Economia chinesa: crescimento abaixo do esperado não deve impactar MG no curto prazo

A economia chinesa cresceu abaixo do esperado no segundo trimestre de 2024 e deixou o mundo em estado de atenção. Sendo a China o principal parceiro comercial de Minas Gerais, a notícia também acendeu um sinal de alerta no Estado e especialistas ouvidos pelo Diário do Comércio divergem quanto ao tamanho dos impactos na economia mineira.
Apesar do crescimento de 4,7% no período de abril a junho na economia chinesa, o resultado indica o ritmo mais lento desde o primeiro trimestre de 2023 e abaixo das expectativas dos analistas, que era de alta de 5,1%. Na avaliação do pesquisador da Fundação João Pinheiro (FJP), Lúcio Barbosa, apesar da diminuição do compasso, a China ainda cresce muito, com índices próximos aos 5%.
“São taxas ainda fortes, que não devem ter um impacto maior na economia brasileira ou mineira, se continuarem neste ritmo de desaceleração. Se tivesse uma queda abrupta, talvez teria”, diz.
A mesma visão tem o consultor de Negócios Internacionais da Federação das indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Alexandre Brito. Ele argumenta que a taxa chinesa ainda é muito relevante e o crescimento de 4,7%, em termos absolutos, é quase 50% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro.
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“Precisamos ter cuidado para não extrapolar uma análise de curto prazo, puramente quantitativa, para um quadro estrutural em que se projeta que a China vá entrar em crise, ou afetar alguma economia de forma mais dura. Acho perigoso fazer este tipo de ligação. É preciso ter atenção, para ver se os indicadores melhoram, mas o resultado final anual ainda pode ser o esperado”, avalia.
Ele analisa que o que se tem chamado de desaceleração ou queda na cadência da economia, sejam oscilações normais de índices econômicos. Prova disso, na opinião do economista, são os resultados positivos da balança comercial de Minas Gerais, que tem a China como maior parceiro comercial.
De acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), no primeiro semestre do ano, as exportações de Minas Gerais somaram US$ 20,7 bilhões e cresceram 4,3%. Já as importações retraíram 2,8% ao negociar cerca de US$ 7,5 bilhões, na comparação com o mesmo período de 2023. Com isso, o Estado registrou novo recorde no saldo comercial de US$ 13,2 bilhões, para os primeiros seis meses do ano. Em junho de 2024, o superávit foi de US$ 2,1 bilhões, com as exportações alcançando US$3,4 bilhões e as importações US$1,3 bilhões.
Os principais destinos das exportações de Minas Gerais nos primeiros seis meses do ano foram a China, com participação de 41,5% no valor total (US$ 8,65 bilhões), e os Estados Unidos, em segundo lugar, com 7,7% (US$ 1,94 bilhão). Os dois países também foram as principais origens das importações, com participação de 26,5% (US$ 1,99 bilhão) e 12,9% (US$ 0,97 bilhão), respectivamente.
Se comparados os primeiros semestres, Minas Gerais exportou mais para a China em 2024 do que em 2023. Enquanto o Estado negociou o equivalente a US$ 8,65 bilhões nos primeiros seis meses deste ano com o país asiático, no exercício passado foram US$ 7,86 bilhões.
China pode estar vivendo o “peak China”?
Na opinião de Lúcio Barbosa, o que está acontecendo é reflexo da mudança dos drivers do crescimento chinês. “A economia chinesa se baseou por muito tempo na infraestrutura e no setor mobiliário, nas construções de ativos fixos como pontes e casas. E, há alguns anos, o país discute essa mudança como forma de desinflar a bolha que se formou no setor, daí uma repercussão disso é a desaceleração do crescimento chinês, o que não é novidade, já que tem acontecido há alguns anos”, analisa.
Entretanto, para o professor da Fundação Dom Cabral (FDC) e colunista do Diário do Comércio, Paulo Vicente, não só a desaceleração é motivo de alerta; há outros. “É preciso estarmos atentos no encolhimento demográfico da China e na crescente animosidade com os países vizinhos. A China está cada vez mais agressiva em relação às Filipinas e a Taiwan. Mas, também tem disputas territoriais com Japão, Vietnã, Malásia e Brunei”, diz o professor.
O encolhimento demográfico impacta em outro problema citado pelo pesquisador da FJP, Lúcio Barbosa, que é o consumo interno. “A China tem tentado estimular o consumo das famílias chinesas para ser um novo motor de crescimento da economia. Evitando que ele seja puxado apenas pelos investimentos, e estimulando o crescimento também pelo consumo”, explica.
Na avaliação de Paulo Vicente, a economia chinesa atingiu o que se chama de “peak China”, ou seja, o fenômeno de crescer cada vez mais devagar daqui para frente. E, para ele, Minas Gerais deverá sofrer impacto com a redução da demanda por minério de ferro e no agronegócio. “Isto deve levar os preços das mercadorias ligadas a estes setores a ficarem baixos por muito tempo”, alerta.
Por fim, o professor sugere que as economias dependentes do mercado chinês busquem alternativas. “É preciso buscar novos parceiros comerciais que ainda tenham potencial de crescimento”, conclui.
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