Economia

Comprometimento da renda das famílias com dívidas sobe em BH

Apesar dos juros estratosféricos, uso de cheque especial aumenta até entre as pessoas que ganham mais
Comprometimento da renda das famílias com dívidas sobe em BH
A inadimplência na capital mineira é maior na faixa de renda menor, atingindo 45,9% dos consumidores | crédito: Charles Silva Duarte/Arquivo DC

O endividamento no cheque especial, principalmente de pessoas com renda mais alta, aumentou em Belo Horizonte no mês de maio. Esta é uma das conclusões da mais recente edição da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), realizada pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Minas Gerais  (Fecomércio-MG).

Segundo a pesquisa, os consumidores que recebem menos de dez salários mínimos também estão usando mais o cheque especial do que o observado no mês passado. No entanto, esse aumento é muito inferior ao que foi observado entre os consumidores de renda mais elevada.

“Em abril, 9,4% dos consumidores que recebem até dez salários usavam o cheque especial como ferramenta de crédito, e, em maio, esse índice passou a ser de 10,1%. Já entre os consumidores que recebem mais de dez salários, o patamar passou de 10,9% em abril para 16,4% em maio”, informa a economista da Fecomércio-MG Gabriela Martins. 

Os meses de abril e maio registraram uma pequena mudança no perfil de endividamento das famílias belo-horizontinas. Em abril, 88,1% das famílias que recebem até dez salários mínimos estavam endividadas e, em contrapartida, 86,8% das famílias com renda mais alta encontravam-se nessa situação. Em maio esses valores se alteraram para 85,9% e 86,5%, respectivamente. “Os valores indicam uma redução nos dois grupos, mas apontam que, no momento, as famílias com renda mais baixa estão devendo menos do que as famílias com renda mais alta”, conclui a economista. 

Segundo ela, com o abrandamento da pandemia, as pessoas estão voltando a ter confiança em frequentar o comércio de rua e adquirir certos serviços que foram prejudicados pelo período mais intenso da pandemia. “Dessa forma, os consumidores com renda superior a dez salários mínimos vêm retomando o seu consumo de serviços voltados ao entretenimento e turismo”, explica.

Apesar de o cheque especial ter um dos maiores juros do mercado (125,49% ao mês, em média), ainda assim ele tem um custo menor do que o rotativo do cartão de crédito (399,91%, em média). “Dessa forma, para essas famílias, pode se tornar preferível a utilização de uma parcela do cheque especial disponível por um curto período de tempo para evitar entrar no rotativo do cartão de crédito”, cogita Gabriela Martins.

A Peic traça o quadro de endividamento e inadimplência dos consumidores da capital mineira. De modo geral, a tendência do índice é de estabilidade. Em maio, 86% dos consumidores estavam endividados, 1,9 ponto percentual inferior ao último mês. O percentual de consumidores com contas em atraso diminuiu na comparação mensal – em abril, era de 43,5%.

O percentual de famílias com dívidas que envolvem mais de 50% do orçamento mensal teve um aumento notável no período, atingindo 28,6% em maio, aumento de 3,9% em relação a abril. Em média, as dívidas comprometem 32,3% do orçamento do mês para as famílias da Capital.

Não há dúvidas de que a inflação vem comprometendo a renda das famílias. As de renda mais elevada, porém, apresentam um consumo diferente daquelas que recebem menos de dez salários mínimos – ou seja, o peso inflacionário é diferente para os dois grupos. O uso do crédito para suprir demandas reprimidas, por parte das famílias de renda mais alta, é um dos fatores que contribuem para esse comportamento.

“Muitas pessoas contratam essa forma de crédito e no mês seguinte encontram dificuldades para recompor o dinheiro na conta, gerando ainda mais custos. A maior preocupação está no não pagamento dos compromissos financeiros, fazendo com que a pessoa se torne inadimplente e restringindo seu acesso ao crédito”, observa a economista da Fecomércio.

Inadimplência é menor

A inadimplência atinge 43,5% das famílias de Belo Horizonte, valor 0,9% inferior ao observado no mês anterior. No entanto, esta situação é mais grave nas famílias menos abonadas – a inadimplência nesta faixa chega a 45,9% das famílias. Já entre as famílias com renda superior a dez salários mínimos, o índice é de 27,7%, bem inferior ao observado no grupo de renda menor.

Gabriela Martins acredita que, com a antecipação do 13º, o saque extra do FGTS, o Auxílio Brasil e a recuperação do mercado de trabalho, o quadro possa apresentar melhoras no decorrer dos próximos meses. “Não podemos esquecer o peso da inflação na renda das famílias, mas, mesmo com esse agravante, ainda é possível ter expectativas positivas com relação à diminuição do endividamento e da inadimplência em BH”, diz.

Juros altos podem afetar a recuperação

O economista Paulo Bretas, coordenador em Minas da Associação Brasileira de Economistas pela Democracia (Abed), é mais pessimista. “Não é apenas em Minas Gerais que as famílias estão endividadas. Trata-se de um fato econômico que, decorrente dos impactos da Covid-19, derrubou as atividades econômicas, produziu desemprego e eliminou até postos de trabalho informais. A retomada que começou em 2021 foi feita em cima de rendas médias em queda, mais emprego informal e famílias bastante endividadas”, observa.

“Para agravar, temos juros extorsivos e aumentando em decorrência da inflação que vem forte desde 2021. E para completar temos essa guerra da Rússia contra a Ucrânia, que vai gerar mais inflação e subida de preços”, finaliza Bretas. 

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