Economia

Como tarifa de 50% dos EUA afeta as exportações brasileiras

Como tarifa de 50% dos EUA afeta as exportações brasileiras
Foto: Reuters/Mike Blake/Arquivo

A imposição de tarifas de 50% aos produtos brasileiros a partir de 1º de agosto, anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem potencial de resultar em um corte drástico nas exportações do Brasil.

O mercado norte-americano é o segundo principal destino das vendas externas do Brasil, atrás apenas da China, com o petróleo tendo a maior participação em receita nas vendas para os EUA.

Além disso, os norte-americanos estão entre os mais relevantes para bens manufaturados brasileiros, de maior valor agregado, como aeronaves, autopeças e máquinas.

A imposição das tarifas por Trump tem potencial de provocar queda de bilhões de dólares nas exportações brasileiras, sem considerar eventuais concessões setoriais, de acordo com analistas.

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De acordo com análise do banco BTG Pactual, a tarifa anunciada não será cumulativa aos 25% aplicados a automóveis e peças, nem aos 50% sobre aço e alumínio. Produtos sob investigação da Seção 232, como semicondutores, minerais críticos e produtos farmacêuticos, continuarão isentos. O banco citou que a isenção também inclui petróleo e derivados.

Veja abaixo os totais exportados pelo Brasil aos EUA em 2024:

CAFÉ

O Brasil, maior exportador mundial de café, tem os EUA tradicionalmente como principal destino do grão produzido no país, com as exportações no ano passado representando quase US$2 bilhões. Esse montante representa 16,7% do total embarcado pelo Brasil.

No caso do café, haveria uma compressão de margens para o setor e encarecimento do produto aos consumidores dos EUA, segundo a consultoria Cogo Inteligência em Agronegócio. O Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) concorda que o consumidor de café dos EUA será onerado com a tarifa de 50%.

CARNE

Os Estados Unidos são o segundo maior mercado para a carne bovina do Brasil. No ano passado, de acordo com dados da associação Abrafrigo, os EUA aumentaram a participação no volume exportado pelo país para 16,7%, ou 532.653 toneladas, gerando uma receita para exportadores brasileiros de US$1,637 bilhão.

Em relatório, a Minerva estimou um impacto potencial máximo ao redor de 5% de sua receita líquida, com base nos embarques brasileiros sujeitos à nova política de Trump. Outras companhias do setor, como JBS e Marfrig, possuem grande parte de suas operações nos EUA.

SUCO DE LARANJA

Na safra 2024/25, encerrada em 30 de junho, os EUA representaram 41,7% das exportações brasileiras de suco de laranja, somando US$1,31 bilhão em faturamento, conforme dados do governo consolidados pela CitrusBR. A tarifa de 50% representa um aumento de 533% sobre os US$415 por tonelada que já eram cobrados sobre o produto brasileiro.

“Trata-se de uma condição insustentável para o setor, que não possui margem para absorver esse tipo de impacto”, afirmou a CitrusBR, notando que outros importadores não conseguiriam absorver os excedentes não embarcados aos EUA.

No suco de laranja, a consultoria Cogo prevê queda “drástica” na competitividade brasileira e “risco à cadeia citrícola”, que tem nos EUA o segundo principal destino.

PETRÓLEO

As exportações brasileiras de petróleo aos EUA renderam ao país US$5,8 bilhões em 2024, ou cerca de 13% de tudo que o Brasil exportou desta commodity no ano passado, segundo dados do governo compilados pela consultoria StoneX.

No caso de o petróleo ser incluído na tarifa de 50%, ainda assim a perda seria relativamente “modesta” para o Brasil, segundo o BTG, já que o setor conta com maior flexibilidade comercial e capacidade logística para redirecionar embarques a outros mercados.

No primeiro trimestre, os EUA foram destino de 4% do petróleo exportado pela Petrobras, ante 9% no período anterior, segundo dados da empresa. Em derivados, a petroleira estatal teve os EUA como segundo principal destino, com uma fatia de 37%.

AERONAVES

As exportações de aeronaves aos EUA, notadamente aviões, renderam ao país US$2,4 bilhões, representando cerca de 63% do total exportado pelo Brasil, conforme o BTG. A Embraer é a empresa com maior exposição nas exportações.

SEMIFATURADOS DE FERRO OU AÇO

Os produtos semifaturados de ferro ou aço registraram exportações aos EUA de US$2,8 bilhões, com a participação dos norte-americanos nas vendas totais somando mais de 70%, segundo análise do BTG.

MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO E ENGENHARIA

O Brasil exportou o equivalente a US$2,2 bilhões desses produtos aos EUA, com o país da América do Norte também registrando uma fatia elevada do total, cerca de 58%.

MADEIRA

Os produtos de madeira tiveram exportações de US$1,6 bilhão para os EUA em 2024, com os norte-americanos respondendo por mais de 40% do total exportado pelo Brasil.

De acordo com a Cogo Inteligência em Agronegócio, produtos florestais do Brasil são exemplo daqueles que perderiam competitividade para outras nações, como Canadá, Chile e União Europeia.

A Suzano, gigante do setor de celulose, com cerca de 15% de suas receitas nos EUA, poderia enfrentar algumas dificuldades no curto prazo, mas a companhia se beneficia de ter baixos custos, flexibilidade para realocar volumes e escala global, segundo relatório do Citi.

MÁQUINAS E MOTORES

A indústria de motores, máquinas e geradores exportou US$1,3 bilhão aos EUA no ano passado, com esse segmento de manufaturados respondendo por mais de 60% de tudo o que o Brasil exportou, segundo um quadro apresentado pelo BTG. A medida é negativa para a brasileira WEG, afirmou o UBS BB em nota.

ELETROELETRÔNICOS

No caso dos eletroeletrônicos, o Brasil exportou US$1,1 bilhão para os EUA no primeiro semestre deste ano, com o mercado norte-americano sendo o principal destino das exportações do setor, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee).

Conteúdo distribuído por Reuters

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