Economia

Confiança da indústria mineira recua pela terceira vez consecutiva em outubro

O índice de confiança no setor industrial do Estado fechou outubro com 50,3 pontos, o mais baixo em sete anos para o mês
Confiança da indústria mineira recua pela terceira vez consecutiva em outubro
O índice de expectativas da indústria mineira para os próximos seis meses ficou em 52,5 pontos | Crédito: Alisson J. Silva / Arquivo / Diário do Comércio

A indústria mineira marcou 50,3 pontos no Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI) deste mês, 1,9 ponto abaixo do registrado em setembro (52,2). De acordo com dados da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), essa é a terceira queda consecutiva na confiança do setor.

A economista da Fiemg, Daniela Muniz, explica que esse resultado apresentado pela indústria mineira está diretamente ligado à queda dos dois componentes do indicador: condições atuais (-2,3) e expectativas (-1,8). “A queda foi motivada tanto pela piora da percepção dos industriais com relação ao momento atual da economia e dos seus negócios, quanto pela piora das expectativas para os próximos seis meses”, disse.

Apesar do recuo no ICEI, os industriais mineiros seguem confiantes pelo nono mês seguido, uma vez que o indicador se manteve acima dos 50 pontos. A manutenção da confiança ao longo do ano foi motivada pela melhora do ambiente macroeconômico e, consequentemente, das projeções de crescimento para 2023.

Para Daniela Muniz, esse desempenho ao longo do ano foi motivado por fatores como a melhora nas projeções de crescimento, que já estão melhores do que era estimada no início do ano, a desaceleração da inflação e a normalização das cadeias de valor que estavam com fluxos comprometidos desde a pandemia.

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“Hoje a gente tem uma normalização das cadeias de valor. Não temos mais dificuldade para conseguir, pelo menos, a maioria dos insumos de matérias-primas. Esse foi um fator que facilitou também a volta da comercialização ao normal”, relata.

Ela também destaca a redução da percepção de risco fiscal, causada pela aprovação do novo arcabouço fiscal. Além dos estímulos governamentais à indústria, como na cadeia automotiva, a resiliência no mercado de trabalho, embora o desemprego ainda esteja em um patamar elevado.

“Nós tivemos vários fatores que levaram a essa manutenção da confiança em patamar acima dos 50 pontos. O que mostra que os empresários permaneceram confiantes ao longo do ano”, completa.

No entanto, a trajetória fiscal do Brasil, a dinâmica da inflação e o ritmo e magnitude dos cortes da taxa básica de juros seguem gerando incertezas e motivando uma postura mais cautelosa por parte dos empresários da indústria mineira.

A queda é ainda mais significativa na comparação com outubro de 2022 (61,5), com uma redução de 11,2 pontos no índice de confiança. Este é o menor resultado para o mês em sete anos e 2,5 pontos abaixo da sua média histórica (52,8).

Já no cenário nacional, o ICEI recuou 1,4 ponto frente a setembro (51,9) e fechou em 50,5 pontos em outubro. Isso representa uma queda na confiança dos empresários brasileiros ligados ao setor industrial.

O ICEI resulta da ponderação dos índices de condições atuais e de expectativas, que variam de 0 a 100 pontos. Valores acima de 50 pontos indicam percepção de situação atual melhor em relação aos seis meses anteriores e expectativa positiva para os próximos seis meses, respectivamente.

Percepção e expectativas da indústria mineira

O componente que mede a percepção quanto às condições atuais diminuiu 2,3 pontos frente ao mês anterior (48,1), registrando 45,8 pontos em outubro. Dessa forma, o indicador apresenta pela 11ª vez consecutiva um ambiente de pessimismo dos empresários em relação à economia do País (40,1), do Estado (44,4) e de seus negócios (47,6) nos últimos seis meses.

Já o índice de expectativas para os próximos seis meses ficou em 52,5 pontos, 1,8 ponto abaixo do observado em setembro (54,3). Isso significa que os empresários mantiveram suas perspectivas positivas para o futuro. O destaque foi no indicador relacionado à própria empresa, que fechou o mês com 54,7 pontos.

A economista da Fiemg destaca que essa permanência das expectativas se manterem acima dos 50 pontos tem contribuído de forma positiva para que o ICEI continue apresentando um cenário de confiança na indústria mineira.

Porém, esse otimismo da indústria mineira vem perdendo força nos últimos quatro meses. O componente também caiu 10,4 pontos frente a outubro do ano passado (62,9), registrando a menor pontuação em oito anos.

Daniela Muniz aponta que o momento atual segue sendo de incerteza, porém menor, motivada principalmente pelo arcabouço fiscal voltado à necessidade de aumento de receitas. “Nós temos algumas dúvidas com relação a como esse arcabouço fiscal vai se manter e como a trajetória fiscal brasileira vai se manter em um nível aceitável”, completa.

Ela ainda lembra a questão envolvendo a dinâmica da inflação, que, apesar da desaceleração, continua elevada. “A inflação continua elevada, e para poder reduzir a inflação o remédio é sempre aquele amargo, a taxa básica de juros em nível elevado. O objetivo é justamente reduzir a atividade industrial, a atividade econômica em geral, para poder dar uma reduzida na inflação”, explica.

Isso, por sua vez, segundo a economista, tem enfraquecido a demanda, principalmente, naqueles setores mais dependentes do crédito, que está em terreno restritivo devido às taxas de juros elevadas. “Nós tivemos o início do ciclo de corte de juros, mas ainda permanece a dúvida com relação ao ritmo da redução da taxa básica de juros. Então tudo isso acaba contribuindo, justamente, para essa certa cautela na tomada de decisão dos empresários, em termos de contratações, de atividades, aumento de produção e de investimentos”, conclui.

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