Comércio varejista de Minas Gerais registra queda nas vendas em dezembro; veja os motivos

As vendas do comércio varejista em Minas Gerais apresentaram queda de 2% em dezembro de 2024, na comparação com o mesmo período do ano anterior. É o que apontam os dados do Índice do Varejo Stone (IVS). O varejo nacional também fechou o último mês com recuo nas vendas, com variação negativa de 1,7% frente a dezembro de 2023.
Para o pesquisador econômico e cientista de dados da Stone, Matheus Calvelli, essa retração nos indicadores pode ser atribuída ao aumento da inadimplência e ao comprometimento crescente da renda das famílias. Esses fatores têm limitado a capacidade de consumo dos brasileiros.
“Além disso, com a alta recente da taxa básica de juros (Selic) agrava-se esse quadro, encarecendo o crédito e amplificando os impactos negativos sobre o desempenho do comércio”, completa.
De acordo com o levantamento, as vendas do comércio brasileiro apresentaram resultado negativo na análise mensal, com retração de 3,5% na comparação com novembro do ano passado.
Calvelli aponta que, considerando a trajetória e a performance do varejo ao longo do ano, a estimativa é de que o comércio vendeu 2,3% a menos do que o esperado para a semana do Natal. Isso pode explicar parte da queda registrada em dezembro.
“Contudo, o resultado não foi suficiente para reverter os ganhos de 2024, que teve alta acumulada de 0,6%”, diz.
O estudo realizado pela Stone demonstra que todos os oito segmentos analisados registraram queda na comparação entre os meses de dezembro e novembro do ano passado. No caso dos estados, apenas cinco apresentaram resultados positivos no comparativo com dezembro de 2023. São eles:
- Roraima (3,9%);
- Sergipe (3,5%);
- Rondônia (2,2%);
- Pará (1%);
- Goiás (0,9%).
Todos os demais fecharam o mês com variações negativas no indicador. O setor varejista mineiro apresentou a quarta menor retração, ao lado da Bahia, com queda de 2% frente ao mesmo período do ano anterior.
Desempenho por segmento do varejo nacional
Dentre os segmentos do varejo, o setor de Tecidos, Vestuário e Calçados, e o de Móveis e Eletrodomésticos foram os que apresentaram as quedas mais acentuadas na comparação mensal, com recuos de 7% e 6,4%, respectivamente. Confira a lista completa:
- Tecidos, Vestuário e Calçados (-7%);
- Móveis e Eletrodomésticos (-6,4%);
- Outros Artigos de Uso Pessoal e Doméstico (-4,5%);
- Livros, Jornais, Revistas e Papelaria (-3,7%);
- Hipermercados, Supermercados, Produtos Alimentícios, Bebidas e Fumo (-3,3%);
- Artigos Farmacêuticos (-2,3%);
- Combustíveis e Lubrificantes (-1,8%);
- Material de Construção (-1,8%).
No acumulado de 2024, o grupo de Combustíveis e Lubrificantes teve o melhor desempenho do ano, com alta acumulada de 3,1% no período, seguido pelo setor de Artigos Farmacêuticos, que registrou crescimento de 2,5% ao longo do ano passado.
Os outros que também apresentaram avanços foram o de Móveis e Eletrodomésticos (1,1%) e o setor de Outros Artigos de Uso Pessoal e Doméstico (0,3%).
Já o segmento de Livros, Jornais, Revistas e Papelaria apresentou a maior queda anual, com retração de 1,8%. Em seguida aparecem os grupos de Tecidos, Vestuário e Calçados (-0,6%), de Hipermercados, Supermercados, Produtos Alimentícios, Bebidas e Fumo (-0,5%) e de Material de Construção (-0,2%).

Alta do varejo on-line e queda do físico
O Índice do Varejo Stone também aponta para desempenhos distintos entre o comércio varejista físico e on-line. Enquanto o comércio digital apresentou alta de 3,4% na comparação mensal e 7,7% no desempenho anual, o varejo físico fechou em queda de 4,2% frente a novembro e retração de 2,1% frente ao mesmo período de 2023.
O pesquisador econômico e cientista de dados da Stone ressalta que os dados do comércio digital apresentados na pesquisa representam apenas as vendas diretas, ou seja, as empresas que possuem venda on-line própria. “Ou seja, são empresas que possuem os dois canais de venda”, esclarece.
Segundo Calvelli, um dos motivos que pode explicar essa discrepância é a antecipação de compras no mundo físico para novembro. “O mês de novembro foi bastante aquém das expectativas para o grupo do comércio digital, enquanto o comércio físico performou bem”, avalia.
Mesmo com a evolução da digitalização da economia, o especialista acredita que esse movimento recente de ambos os indicadores parece estar mais relacionado ao momento atual do comércio brasileiro, mais do que algum tipo de tendência de longo prazo.
- Leia também: Varejo de Minas Gerais cresce 2,1% em novembro
Já as expectativas para o desempenho do comércio varejista, de maneira geral, são de desafios nos primeiros meses deste ano. O pesquisador aponta para o cenário de inadimplência e comprometimento elevado da renda das famílias como alguns dos fatores que podem atrapalhar os varejistas.
“Assim, esse cenário sugere que os setores mais sensíveis ao crédito devam seguir enfrentando dificuldades, com uma recuperação mais consistente dependendo de uma eventual redução na taxa de inadimplência e do custo de serviço da dívida”, conclui.
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