Confiança da indústria diminui pelo segundo mês consecutivo em MG

Os empresários mineiros que estão à frente de indústrias de todos os portes estão menos otimistas neste mês. Entre fevereiro e março deste ano, o Índice de Confiança do Empresário Industrial de Minas Gerais (Icei-MG) registrou queda de 0,5 ponto e chegou aos 55,8 pontos – contra aqueles 56,3 pontos levantados no mês ligeiramente anterior.
O resultado do estudo, feito pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), ainda demonstra um nível de otimismo da indústria do Estado. Isso porque o índice é calculado em uma base de 0 a 100 pontos, sendo que a partir dos 50 pontos a margem já dá sinais de esperança para o empresariado e para a tomada de decisões principalmente no que diz respeito a contratações e a novos investimentos nos parques industriais.
Conforme explica a analista de estudos econômicos da Fiemg, Daniela Muniz, o índice é calculado com base em dois componentes principais: o de condições atuais e o de expectativas, que traz um olhar sobre os próximos seis meses. Neste mês, o que provocou o recuo do Icei foram as expectativas em relação ao futuro das empresas, que teve queda de 1,2 ponto no comparativo dos meses: passou de 60 pontos, em fevereiro, para 58,8 pontos em março. Em contrapartida, o componente de condições atuais teve uma pequena elevação e saiu de 48,8 pontos para 49,8 pontos no mesmo período.
“O patamar de confiança é sustentado porque a gente tem uma ampla cobertura vacinal contra a Covid-19, o que faz com que a mobilidade das pessoas siga alta nas ruas. Apesar da retração, o cenário indica que eles continuam otimistas, mas um pouco menos agora”, aponta Muniz em relação aos resultados do índice. Ela pondera, ainda, que apesar de este ser o segundo mês consecutivo em que há uma queda na confiança dos empresários, há 20 meses o índice não chega a números menores que 50 pontos, o que significa que a confiança está estável até o momento.
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Preocupações da indústria
Contudo, muitos são os fatores internos e externos que podem trazer mais sensibilidade aos componentes utilizados na pesquisa. Conforme visto, aquele que teve queda no mês é o de expectativas. E, nesse sentido, Daniela Muniz lembra que o País e Minas Gerais enfrentam um cenário de inflação e juros altos. De forma isolada, essa realidade já impulsiona a queda da renda real dos consumidores, um sinal que pesa nas decisões das indústrias. Mas não é só: a indústria segue com dificuldades de receber matérias-primas importantes e que são base de seus negócios, um entrave que desde o início da pandemia da Covid-19 traz dificuldades para a produção nas fábricas e que se agrava agora com novos surtos da doença em regiões da China que são responsáveis pelo abastecimento brasileiro e mundial de peças.
Para Daniela Muniz, a indústria automotiva figura como uma das mais prejudicadas e retrata o que a cadeia produtiva mineira tem como empecilho quando o assunto é insumo. A especialista lembra que, neste momento, as regiões da China atingidas por novas ondas da Covid-19 produzem, por exemplo, os chips semicondutores. “Desde o início da pandemia, a indústria ainda sofre com a demora na normalização de insumos. A China está promovendo alguns fechamentos que podem fazer com que o suprimento demore ainda mais para chegar”, complementa.
O fator guerra
A guerra deflagrada na Ucrânia após a invasão russa também começa a trazer efeitos no que diz respeito às expectativas dos industriais. Nesse caso, o que acontece é que o cenário fica mais nebuloso, instável, principalmente porque após mais de 20 dias de conflito não há uma sinalização de quando o mesmo chegará ao fim. Somados aos fatores anteriormente pontuados, esse fator pode ser preponderante, nos próximos dias, para que os empresários tomem decisões mais comedidas, o que pode afetar não só a produção, mas o emprego e a renda.
“Os empresários ficam mais cautelosos ao investir e contratar, porque a guerra traz incertezas em relação ao futuro. Nós já estamos vendo a questão do preço internacional do petróleo e dos alimentos, como é o caso do trigo, que pode fazer com que a inflação acelere ainda mais. Os efeitos do câmbio ainda são pouco sentidos, porque, no acumulado de 2022, o dólar apresentou baixas. Mas, se o conflito se prolongar, essa variação negativa frente ao real pode acabar se anulando”, analisa Daniela Muniz, que ressalta que toda essa realidade afeta as empresas de todos os portes, já que a desaceleração da economia prejudica toda a cadeia produtiva e de consumo.
Construção deve reajustar preços de imóveis
Rio de Janeiro – A próxima safra de lançamentos imobiliários no Brasil deve ter imóveis mais caros por conta da alta dos insumos e dos juros mais elevados, de acordo com o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic), José Carlos Martins.
O tamanho do aumento dos preços vai depender em parte da dinâmica do mercado, mas o setor já vinha sendo impactado nos últimos meses por preços mais altos das matérias-primas sem um repasse integral aos compradores.
O Índice Nacional da Construção Civil (INCC), principal referência para o setor imobiliário no País, subiu 21,76% entre setembro de 2020 e o fim de 2021. No período, nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Belo Horizonte e Belém, o valor dos imóveis subiu abaixo desse patamar, entre 10% e 15% segundo a Cbic.
Segundo Martins, os efeitos inflacionários da guerra na Ucrânia devem aumentar ainda mais a pressão de custos no setor.
O PIB da construção civil avançou no ano passado 9,7% após amargar uma perda de 6,3% em 2020. Entre 2014 e 2021, o setor sofreu um retração acumulada de 26%.
De acordo com especialistas do setor, os imóveis da atual safra que ainda estão à venda têm preços mais acessíveis porque não embutem essa pressão de preços.
“É inevitável (aumento de preços). É impossível ter alguém que absorva um aumento de custo de 20%”, disse Martins.
O presidente do Sinduscon-RJ, Claudio Hermolin, reforçou que se o setor não conseguir repassar toda a pressão de custos, o ritmo dos lançamentos pode ser reduzido. “Ninguém vai lançar algo que não consiga trazer rentabilidade”, disse Hermolin.
A alta de custos tende a afetar principalmente as famílias mais pobres, que comprometem boa parte da renda na compra do imóvel, disse Martins. Para tentar minimizar os efeitos econômicos sobre esse nicho, o setor da construção tem pedido ao governo federal novas medidas de apoio no âmbito do programa Casa Verde Amarela.
“Esse é o público que teve maior efeito do aumento de preços dos imóveis. Dados da Caixa Econômica mostram que 70% dos mutuários, quase todos do Verde Amarela, usam 100% da capacidade da renda (para pagar prestações)”, alertou Martins.
Em setembro passado, o governo fez um reajuste nos valores de subsídios para famílias mais pobres. Nesta semana, o conselho curador da Caixa adotou nova rodada de subsídios. (Reuters)
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