Comprometimento da renda das famílias com dívidas sobe em BH

O endividamento no cheque especial, principalmente de pessoas com renda mais alta, aumentou em Belo Horizonte no mês de maio. Esta é uma das conclusões da mais recente edição da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), realizada pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Minas Gerais (Fecomércio-MG).
Segundo a pesquisa, os consumidores que recebem menos de dez salários mínimos também estão usando mais o cheque especial do que o observado no mês passado. No entanto, esse aumento é muito inferior ao que foi observado entre os consumidores de renda mais elevada.
“Em abril, 9,4% dos consumidores que recebem até dez salários usavam o cheque especial como ferramenta de crédito, e, em maio, esse índice passou a ser de 10,1%. Já entre os consumidores que recebem mais de dez salários, o patamar passou de 10,9% em abril para 16,4% em maio”, informa a economista da Fecomércio-MG Gabriela Martins.
Os meses de abril e maio registraram uma pequena mudança no perfil de endividamento das famílias belo-horizontinas. Em abril, 88,1% das famílias que recebem até dez salários mínimos estavam endividadas e, em contrapartida, 86,8% das famílias com renda mais alta encontravam-se nessa situação. Em maio esses valores se alteraram para 85,9% e 86,5%, respectivamente. “Os valores indicam uma redução nos dois grupos, mas apontam que, no momento, as famílias com renda mais baixa estão devendo menos do que as famílias com renda mais alta”, conclui a economista.
Segundo ela, com o abrandamento da pandemia, as pessoas estão voltando a ter confiança em frequentar o comércio de rua e adquirir certos serviços que foram prejudicados pelo período mais intenso da pandemia. “Dessa forma, os consumidores com renda superior a dez salários mínimos vêm retomando o seu consumo de serviços voltados ao entretenimento e turismo”, explica.
Apesar de o cheque especial ter um dos maiores juros do mercado (125,49% ao mês, em média), ainda assim ele tem um custo menor do que o rotativo do cartão de crédito (399,91%, em média). “Dessa forma, para essas famílias, pode se tornar preferível a utilização de uma parcela do cheque especial disponível por um curto período de tempo para evitar entrar no rotativo do cartão de crédito”, cogita Gabriela Martins.
A Peic traça o quadro de endividamento e inadimplência dos consumidores da capital mineira. De modo geral, a tendência do índice é de estabilidade. Em maio, 86% dos consumidores estavam endividados, 1,9 ponto percentual inferior ao último mês. O percentual de consumidores com contas em atraso diminuiu na comparação mensal – em abril, era de 43,5%.
O percentual de famílias com dívidas que envolvem mais de 50% do orçamento mensal teve um aumento notável no período, atingindo 28,6% em maio, aumento de 3,9% em relação a abril. Em média, as dívidas comprometem 32,3% do orçamento do mês para as famílias da Capital.
Não há dúvidas de que a inflação vem comprometendo a renda das famílias. As de renda mais elevada, porém, apresentam um consumo diferente daquelas que recebem menos de dez salários mínimos – ou seja, o peso inflacionário é diferente para os dois grupos. O uso do crédito para suprir demandas reprimidas, por parte das famílias de renda mais alta, é um dos fatores que contribuem para esse comportamento.
“Muitas pessoas contratam essa forma de crédito e no mês seguinte encontram dificuldades para recompor o dinheiro na conta, gerando ainda mais custos. A maior preocupação está no não pagamento dos compromissos financeiros, fazendo com que a pessoa se torne inadimplente e restringindo seu acesso ao crédito”, observa a economista da Fecomércio.
Inadimplência é menor
A inadimplência atinge 43,5% das famílias de Belo Horizonte, valor 0,9% inferior ao observado no mês anterior. No entanto, esta situação é mais grave nas famílias menos abonadas – a inadimplência nesta faixa chega a 45,9% das famílias. Já entre as famílias com renda superior a dez salários mínimos, o índice é de 27,7%, bem inferior ao observado no grupo de renda menor.
Gabriela Martins acredita que, com a antecipação do 13º, o saque extra do FGTS, o Auxílio Brasil e a recuperação do mercado de trabalho, o quadro possa apresentar melhoras no decorrer dos próximos meses. “Não podemos esquecer o peso da inflação na renda das famílias, mas, mesmo com esse agravante, ainda é possível ter expectativas positivas com relação à diminuição do endividamento e da inadimplência em BH”, diz.
Juros altos podem afetar a recuperação
O economista Paulo Bretas, coordenador em Minas da Associação Brasileira de Economistas pela Democracia (Abed), é mais pessimista. “Não é apenas em Minas Gerais que as famílias estão endividadas. Trata-se de um fato econômico que, decorrente dos impactos da Covid-19, derrubou as atividades econômicas, produziu desemprego e eliminou até postos de trabalho informais. A retomada que começou em 2021 foi feita em cima de rendas médias em queda, mais emprego informal e famílias bastante endividadas”, observa.
“Para agravar, temos juros extorsivos e aumentando em decorrência da inflação que vem forte desde 2021. E para completar temos essa guerra da Rússia contra a Ucrânia, que vai gerar mais inflação e subida de preços”, finaliza Bretas.
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