Cinema, concursos e karaokê: bares de BH apostam em experiências alternativas para atrair a geração Z

Mais do que sentar à mesa para beber e conversar, jovens da geração Z têm buscado bares que entregam experiências com propósito, personalidade e interação. E, na onda desse comportamento, casas de Belo Horizonte como Quinteiro, Mascate, Pirex e Chika têm apostado em programações temáticas, eventos culturais e formatos alternativos para atrair um público que valoriza identidade e engajamento.
Esse é o caso do bar Quinteiro, localizado no Floresta, região centro-sul de Belo Horizonte. Nele, as noites de quarta-feira são reservadas ao “Cinema com Buteco”, que exibe clássicos de vários gêneros para os fãs de longa-metragens e de cervejas geladas. Em alguns dias, há até pratos relacionados a filmes, como o bolo de chocolate do filme infantil “Matilda”. Já aos sábados, o espaço recebe o Wig Brunch, com apresentações de drag queens e cardápio de brunch. Além disso, uma vez por mês, o bar realiza a Mariconight, festa voltada ao público LGBTQIAP+, com direito a bingo recreativo.
Segundo o proprietário André Calixto, essa abordagem atende a uma demanda clara da nova geração. “A geração Z tem buscado experiências que façam sentido, que tenham identidade, e isso exige que a gente vá além da ideia tradicional de ‘ir ao bar’. Não se trata só de entreter, mas de construir encontros com propósito”, afirma. Para ele, os dias temáticos têm gerado não apenas aumento de público, mas também fortalecimento da identidade do Quinteiro como “um espaço de encontros significativos”.
Outro bar que aposta na autenticidade é a Mascate Runeria, também no Floresta. A agenda inclui o tradicional “Forró de Terça”, com entrada entre R$ 15 e R$ 22, e o “Karaokê com Banda” às quartas-feiras, no qual os participantes podem cantar com banda ao vivo mediante o pagamento de R$ 5 aos músicos. “Foi pensado por uma questão de dias fracos, mas também como uma forma de se destacar. O karaokê com banda foi uma aposta de inovação, para trazer protagonismo ao público e gerar engajamento”, comenta Matheus Cardoso, sócio da casa.
Assim como no caso do Quinteiro, Matheus aponta que na Mascate os resultados têm sido expressivos. “No início foi difícil, mas hoje temos excelente retorno tanto financeiro quanto de posicionamento da marca. A quarta-feira, por exemplo, se tornou um dos dias mais diversos da casa, com público que vai de 18 a 60 anos.” A Mascate já planeja a criação de um novo evento para as quintas-feiras, com foco em interatividade.
Identidade forte é o segredo
Com uma pegada contemporânea e mineira, o empresário Vitor Velloso também é responsável por trazer novas abordagens para os bares de Belo Horizonte. Sócio dos bares Pirex e Chika JP, e de restaurantes, como Pacato e O Boêmio, o empresário acredita que o segredo para atrair o público – não só da geração Z – é a construção de marca. “Independentemente da tendência geracional, para nós essa profundidade na proposta é uma questão de diferenciação, essencial numa cidade com quase 10 mil bares e restaurantes”, avalia.
O Pirex, localizado no centro da capital, por exemplo, promoveu o “1º Campeonato de Foto de Ipê”, valorizando a florada típica de Belo Horizonte. Já o Chika JP é um bar de coquetelaria com inspiração no Japão dos anos 1980, cuja entrada exige agendamento via Instagram — o endereço só é revelado após confirmação da reserva. “Não basta ser gostoso, tem que ter personalidade. Felizmente, isso casa totalmente com o que acreditamos e fazemos”, afirma Vitor.
Ele ressalta que a programação especial, como o Samba do Pirex, tem o poder de triplicar o público da casa. “Em eventos como esse, a dinâmica do funcionamento muda completamente. Mais rotatividade, consumo em pé, clima de festa.”
Mesmo com o sucesso dos eventos, Vitor destaca que eles não devem ser o único atrativo. “A casa precisa ter atratividade por si só. Se a proposta base não for consistente, não adianta temperar com eventos.”
Mudança de comportamento não é somente da geração Z
Para José Eduardo Camargo, líder de Conteúdo e Inteligência da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), esse movimento não é novo, mas vem se consolidando com a geração mais jovem. “Essa tendência já vem de algum tempo e não é exclusiva da geração Z, mas ela preza muito por esse hábito de consumo. Uma tendência muito forte de buscar experiências que promovam o bem-estar.”
Camargo afirma ainda que o comportamento do consumidor e a digitalização facilitaram a adaptação dos estabelecimentos. “O que a gente vê é que o mundo todo está atento a esse tipo de mudança de consumo. Hoje em dia, está mais fácil esses estabelecimentos fazerem essa mudança de abordagem por causa da rede digital. Todo mundo dá uma opinião nas redes sociais das empresas e elas tendem a ter dados e sugestões para se adaptar.”
Segundo ele, o fator de diferenciação está no propósito. “É uma geração que consome muito produtos que possuem autenticidade, história e propósito alinhado ao dela”.
Ouça a rádio de Minas