Cledorvino Belini: novo presidente vai manter debate de temas importantes na ACMinas

O administrador Cledorvino Belini já ocupou a presidência de empresas, como a Fiat Chrysler na América Latina e a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), além de entidades, como a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). No biênio 2025-2026, ele assumirá uma nova presidência: a da Associação Comercial e Empresarial de Minas (ACMinas), sendo o 42º a ocupar o cargo na entidade, fundada em 1901.
Belini, que atualmente ocupa o cargo de vice-presidente da associação, fez um balanço positivo da gestão atual e pretende dar continuidade aos projetos lançados, que abordam temas como as reformas administrativa e tributária.
Formado em administração de empresas pela Universidade Mackenzie, ele também destacou a importância do planejamento de longo prazo para empresas, entidades e o País. O executivo ressaltou o trabalho desenvolvido ao longo dos anos pela ACMinas em busca da promoção do desenvolvimento econômico e social, além de analisar os avanços e desafios para Minas Gerais e o Brasil.
Como surgiu o convite para participar da chapa para disputar a presidência da ACMinas?
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Foi uma chapa única. O convite surgiu dos próprios colegas vice-presidentes, já que eu sou vice-presidente, que discutiram, apresentaram essa alternativa para o Conselho Superior, que é formado pelos ex-presidentes. E o Conselho Superior deu apoio para seguir em frente. Porém, poderiam ter aparecido outras chapas, mas não apareceram. Acabou ficando uma chapa única e apresentamos um plano de trabalho, de gestão, que foi aprovado pelo Conselho Superior e agora, a partir de janeiro, entramos em ação.
Qual a avaliação do mandato atual da ACMinas? E quais os desafios que estão por vir?
Sem dúvida foi feito um excelente mandato pelo presidente Anchieta (advogado José Anchieta da Silva ocupou a presidência da ACMinas no período de 2021-2023) e olha que as dificuldades que ele teve foram muitas, como a pandemia, depois teve o novo normal, foram feitos ajustes e os resultados foram excelentes em todos os campos onde a ACMinas atuou. Aliás, historicamente a ACMinas tem contribuído muito para o desenvolvimento econômico e social de Minas Gerais, participando sempre de grandes projetos. Foi na ACMinas que foi acertado o acordo para trazer a Fiat. E assim, Minas criou o segundo polo automotivo do Brasil. E são muitos os exemplos da atuação da ACMinas e eu vou continuar esse trabalho, essa obra, vou procurar valorizar mais as relações institucionais para reposicionar a ACMinas no patamar que ela merece, além de trabalhar muito nas questões de interesse coletivo junto com as outras associações, federações, sindicatos e até mesmo a elite para olharmos para o desenvolvimento econômico e social do País. Afinal, só através do desenvolvimento econômico é que é possível fazer o desenvolvimento social.
Quais são os projetos que você pretende dar continuidade na ACMinas?
Na ACMinas, há questões importantes para os seus associados, com grandes projetos em andamento que vou dar continuidade. Um deles é a reforma do Estado brasileiro, onde nós ouvimos já cerca de 20 palestrantes, entre políticos, cientistas, formadores de opinião sobre o que precisa mudar, que reforma o País precisa fazer para seguir na linha do desenvolvimento econômico e social. E tem ainda mais uns 15 palestrantes. Eu vou dar continuidade no projeto, pois realmente é um trabalho importante que a associação comercial tem capacidade de desenvolver. Outro projeto importante que nós trabalhamos é a questão da reforma fiscal. Nós entendemos que essa reforma fiscal foi atropelada. A lógica é primeiro faz a reforma administrativa para depois buscar enquadrar o orçamento para poder gastar. Então, essa não é uma reforma tributária, essa é uma transferência tributária onde o consumidor vai pagar a conta porque não está sendo ajustado a reforma administrativa como deve ser feito.
É um desafio presidir uma associação, uma entidade, congregar pensamentos diversos?
Todas as entidades do Brasil têm mentalidade, objetivos de resultado imediato. E é necessário trabalhar para ter resultados de longo prazo. Tanto na Fiat como na Anfavea era feito um trabalho de longo prazo. Eu acredito que as associações, as federações, os sindicatos, todos devem trabalhar com uma meta de longo prazo para viabilizar um País melhor e mais justo. Eu acredito que o papel das associações neste momento é trabalhar o futuro, deixar de olhar o curto prazo e enfrentar os desafios de longo prazo para resolver os grandes problemas nacionais. Ainda temos o problema da fome, da qualidade do ensino básico e eu entendo que o País tem que investir na educação e na formação. Um pouco que a economia mexeu, falta mão de obra para os serviços. De um lado, há pessoas desempregadas, e do outro, falta qualificação e formação, principalmente, a formação técnica. São vários os desafios, mas eu acredito que o povo brasileiro tem a capacidade de se reinventar, tem criatividade.
A reforma administrativa é uma bandeira da ACMinas. Como deveria ser feita? Ela é de fato viável?
É preciso repensar o tamanho do Estado para aliviar a carga tributária brasileira para o País ser mais competitivo, mais produtivo. Esse é um dos itens do famoso Custo Brasil. Agora, falta vontade política para isso acontecer. Se é uma empresa, ela tem que fazer as mudanças necessárias para não quebrar. Já o Estado transfere para a sociedade pagar a conta, seja através da inflação ou por meio de maiores impostos.
Hoje quais os principais problemas enfrentados pelos empresários no País?
O Custo Brasil, a infraestrutura precária e a falta de mobilidade adequada no País. O Brasil é um País que transporta tudo por estradas, não tem ferrovias, a própria cabotagem é deficiente. Um país com uma costa maravilhosa dessa, a cabotagem não é eficiente e não é competitiva porque a tributação que vem atrás para a cabotagem é muito pesada.
Qual a sua avaliação sobre a situação econômica do País atualmente?
Podemos olhar o País hoje de um lado positivo, com o baixo nível de desemprego e um PIB (Produto Interno Bruto) crescendo mais de 3%. É excelente até aí. Só que os sintomas da inflação começam a aparecer, pois não há investimentos para oferecer produtos e serviços competitivos. Então, parece que esse PIB é mais um voo de galinha. O consumo está estimulado, sem o País ter a capacidade de produzir adequadamente.
E qual seria a saída para o País? Muitos empresários falam da necessidade do corte dos juros.
Se os juros forem cortados, aí a inflação sobe. Nós estamos numa armadilha na minha opinião. Para o País crescer, o pouco que se fez foi aliviar a carga tributária na indústria, mas isso só vai dar resultado daqui a dez anos, que é a fase de transição. Então, eu vejo uma situação muito delicada.
Recentemente o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, divulgou o pacote de ajuste fiscal. Qual a sua avaliação sobre as medidas? Há pontos positivos e negativos?
Eu acho duas coisas. O primeiro erro é anunciar duas coisas juntas, o que confundiu o mercado. O corte de despesas ele tinha que fazer, mas os agentes econômicos não estão tão confiantes nesse corte, em primeiro lugar. Isso fez o dólar subir, as bolsas caírem, ou seja, o mercado está avaliando que poderá ter um problema maior, tipo o que aconteceu com a Dilma (ex-presidente Dilma Rousseff) porque foi feito em base populista. Quanto à redução do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, eu acho que é altamente positivo porque quem ganha R$ 5 mil não é rico. Acho que isso foi muito bem feito, desde que eles consigam o equilíbrio fiscal na outra ponta. Então, foi um pacote atabalhoado.
As medidas são suficientes para promover o ajuste?
O corte de gastos na minha opinião não foi o suficiente, não foi firme porque ele se travou numa questão populista, eleitoreira. É por isso que eu sou contra a renovação de mandatos. O Brasil deveria partir para um mandato de cinco anos. Afinal, hoje, no meio do caminho, principalmente na reta final de mandato, os políticos querem se reeleger e aí fazem trapalhadas que podem prejudicar a sociedade. Eu, desde pequeno, ouço que esse é o País do futuro. Já dizia Roberto Campos (economista) que nós temos instituições fortes, mas temos uma mentalidade fraca, e eu ainda digo o seguinte, a nossa mentalidade é extrativista, por isso que nós não deslanchamos, nossas instituições também falham muito. Falta pensar na nação.
Você falou sobre questões nacionais e de macroeconomia. Agora, em Minas Gerais, quais os avanços e os desafios?
O grande avanço que Minas Gerais teve foi o equilíbrio financeiro que permitiu o pagamento em dia dos funcionários públicos, além da atração de investimentos que Minas está fazendo, que é recorde histórico, a qualidade do Executivo como um todo, seja governador, secretários, equipe, todos muito competentes e abertos ao diálogo com os empresários. E isso vai dar resultados de longo prazo. Todos esses investimentos que estão vindo vão colocar o Estado em um patamar mais elevado.
A sua análise do Estado de Minas Gerais é positiva. O que poderia ser feito para melhorar?
Sem dúvida nenhuma a infraestrutura de Minas sofreu muito nos últimos 30 anos. Em 30 anos, podemos analisar o quanto avançou o metrô em São Paulo e quanto avançou aqui em Minas, nós não avançamos com o metrô. Na questão do transporte ferroviário, temos uma malha que hoje é dominada pela Vale, só que as linhas estão aí e poderia ser feito o transporte ferroviário da região metropolitana, isso aliviaria muito para os trabalhadores que vêm das cidades vizinhas para trabalhar em Belo Horizonte e vice-versa. Há muitas oportunidades, o Estado precisa realmente resolver a questão das estradas. A infraestrutura é fundamental para a sobrevivência e a atração de investimentos. Um exemplo, a Fiat tinha uma fábrica enorme, aliás tem essa fábrica, a empresa ia crescer, mas não tinha infraestrutura e acabou indo para Pernambuco. O principal fator foi a falta de estrutura, na época, aqui em Minas Gerais. Então esse é o ponto mais importante, segundo é manter os incentivos da indústria porque a indústria é que movimenta, que oferece produtos, serviços, inovação, qualidade. Nós temos uma indústria muito qualificada aqui em Minas, seja na mineração, agricultura, metalmecânica, mas precisa manter os estímulos para ela se fortalecer.
Quais outros pontos de atenção você destaca?
Outro ponto que eu acho importante são as privatizações. Imagine se nós não tivéssemos privatizado a telefonia no País. Tudo isso faz com que o Estado seja mais eficiente e mais produtivo. Apontaria também, considerando o meu conhecimento de outros países por causa do meu trabalho, é a escola de qualidade integral. Eu acho que esse é um grande desafio para o Brasil. Vi uma notícia e fiquei chocado ao saber que estamos em penúltimo lugar na avaliação de matemática dos alunos com nove anos de idade. Assim, não adianta só colocar o aluno na escola, o que cabe às prefeituras nesta fase, já que muitos não sabem o básico, é preciso ter qualidade. São muitos os desafios em vários setores, só que Minas é um Estado maravilhoso. Eu vim para cá há 40 anos, ganhei meu passaporte mineiro, sou muito feliz de estar aqui com minha família.
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