Cerca de 250 empresas são fechadas por dia em Minas Gerais

Desinformação, pejotização e alta carga tributária são os principais motivos para os empresários mineiros encerrarem suas atividades, segundo especialistas ouvidos pelo Diário do Comércio. De janeiro a setembro deste ano, 66.501 empresas foram fechadas no Estado. O número é 46,55% a mais que as extinções do ano passado no mesmo período e equivale a cerca de 250 empresas encerradas por dia. Os dados são da Junta Comercial do Estado de Minas Gerais (Jucemg), órgão vinculado à Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico (Sede-MG) do Governo de Minas.
As empresas do setor de serviços são as que mais fecharam no período. Ao todo, 39,3 mil negócios da atividade foram extintos no Estado. Uma variação de 54,4% em relação a 2024, quando 25,4 mil empresas foram encerradas. O subsecretário de Liberdade Econômica e Empreendedorismo, Rodrigo Melo, diz que o setor de serviços é o melhor termômetro para medir o ambiente de negócios. Segundo ele, sempre que há uma melhoria ou uma piora nesse ambiente, o setor de serviços é o primeiro que sente, refletindo nos números.
Rodrigo Melo comenta que a facilidade dos processos atualmente também tem contribuindo para empresas que estavam com o Cadastro Nacional Pessoa Jurídica (CNPJ) inativo, porém abertos, cessem suas atividades. “No Brasil era muito difícil fechar uma empresa. Eram raros os empresários que fechavam a empresa de maneira correta e elas acabavam ficando abertas, gerando ônus para o empreendedor. A simplificação dos processos tem trazido este resultado”, explica.
Para a professora de ciências contábeis da Estácio BH, Rosemary Torres, que além da academia atua em consultoria de empresas há mais de 30 anos, o fenômeno da pejotização é outro motivo que contribui para esses números, sobretudo no setor de serviços.
“A pessoa abre a empresa na tentativa de realizar um sonho, na vontade de ter uma nova fonte de renda ou mais possibilidades de crescimento, mas não dando certo acaba fechando em seguida. A desburocratização contribui muito para isso. Já que abrir e fechar empresa ficou muito mais fácil”, observa.
Outro motivo que ela pontua é o desconhecimento do negócio e a alta carga tributária. “Muitas empresas são abertas por pessoas leigas. Mesmo tendo orientação técnica, arriscam, e quando chegam os impostos assustam e não conseguem arcar com os gastos. Muitas vezes, por falta de informação, não conseguem gerir seus negócios por falta de conhecimento de fluxo de caixa, capital de giro entre outras questões”, ressalta.
O professor associado da Fundação Dom Cabral, Eduardo Menicucci, alega que as empresas fecham por inúmeras razões. “Eu diria que a principal delas é financeira. Muitas vezes o empreendedor tem uma boa ideia, mas não se prepara adequadamente. E não necessariamente fecha com dívidas, mas por não gerar o resultado esperado”, completa.
Todas as regiões do Estado apresentaram alta no número de empresas que encerraram suas atividades. Destaque para a região Noroeste que apresentou a maior variação: 133% em relação ao acumulado do ano passado. O Sul de Minas vem logo atrás com aumento de 72% no número de empresas encerradas até setembro.
Quando analisados os números por municípios, Belo Horizonte teve o maior número de empresas extintas no período (14.683), enquanto Ribeirão das Neves (108%) e Contagem (70%) apresentaram a maior variação em relação ao acumulado do ano passado. Em Ribeirão das Neves foram 415 empresas encerradas a mais que em 2024, enquanto que em Contagem, foram 510, também a mais.
Estado aproxima de nova marca histórica
Por outro lado, foram abertas no Estado, 87.913 empresas, número que representa um crescimento de 17,95% em relação ao ano anterior. O valor é equivalente a mais de 300 novos negócios por dia. A meta do governo é a abertura de 100 mil empresas, o que, se conquistado, seria um recorde e o resultado avança ainda mais para esse objetivo. Só em setembro, foram 9.255 empresas criadas no Estado, alta de 7,45% em relação ao mesmo mês em 2024.
O subsecretário de Liberdade Econômica e Empreendedorismo, Rodrigo Melo, entre outros motivos atribui o crescimento à desburocratização. “O número de empresas abertas vem crescendo ano a ano. Isso se justifica pelo ambiente de negócios simplificado e ágil que estamos construindo no Estado”, comenta.
O professor associado da Fundação Dom Cabral, Eduardo Menicucci, diz que prefere analisar os dados de forma líquida, ou seja, analisando a diferença entre as aberturas e os encerramentos, o que, nesse caso, é positivo para as aberturas. Para ele, os incentivos, jurídicos e processuais implementados pelos governos são também as principais razões para esse sucesso. “É um fluxo normal, o valor líquido está próximo de 20 mil novas empresas, o que é fantástico”, comemora.
Da mesma forma, a professora Rosemary Torres, também atribui o crescimento à simplificação dos processos de abertura e acrescenta o aumento da vontade das pessoas em terem uma nova fonte de renda e mais possibilidades de crescimento. “As pessoas estão mais ousadas e se arriscando mais a trabalhar por conta própria. Muitas vezes, atrás, inclusive, da realização de um sonho”, diz.
O movimento da “pejotização” é, para a professora da Estácio BH, outro motivo que contribui com a alta da abertura das empresas, sobretudo no setor de serviços. Conforme os números da Jucemg, o setor foi responsável por 65.377 novas empresas este ano, uma alta de 20,64% em relação ao mesmo período de 2024, quando 54.193 novos negócios nesta área foram abertos. “Muitas empresas estão contratando por CNPJ e isso também contribui para este aumento”, completa.
Nesse sentido, o subsecretário Rodrigo Melo destaca o setor de turismo. “É um setor que o governo tem trabalhado de maneira muita estratégica e que tem dado grandes resultados”, diz.
Quando analisados os municípios, Belo Horizonte foi a cidade que mais abriu empresas de janeiro a setembro, registrando alta de 7,94% ao abrir 21.495 novos negócios, antes os 19.913 do ano anterior. Uberlândia (5.070) se configura como a segunda cidade com mais empresas abertas e Contagem na terceira posição (2.984). Nesses casos, o professor associado da Fundação Dom Cabral, alega que as três cidades possuem um histórico bastante positivo de incentivar o empreendedorismo em diversas áreas e segmentos. “Isso acaba criando um ciclo virtuoso, onde as cadeias empresariais se complementam”, destaca.
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