Economia

Conselho da Vale elege vice-presidente financeiro para comandar empresa

Pimenta foi escolhido após análise de uma lista de 15 nomes entregue pela consultoria internacional Russell Reynolds
Atualizado em 27 de agosto de 2024 • 10:41
Conselho da Vale elege vice-presidente financeiro para comandar empresa
Crédito: Divulgação Vale

Rio de Janeiro – O conselho de administração da Vale escolheu o vice-presidente financeiro da companhia, Gustavo Pimenta, para substituir Eduardo Bartolomeo na presidência da mineradora.

A decisão encerra um conturbado processo de sucessão, que ganhou contornos políticos com a pressão do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para emplacar o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega.

Pimenta foi escolhido após análise de uma lista de 15 nomes entregue pela consultoria internacional Russell Reynolds, contratada pela Vale para auxiliar no processo de sucessão.

Ele não estava na lista, mas o processo previa a análise também de um nome interno. Pimenta disputava essa vaga com o vice-presidente de Soluções de Minério de Ferro, Marcelo Spinelli.

O conteúdo continua após o "Você pode gostar".


“Estamos muito felizes e confiantes com a escolha de Gustavo Pimenta para liderar a Vale”, disse, em nota, o presidente do conselho de administração, Daniel Stieler.

“Ele reúne as competências necessárias para que possamos aspirar um novo ciclo virtuoso para a companhia, orientado por nosso propósito, e com grande potencial de geração de valor a todos os nossos públicos de relacionamento.”

Pimenta chegou à Vale em 2021. Antes havia trabalhado na empresa de energia AES e no Citigroup. É formado em Economia pela Universidade Federal de Minas Gerais e tem mestrado em Finanças e Economia pela Fundação Getúlio Vargas.

Na mesma nota, Bartolomeo disse que o novo presidente tem reconhecida competência e compromisso com a Vale. “Com Gustavo Pimenta, acredito que a Vale seguirá firme em sua jornada rumo à liderança na mineração sustentável e na criação de valor para todos os stakeholders.”

O mandato de Bartolomeo vencia em maio, mas foi estendido em março para que a companhia chegasse a um consenso sobre o novo nome. A princípio, ele ficaria na mineradora até dezembro, para auxiliar na transição.

Ele tentou se reeleger, mas não tinha apoio de conselheiros alinhados ao governo. Na reunião do conselho que definiu sua saída, teve apenas dois votos favoráveis entre 13 membros do conselho de administração da companhia.

A Vale é hoje uma empresa sem controlador definido, mas ainda com influência de seus antigos controladores, Previ, o fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, Bradesco e a japonesa Mitsui.

A Previ tem dois representantes no conselho de administração; Bradesco e Mitsui, um cada. A Cosan, que adquiriu recentemente participação relevante na empresa, tem outro. Os restantes são indicados por acionistas minoritários, em geral fundos de investimento estrangeiros.

Durante todo o processo de sucessão, a Vale foi alvo de ataques do governo e aliados. O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, chegou a dizer que a companhia estava “acéfala” e ameaçou com sanções caso resistisse a fechar acordo para indenizar vítimas da tragédia de Mariana (MG).

A dificuldade em eleger um novo nome e os constantes vazamento de informações tiveram impacto sobre a percepção do investidor, derrubando as ações da mineradora durante o ano. Nesse processo, o conselho da empresa perdeu dois integrantes, José Luciano Penido e Vera Marie Inkster.

Em sua carta de renúncia, Penido escreveu que o conselho vinha sofrendo “nefasta influência política” e reclamou de “frequentes, detalhados e tendenciosos vazamentos à imprensa”. Ele recuou após contestação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

Eleição de Pimenta para CEO da Vale é positiva e reduz incertezas, dizem analistas

A escolha de Gustavo Pimenta como o próximo presidente-executivo da Vale é positiva e reduz incertezas que pairavam sobre o processo de sucessão ao cargo e potencial interferência política, avaliaram analistas.

“Como candidato interno que está na empresa há cerca de cinco anos, a eleição do Sr. Pimenta como novo CEO provavelmente acalmará os temores de uma potencial influência política na liderança da Vale. O anúncio também marca o fim do ruidoso processo de sucessão do CEO e elimina um peso importante nas ações, em nossa opinião”, avaliaram analistas da RBC Europe Limited, em relatório enviado a clientes.

A equipe do JPMorgan destacou que Pimenta é amplamente conhecido e respeitado por investidores, o que deve levar a uma reação positiva do mercado.

Pimenta, executivo com experiência global nos setores financeiro, de energia e mineração, teve carreira desenvolvida ao longo de mais de 20 anos no Brasil, Estados Unidos e Europa, disse a Vale na véspera.

O UBS BB também afirmou ver o anúncio como positivo, avaliando que o executivo foi “arquiteto-chave da alocação de capital disciplinada e turnaround operacional da Vale nos últimos anos”. Para os analistas, conforme relatório a clientes, há potencial para que questões ESG importantes, como o caso da Samarco, possam ser resolvidas em breve.

Conforme o cronograma no processo de sucessão, Bartolomeo seguirá como presidente da companhia até 31 de dezembro de 2024, apoiando a transição para o novo presidente da Vale até 28 de fevereiro de 2025.

Reportagem distribuída pela Folhapress e Reuters

Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas