,4 milhões de brasileiros receberam diagnóstico de transtorno do espectro do autismo (TEA) por algum profissional de saúde.
“O autismo não é um transtorno para o qual com um só exame é possível fazer o diagnóstico. Existem vários estudos que mostram que, realmente, o número de autistas está aumentando. No Brasil, temos poucas pesquisas e, por isso, utilizamos os dados dos Estados Unidos. Eles revelam que uma a cada 31 crianças tem o transtorno. Antigamente, a relação era muito maior, de uma em cada 50. Então vemos um aumento, mas tivemos a questão da pandemia e agora um número maior de diagnósticos. Temos mais especialistas detectando isso melhor”, explica Gabriella Tárcia.
O investimento de R$ 7,5 milhões deu origem a um conjunto composto por:
- 13 consultórios;
- 2 salas de integração sensorial;
- 4 salas de teleconsulta;
- 1 sala de urgência.
A expectativa é que sejam realizados por ano:
- 960 diagnósticos;
- 60 mil terapias multidisciplinares de reabilitação;
- 500 atendimentos de crianças e adolescentes com tratamento de ponta.
Estrutura inédita da Santa Casa amplia diagnóstico e tratamento do autismo na Capital
Segundo o provedor da Santa Casa BH, Roberto Otto, essa é uma nova conquista para a população de Belo Horizonte e uma oportunidade de ampliar o debate sobre o autismo.
“É com muito orgulho que entregamos esse Centro de Autismo para a população de BH. Foi tudo muito bem pensado para trazer esse acolhimento necessário que muitas famílias não têm a oportunidade de proporcionar a um filho autista e agora terão 100% via SUS. Entre tantas iniciativas que a cidade já possui e que são importantes para que esse assunto chegue a mais lugares, esperamos contribuir também e fazer nossa parte nesse movimento coletivo por mais inclusão”, afirma Otto.
O tratamento do autismo na Santa Casa contará com estruturas especiais, como a sala sensorial doada pela empresa Spider, além de um andar inteiro que simula atividades do dia a dia. Batizado de Cidade do Amanhã, o espaço foi desenvolvido em parceria com a healthtech mineira Treinitec e conta com ambientes lúdicos e atrativos que visam favorecer o interesse da criança e do adolescente em interagir e executar de forma ativa as atividades propostas, proporcionando estimulação sensorial, movimentação ativa, comunicação e cognição.
A iniciativa contou com emenda parlamentar do senador Rodrigo Pacheco e apoio de empresas privadas. Para viabilizar o custo de manutenção mensal estimado em R$ 500 mil reais, a Santa Casa abriu uma página de doações, que pode ser acessada no site da instituição.
“Foram dois anos trabalhando para colocar o Centro de Autismo de pé. Sem a emenda parlamentar e a ajuda de parceiros da iniciativa privada não seria possível. O pagamento do SUS é insuficiente para construir e manter uma estrutura como essa, por isso, toda ajuda é bem-vinda, tanto de pessoas físicas como de empresas. Contribuir com a Santa Casa e, especialmente, com o Centro, é uma oportunidade de trabalhar com uma causa relevante para a sociedade atual e também para preparar o futuro. Ao longo da história, autistas foram excluídos do ambiente escolar e do mundo formal do trabalho. Contribuir para que esses pacientes tenham uma vida plena e autônoma é também ajudar a construir uma sociedade mais justa, que está envelhecendo rapidamente e já sofre com a escassez de mão de obra”, pontua a coordenadora.
Encaminhamento pelo SUS e apoio às famílias estruturam atendimento no novo Centro de Autismo
Os pacientes serão encaminhados pela Secretaria de Saúde de Belo Horizonte e todo o atendimento será 100% pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A orientação é que os pais procurem o posto de saúde. Verificada a necessidade, o médico fará o pedido para a Secretaria Municipal de Saúde. A central de regulação fará o encaminhamento para uma unidade do Programa Entrelaçar, do qual o Centro de Autismo faz parte. Então, nem todos que forem encaminhados pelo médico do posto irão para a Santa Casa.
O Entrelaçar tem o objetivo de fortalecer e ampliar o atendimento às pessoas com transtorno do espectro autista (TEA) na Capital, com foco principal no acompanhamento multiprofissional. Na Santa Casa serão oferecidas terapias individuais com uma hora de duração e também atividades em grupo.
A intenção de fazer um diagnóstico precoce e começar o tratamento do autismo na primeira infância tem relação com a neuroplasticidade infantil e a oportunidade de trabalhar junto às famílias e às escolas. Para isso, a equipe conta com acompanhantes terapêuticos, que são acadêmicos do curso de psicologia e que vão às casas das crianças para dar continuidade ao tratamento.
Ainda segundo a coordenadora, dentro do perfil de vulnerabilidade social atendido pela Santa Casa, as mães, costumeiramente sobrecarregadas pela múltipla jornada, merecem ser acompanhadas de perto. Boa parte delas é a única responsável pelo sustento do lar e tem pouco tempo para ficar com os filhos.
“Vamos capacitar e acolher os pais porque o autismo, muitas vezes, gera um contexto familiar adoecido. Então, além de tratar e reabilitar a criança, vamos fazer treinamento e capacitação para o contexto familiar. Não adianta um terapeuta ocupacional ficar três horas no ambulatório ensinando o menino a comer sozinho e, em casa, a mãe não permitir porque ele demora. Quem é protagonista do cuidado da criança não somos nós, são os pais. Estamos conversando com a Prefeitura para termos psicopedagogos que possam ir às escolas. Os profissionais da educação também precisam de capacitação, porque passam muito tempo com as crianças e, muitas vezes, são eles que alertam os pais sobre muitos problemas”, destaca a coordenadora do Centro de Autismo da Santa Casa.

Centro de Autismo nasce como chamado à corresponsabilidade de governos, empresas e sociedade
A inauguração do Centro de Autismo consolida uma virada de chave para Belo Horizonte. Ao unir capacidade técnica, inovação, políticas públicas e a participação da sociedade, a Santa Casa mostra que é possível construir respostas estruturantes para desafios complexos. O centro oferece diagnóstico, terapias e acolhimento, mas oferece também algo maior: a chance de redefinir o lugar da pessoa autista na cidade.
Para que esse avanço se mantenha vivo, será preciso que o poder público, as empresas e a comunidade sigam somando esforços. O compromisso assumido pela Santa Casa aponta o caminho. Agora, ampliar essa rede e garantir que mais crianças tenham oportunidades reais de desenvolvimento é uma tarefa coletiva. A criação do Centro de Autismo é um começo. Cabe a todos transformar esse começo em futuro.
Destaques do novo Centro de Autismo da Santa Casa BH
• Atendimento integral pelo SUS para crianças e jovens de zero a 18 anos;
• Diagnóstico especializado e terapias multidisciplinares;
• 1.700 m² dedicados ao cuidado, com consultórios, salas sensoriais e teleconsulta;
• Cidade do Amanhã: andar lúdico que simula atividades diárias e estimula autonomia;
• Encaminhamento regulado pela Prefeitura por meio do Programa Entrelaçar;
• Apoio às famílias, acompanhamento terapêutico em casa e articulação com escolas;
• Manutenção depende de parcerias e doações da sociedade;
• Doações pelo site: santacasabh.org.br/centrodeautismo.
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