Economia

Fatores climáticos e impostos aumentam preços dos combustíveis em Minas Gerais

O principal aumento no período foi registrado nos preços do etanol
Fatores climáticos e impostos aumentam preços dos combustíveis em Minas Gerais
Foto: Diário do Comércio Arquivo Alessandro Carvalho

A reoneração dos tributos e as condições climáticas adversas são as principais causas para o aumento do preço dos combustíveis ao longo deste ano em Minas Gerais, principalmente no caso do etanol, produzido a partir da cana-de-açúcar no Brasil. O insumo sofre com a dinâmica do setor agrícola, que é impactado pelo clima e pela concorrência direta com o preço do açúcar no mercado internacional, dizem especialistas.

De acordo com os dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP), a maior alta registrada entre os combustíveis no Estado foi justamente o etanol hidratado, que subiu 23%. Enquanto no final do ano passado o litro do biocombustível custava em média R$ 3,39 nos postos mineiros, no final deste ano a média do preço do litro é de R$ 4,19.

O preço da gasolina, que contém 27,5% de etanol em sua composição, acompanhou a alta, porém em menor intensidade. Do final do ano passado para o final de novembro deste ano, a gasolina comum no Estado aumentou 11,94%, passando do preço médio de R$ 5,44 para R$ 6,09. Já a gasolina aditivada teve alta de 10,93% na mesma comparação, com preços médios do litro variando de R$ 5,67 para R$ 6,29.

O levantamento da ANP aponta que, além do etanol e da gasolina, os preços do GNV e do óleo diesel também subiram no período em Minas Gerais. Ao longo do ano, a alta desses combustíveis foi de 3% e 1%, respectivamente.

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Para o professor de Economia da Una Sete Lagoas, Wagner Cardoso, o aumento mais acentuado do etanol pode ser associado a fatores estruturais e conjunturais. “As condições climáticas adversas impactaram fortemente a safra de cana-de-açúcar, que é a principal matéria-prima do etanol. Tivemos períodos de seca prolongados e, em algumas regiões, episódios de geadas, o que resultou em uma oferta reduzida de cana para as usinas”, explica.

Outro ponto destacado é que, neste ano, os preços internacionais do açúcar estiveram elevados. “Muitas usinas, visando maior rentabilidade, redirecionaram parte significativa da cana-de-açúcar para a produção de açúcar em vez de etanol, diminuindo a disponibilidade deste produto no mercado interno”, afirma o especialista.

Além disso, Cardoso atribui a alta dos preços do etanol ao aumento dos custos de produção. “Os insumos agrícolas ficaram mais caros e o preço do diesel, utilizado para o transporte e operações no campo, também aumentou, trazendo impacto.”

O professor de Finanças do Ibmec Rio, Gilberto Braga, também pontua os fatores climáticos como preponderantes para os impactos na indústria do etanol e destaca ainda os incêndios ocorridos neste ano

“A seca intensa e as queimadas afetaram a produção do etanol. Embora já houvesse estoques de safras recordes anteriores, elas contribuíram para manter os preços pressionados, até porque o etanol hoje é adicionado à gasolina”, afirma.

O levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), divulgado no final de novembro, mostrou que a safra de cana-de-açúcar no Estado este ano está apenas 0,7% maior que a safra anterior, quando a expectativa era de 2,3% maior. O pequeno crescimento é atribuído às condições climáticas, com chuvas irregulares, estiagem prolongada e altas temperaturas.

Reoneração tributária também afetou preços dos combustíveis em Minas Gerais

Outro fator que influenciou a alta dos preços dos combustíveis no Estado, na avaliação do professor Gilberto Braga, foi a reoneração tributária do setor, quando o Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) teve um aumento sobre a gasolina, o diesel e o gás de cozinha, no início deste ano. 

Todo esse movimento de aumento foi pressionado pelo preço do petróleo no mercado internacional, sobretudo no primeiro semestre, quando os eventos decorrentes das tensões políticas da guerra do Oriente Médio, fizeram com que o preço do produto aumentasse no mercado internacional”. 

Ele explica que o preço do petróleo aliviou um pouco no segundo semestre, mas ainda assim não baixou no Brasil. “Isso também tem bastante a ver com a pressão do câmbio no segundo semestre”, analisa. 

Procurado pela reportagem, o Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo no Estado de Minas Gerais (Minaspetro), afirma em nota que o preço final dos combustíveis é composto por uma complexa cadeia que envolve refinarias, usinas de etanol, frete, margens de distribuição, dentre outras variáveis e atribui o aumento, principalmente, ao custo da produção que reflete diretamente no preço da bomba.

“O anidro, que compõe o preço da gasolina em 27%, apresentou alta de dezembro de 2023 até a primeira semana de novembro deste ano de 18%. O biodiesel, que é responsável por 14% do preço do diesel, teve uma alta de 23%. Além disso, em julho deste ano, a Petrobras anunciou aumento de R$ 0,20 no preço da gasolina nas refinarias”, diz o documento divulgado pelo Minaspetro.

O presidente da Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais (Siamig), Mario Campos, ressalta que o preço do biocombustível em 2023 estava depreciado. “Este ano foi um ano de alto consumo de etanol, preços competitivos em boa parte do período, isso fez com que a gente conseguisse ter um preço um pouco mais remunerador para o produtor do que no passado”, afirma.

Futuro dos preços dos combustíveis depende de diversos fatores

Para 2025, o professor Wagner Cardoso acredita que as projeções indicam estabilidade, com possibilidade de leve alta em razão da recuperação do consumo global de petróleo e ajustes fiscais no Brasil. 

“Se as condições climáticas melhorarem e a oferta de cana aumentar, podemos ver uma estabilização ou até redução nos preços. No entanto, a dinâmica de competição com o açúcar e o impacto de políticas ambientais continuarão influenciando o mercado”, avalia.

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