Economia

Comércio da capital pode ser afetado com menos dias de frio

Lojistas da Capital têm estoques, diversificam e investem em meia-estação
Comércio da capital pode ser afetado com menos dias de frio
Varejo espera aumento de vendas de inverno em abril, mas mudanças climáticas mudam dinâmica | Crédito: Reprodução / AdobeStock_

Mais um ano de pouco frio e novamente a indústria e o comércio varejista se veem desafiados pelas mudanças climáticas. A maior quantidade de dias quentes no ano, até mesmo ondas de calor, altera a dinâmica das vendas nas lojas em relação ao vestuário de inverno e obriga comerciantes e industriais a se adaptarem.

O professor de economia do Ibmec BH, Luiz Carlos Gama, explica que o varejo espera um aumento das vendas de bens relacionados ao inverno a partir de abril. Esse movimento de antecipação da época mais fria do ano, além de aquecer as vendas, impulsiona o desempenho em datas comemorativas como Dia das Mães e Dia dos Namorados.

“A questão do frio acaba que é melhor para o comércio”, disse Gama. Ele aponta que, em geral, as roupas de inverno contam com um valor agregado maior. Assim, quando os presentes para mães, namoradas e namorados são atrelados à essa época, o setor varejista fatura mais.

Mas o clima mais quente por mais tempo – e sem frio – pode derrubar o valor médio das compras relacionadas a roupas. “Ao invés de comprar um presente mais caro para a mãe, porque estava começando a fazer frio, de repente essa pessoa comprou um presente mais barato”, pontua o professor do Ibmec.

O conteúdo continua após o "Você pode gostar".


Com menos frio, comércio deve rever estratégias

A economista da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH), Ana Paula Bastos, comenta que os comerciantes deverão adotar medidas como promoções e novas formas de divulgação – principalmente nas redes sociais, que não geram custos adicionais. “Quem fez um estoque maior do que a demanda vai ter prejuízo. Então tem que adotar estratégias de marketing para trazer esse consumidor para sua loja”, comenta.

Além das ofertas e liquidações das roupas preparadas para o frio, a economista considera que o comércio necessita diversificar as formas de pagamento, com a alteração dos prazos, por exemplo, para atrair o consumidor.

A economista ainda ressalta que o comércio deverá estar atento em relação às alterações climáticas, que têm alterado o modo de vida da sociedade em todo o mundo, com consequentes impactos no consumo. “Hoje, para programar alguns estoques, temos que ficar de mão dada com a ciência. Saber como que vai ser realmente não só inverno, mas as estações que estão por vir”, finaliza.


As duas lojas da Royal Style, em Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), estão com um movimento de vendas bem diferente este ano. O proprietário George Ferreira conta que, neste momento, no mesmo período do ano passado, já teria vendido 60% do estoque das roupas de frio. Mas, em 2024, ainda não vendeu 10%. “Ano passado, nossa empresa cresceu consideravelmente no inverno, o que me motivou a investir ainda mais para este ano”, disse.

Tradicionalmente, as mercadorias para o inverno chegam às lojas de Ferreira em fevereiro e começam a ser vendidas em março, antevendo o início do frio em abril. Mas já quase em junho, o esperado tempo de temperaturas baixas não apareceu e ele teve que mudar os planos.“Como não teve nem sinal de frio, ao invés de investir em mercadoria de inverno, nós investimos em mercadoria para um tempo fresco, de meia-estação”, afirma.

Inclusive, Ferreira conta que foi o calor que segurou as contas da Royal Style e proporcionou um primeiro trimestre aquecido nas vendas, enquanto as roupas de frio encalharam. Ainda assim, ele aponta que quando a temperatura cair, os estoques das roupas de inverno devem acabar rapidamente.

Já a Pink Wave, no bairro Lourdes, em Belo Horizonte, encontrou na diversificação dos produtos, como calçados, uma saída para que a tardia chegada do frio não afetasse o faturamento. “Já tinha preparado toda a coleção e ainda não lancei, porque não tenho condição de lançar coleção de inverno fazendo 30 graus”, declara a proprietária Bruna Verçosa.

Inclusive, ao observar um inverno mais curto no ano passado, a empresária fez pesquisas e programou para que a Pink Wave lançasse a coleção de inverno em meados de junho, na espera que o frio viesse mais tarde. “Mas ainda assim, se você olhar, já estamos entrando em junho e o frio ainda não chegou”, aponta.

Assim como Ferreira, Bruna Verçosa acredita que os estoques de roupa de frio serão vendidos rapidamente assim que o frio chegar. Mas ela considera que os tempos do comércio de roupas de inverno, de maior valor agregado do que as de verão, serão outros. “As pessoas já tinham o hábito de repensar peças de inverno pelo estação no Brasil ser curto. Agora então, a peça que elas usariam três meses e vão usar um mês, acho que vão consumir bem menos”.

Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas