Cesta básica em BH atinge menor valor em 13 meses, puxada pelo ‘prato brasileiro’
O preço da cesta básica recuou 2,14% em novembro em Belo Horizonte, passando a custar R$ 730,55. Além de atípico para o mês, o resultado é o menor em 13 meses e foi impulsionado por itens essenciais do “prato brasileiro”, como feijão carioquinha, arroz e tomate, que registraram quedas expressivas.
Os dados são do Instituto de Pesquisas Econômicas, Administrativas e Contábeis de Minas Gerais (Ipead/UFMG). No acumulado de 12 meses, também houve queda de 3,1% na capital mineira, refletindo um arrefecimento gradual das pressões da inflação sobre os alimentos.
Em novembro, 11 dos 13 produtos analisados registraram queda, com destaque para:
- feijão carioquinha (-14,18%)
- arroz (-8,58%)
- tomate (-6,04%)
No recorte sobre a importância relativa de cada produto, a banana-caturra (-5,11%) também teve uma queda expressiva.
Já o óleo de soja e chã de dentro encerraram o mês em alta, de 8,52% e 1,27% respectivamente. No acumulado do ano, o café segue como a maior variação positiva, pressionando os preços dos alimentos com alta acumulada de 33,25%, embora tenha recuado 4,08% em novembro.
De acordo com o gerente de pesquisa do Ipead, Eduardo Antunes, a queda observada é expressiva para o mês de novembro, já que normalmente os preços costumam aumentar com a chegada do fim do ano. “A boa notícia foi a grande quantidade de produtos que recuaram ao mesmo tempo, especialmente por se tratar de itens essenciais do prato do brasileiro, que começa com feijão e arroz”, comenta.
No entanto, a persistência de elevações em alguns produtos como o café moído, chama atenção. “Os preços, neste ano, não subiram tanto quanto no ano passado, mas ainda há alguns reflexos e muitos itens seguem acima do patamar historicamente praticado. É uma boa notícia, mas com algumas ressalvas”, completa Antunes.
Outro destaque no mês é o preço da cesta básica sobre o salário da população em Belo Horizonte. Em novembro, o item representa 48,13% do valor do salário mínimo, índice que chegou a 58,7% em dezembro de 2022 e a 53,39% no ano passado, o que indica ganho no poder de compra em relação à cesta básica na comparação interanual.
Apesar do crescimento em novembro, a expectativa é de um novo aumento no próximo mês em função da sazonalidade. “Como muitos produtos caíram agora, é possível que haja algum reajuste, mas uma nova queda também não seria surpreendente”, avalia Antunes.
Desinflação é incompleta: preços ainda não são compatíveis com renda familiar
A redução percentual do custo da cesta básica frente ao salário mínimo pode refletir uma recomposição parcial do poder de compra do cidadão de Belo Horizonte. O economista, consultor e conselheiro de política econômica, Stefan D’Amato, relata que o consumo de uma menor parcela do salário mínimo que em anos anteriores mostra que há um ganho relativo, ainda que insuficiente, para eliminar a perda acumulada desde o fim da pandemia de Covid-19.
Mesmo com a redução observada, o economista considera que a dinâmica interna da cesta reflete desequilíbrios relevantes, como produtos que ainda operam em níveis historicamente elevados, por motivos, como altos custos de produção, desafios em safras e logística.
“Isso mostra que a desinflação dos alimentos é incompleta. Ela ocorre de forma desigual entre os produtos e não permite, por enquanto, afirmar que os preços tenham retornado a um patamar compatível com a trajetória de renda das famílias”, argumenta.
Segundo o economista, o equilíbrio entre renda e custo de vida segue frágil. Mesmo com a queda momentânea no preço da cesta básica em Belo Horizonte, as famílias ainda convivem com orçamentos apertados em outras frentes, como energia, serviços e habitação.
Para o futuro, o ponto decisivo deve se concentrar na capacidade de manter a desaceleração dos alimentos ao longo dos meses. “Somente assim será possível criar um ambiente em que a recomposição do poder de compra se torne mais permanente”, conclui D’Amato.
Ouça a rádio de Minas