Confiança da indústria mineira cai ao menor patamar para fevereiro em nove anos

Com o avanço na desaceleração da economia, a confiança dos empresários da indústria em Minas Gerais registrou o menor patamar para fevereiro em nove anos. Neste mês, o Índice de Confiança do Empresário Industrial de Minas Gerais (Icei-MG), elaborado pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), registrou 46,7 pontos – resultado abaixo do considerado favorável (50 pontos).
Pelo terceiro mês consecutivo, os resultados permaneceram desfavoráveis para o setor. Em dezembro, o índice alcançou 48 pontos, seguido por 46,6 em janeiro. Na comparação com fevereiro de 2024 (52 pontos), o recuo é ainda mais acentuado, de 5,3 pontos, atingindo o menor nível para o mês em nove anos e 5,9 pontos abaixo da média histórica (52,6 pontos).
A economista da Fiemg e coordenadora da pesquisa, Daniela Muniz, avalia que a retração na confiança da indústria em Minas Gerais é reflexo de um contraste na situação econômica nacional entre 2025 e 2024. “Saímos de um ano com desempenho econômico majoritariamente expressivo, impulsionado por um maior poder de compra das famílias. Foram contextos que já começaram a desacelerar a partir de dezembro”, pontua.
Desde setembro do ano passado, o Banco Central iniciou o atual ciclo de alta da taxa básica de juros (Selic), elevando-a de 10,5% para 10,75% ao ano. Desde então, ocorreram aumentos sucessivos, incluindo uma elevação de 1 ponto percentual em janeiro, que levou a taxa para os atuais 13,25% ao ano.
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Para a economista, a combinação de juros elevados com uma redução gradual de estímulos ao crédito devem desacelerar a economia ao longo do ano. “Estamos em um cenário econômico desafiador, já percebemos uma acomodação no mercado de trabalho, além de uma inflação persistentemente acima da meta”.
Segundo a pesquisa, a avaliação dos componentes das atuais condições das indústrias se estabeleceu, pelo 27º mês consecutivo, abaixo dos 50 pontos. Em fevereiro, o indicador marcou 42,6 pontos – um aumento de 1,4 ponto frente a janeiro (41,2 pontos), entretanto, na comparação com mesmo período de 2024, houve recuo de 4,3 pontos, atingindo também o menor patamar para o mês em nove anos.
Já o componente de expectativas para os próximos seis meses registrou 48,8 pontos em fevereiro, com uma redução de 0,5 ponto em relação a janeiro (49,3 pontos). Frente a fevereiro de 2024 (54,5 pontos), o índice recuou 5,7 pontos. A exemplo dos indicadores anteriores, o resultado negativo da indústria com relação ao futuro em Minas Gerais persistiu pelo terceiro mês consecutivo e registrou o menor patamar para o mês em nove anos.
Política fiscal x política monetária: conflitos podem alavancar desaceleração econômica
Uma das maiores preocupações do setor citadas pela economista são os conflitos entre a política fiscal de caráter expansionista e inflacionária com a política monetária que se mantém contracionista. Enquanto o Banco Central (BC) segue aumentando juros para conter a inflação, o governo federal amplia gastos e reduz impostos para estimular o crescimento do País.
Apesar das ações governamentais de estímulo ao poder de compra, esse conflito, segundo Daniela Muniz, leva o Brasil a um cenário de incertezas para os próximos meses. “Dependendo da intensidade das políticas, as ações poderão resultar em um efeito reverso, que poderá prolongar o ciclo de aperto monetário”, ressalta.
Por fim, o crescimento da dívida pública com relação ao Produto Interno Bruto (PIB) também preocupa a indústria e deve ser encarada como uma das ações de combate prioritárias para 2025. “Um maior endividamento afeta o nosso câmbio, eleva ainda mais os juros e restringe investimentos do setor privado”, conclui a economista.
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