Economia

Condições meteorológicas definirão rumos dos preços do mercado livre de energia em 2026

Perspectiva é para o mercado livre em 2026; redução do volume de chuva leva ao uso mais intenso de usinas termelétricas, que são mais caras, e há ainda o impacto da nova metodologia usada para a precificação
Condições meteorológicas definirão rumos dos preços do mercado livre de energia em 2026
Preço de Liquidação das Diferenças (PLD) tem se mantido em patamares elevados | Foto: Reprodução Adobe Stock / Yelantsevv

O Preço de Liquidação das Diferenças (PLD), valor de referência no mercado livre de energia, têm se mantido em patamares elevados e mais voláteis desde março deste ano, quando o fim do período chuvoso – que foi de outubro de 2024 a março de 2025 – ficou marcado por menores volumes de chuva, porém com mais episódios de eventos climáticos extremos.

A redução do volume de chuva, leva ao uso maior de usinas termelétricas para a geração de energia elétrica, que são mais caras. Além disso, a nova metodologia usada para a precificação da energia, que entrou em vigor este ano, ainda está influenciando o PLD, aumentando significativamente o custo do megawatt-hora (MW/h).

Isso porque os novos parâmetros de aversão ao risco aplicados ao PLD priorizam a possibilidade de cenários climáticos extremos, como secas prolongadas, e dão mais peso a esses cenários na hora do cálculo dos preços de energia. Quem explica é o gerente de análise e controle de riscos de energia da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), Fellipe Fernandes.

“Os preços têm oscilado muito. Em março os níveis de armazenamento de água não se recuperaram conforme esperado, travando os preços em patamares mais altos e fazendo com que tanto os de curto prazo como os de mercado ficassem estáveis, variando numa linha maior de custo”, afirma.

Conforme Felipe Fernandes, a combinação de maior aversão a risco e os resultados hidrológicos fizeram com que os preços subissem de cerca de R$ 59 em janeiro para picos de R$ 286 no subsistema Sudeste, subgrupo do Sistema Interligado Nacional (SIN), onde Minas Gerais está localizado. “O modelo enxergando uma seca muito grande somada à aversão ao risco, acaba se protegendo, no caso que estes períodos de seca perdurem, colocando um preço mais caro na busca de evitar qualquer eventualidade”, avalia.

Assim como no PLD, Fernandes ressalta que os valores dos preços praticados nos contratos também ficaram mais altos. Enquanto em janeiro estavam sendo negociados para 2026 na faixa de R$ 160, agora, neste final de ano, estão sendo negociados a R$ 240, com picos ainda maiores em alguns meses.

Para o presidente da CMU Comercializadora de Energia, Walter Fróes, essa mudança de critério de aversão ao risco, é o que está mais impactando os preços fazendo com que eles fiquem permanentemente altos.

“Os geradores não estão querendo fazer contrato de longo prazo com os consumidores, porque o contrato de longo prazo não têm influência do PLD. A energia que podia estar sendo negociada a R$ 130 MW/h está sofrendo influência desse lobby de grandes geradores que estão mantendo o PLD alto para vender mês a mês ou ano a ano em patamares altos”, observa.

O diretor de relações institucionais do Grupo Melo Cordeiro, uma holding brasileira que atua no setor de energia, e coordenador estadual da Associação Brasileira de Energia Solar (ABsolar), Bruno Catta Preta, concorda que os preços negociados no Ambiente de Contratação Livre (ACL) tem apresentado volatilidade com tendência de alta no curto prazo, mas disse acreditar que os contratos no ambiente de contratação livre ainda valem à pena. “Os contratos de longo prazo continuam a oferecer economias significativas em comparação ao mercado cativo e o PDL”, defende.

Nesse sentido, o gerente de análise e controle de riscos da Cemig disse acreditar que os consumidores ainda estão preferindo os contratos, por trazer mais segurança. “Ficar exposto à esta volatilidade do PLD é muito ruim e os contratos ainda trazem previsibilidade financeira, mesmo que sejam por períodos mais curtos como um ano”, avalia.

Quanto às tendências dos preços, Fernandes comenta que não dá para prever. “A expectativa é que o modelo continue o mesmo, sem alterações, mas com essas ações mais severas. Estamos no período de transição, da seca para o chuvoso. Então, são as condições meteorológicas que definirão os níveis de preço para o ano que vem”, destaca.

Mercado livre de energia tem novo ciclo de diversificação regional

Após se consolidar nas regiões Sul e Sudeste, as migrações para o mercado livre de energia apresentam um novo ciclo e estão mais diversificadas pelo Brasil. Em setembro, a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) registrou a entrada de 1.429 novos consumidores para o segmento, o segundo melhor desempenho para o mês, atrás apenas do recorde do ano passado.

No acumulado do ano, 18,3 mil novas unidades consumidoras migraram para o ambiente, resultado praticamente estável em relação ao mesmo período de 2024, quando o setor apresentou o maior crescimento da sua história. Em Minas, o crescimento anual foi de 21,2%. Mas o que tem mais chamado atenção é que o mercado livre vem ganhando capilaridade fora dos grandes centros.

Estados como Rondônia (+107%), Mato Grosso (+86%), Tocantins (+82%), Distrito Federal (+56%), Ceará (+56%), Piauí (+51%) e Pará (+49%) registraram os maiores crescimentos percentuais no acumulado do ano.

Enquanto que estados do Sudeste e Sul, por sua vez, cresceram em ritmo mais moderado, mas mantendo a maior base de consumidores. Sendo que São Paulo (5.264 migrações), Paraná (1.904), Minas Gerais (1.488) e Rio Grande do Sul (1.340) são os estados que concentram mais da metade das novas adesões no Brasil.

Ao todo, o mercado livre reúne mais de 80 mil casas e empresas de todo o País, segundo dados da CCEE. Um avanço que reflete, conforme a instituição, o amadurecimento do modelo e o benefício percebido pela sociedade, que passa a demandar um fornecimento de energia mais flexível, competitivo e personalizado.

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