Economia

Construção civil vai precisar de mais de 200 mil profissionais qualificados até 2027

CNI aponta necessidade de qualificação de um enorme contingente de mão de obra até 2027 para atender à demanda do setor
Construção civil vai precisar de mais de 200 mil profissionais qualificados até 2027
Os trabalhadores da construção civil precisam de requalificação profissional de forma sistemática, avalia estudo da CNI | Foto: Marcello Casal Jr. / Agência Brasil

O mercado da construção civil está em alta e precisará, até 2027, de cerca de 205 mil profissionais qualificados para o setor em Minas Gerais, conforme estimativa da Confederação Nacional da Indústria (CNI). 

Desse total, 48,9 mil ainda precisam ser formados e 156,6 mil precisam de treinamento e desenvolvimento para ocupar as novas vagas criadas, substituir profissionais que saem do mercado ou atender à demanda do setor no Estado. No Brasil, a necessidade do setor chega a 1,4 milhão de profissionais.

Denominado Mapa do Trabalho Industrial, o estudo realizado pelo Observatório Nacional da Indústria da CNI leva em conta, conforme explica o gerente de Estudos e Prospectiva Industrial da CNI, Rafael Silva e Sousa, as expectativas de crescimento da economia e do mercado de trabalho para identificar as demandas dos setores da indústria no País.

Dentre os setores reconhecidos como mais carentes, a construção civil se destaca. O gerente da CNI explica que quando a economia aquece, a construção civil é uma das primeiras a acompanhar. “Há um aumento nas construções tanto relacionadas às plantas industriais como nas construções residenciais, daí o crescimento da demanda”, ressalta.

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Para Sousa e Silva, apesar da demanda por formação inicial ser considerada alta já que é responsável por 23,8% do total, a maioria pode ser resolvida com o treinamento da mão de obra. “Antigamente era mais comum você entrar em um emprego e não precisar se qualificar. Mas atualmente, é preciso continuar estudando. No mundo atual, essa necessidade é cada vez mais imperativa”, comenta.

O gerente da CNI aponta ainda que, com janelas de inovação e tecnologia cada vez menores, os trabalhadores precisam se requalificar de maneira sistemática, independente do setor. “Com a digitalização e a inserção de novas tecnologias, será necessário estar fazendo treinamento e desenvolvimento de forma continuada”, avalia.

Uma das alternativas de formação e qualificação é o Sistema Nacional de Aprendizado (Senai). Segundo Souza e Silva, o estudo inclusive direciona a criação de cursos e os processos formativos dos Senai’s no Brasil. “O mapa é um trabalho que atende diretamente ao Senai Nacional. Ele norteia a demanda da indústria para formar o trabalhador daqui há dois anos”, explica.

Para o presidente da Câmara da Construção Civil da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), Geraldo Linhares, o problema maior é que o setor não está conseguindo atrair o trabalhador para o primeiro emprego. “A gente perde para os programas de assistência social. O governo é um grande concorrente das empresas. E nosso trabalho é físico, rude. Temos uma mobilidade e um serviço de transporte ruim. São muitos os pontos que afastam este trabalhador da construção”, analisa.

Linhares comenta que há no setor uma série de iniciativas em busca de atrair mais a mão de obra. Desde a revisão da nomenclatura dos cargos em que se está trocando a palavra servente por ajudantes, por exemplo, a projetos de formação qualificada em que se formam duas pessoas ao mesmo tempo, in loco nas construções. “O trabalhador aprende já trabalhando, sem a necessidade de frequentar uma escola após o trabalho”, exemplifica. Entretanto, as medidas ainda não são suficientes.

No setor de educação superior, o gestor dos cursos de engenharia civil e engenharia química da Universidade de Uberaba (Uniube), Luis César de Oliveira, reforça a necessidade da constante atualização profissional. Oliveira entende ser a educação a peça-chave para uma carreira de sucesso, pois aumenta as oportunidades de emprego, eleva o potencial de retorno financeiro e impulsiona o crescimento profissional.

O professor conta que na região do Triângulo Mineiro, há um forte crescimento de empreendimentos imobiliários e de obras de infraestruturas potencializados pelo polo químico industrial que tem atraído investimentos. “Essas grandes empresas enfrentam dificuldades de profissionais atualizados com as novas tecnologias que elas trazem”, diz.

Apesar disso, o professor atribui parte do desinteresse dos estudantes não só pela construção, mas pela indústria de modo geral, à falta de entendimento do mercado de uma juventude mais imediatista. “Muitos esperam que, ao sair da instituição de ensino, ganharão altos salários. E essa conquista não vindo no tempo que eles esperam, acabam desistindo”, pondera. 

Consciente disso, o professor defende que o mercado valorize mais os alunos ao saírem da universidade, uma vez que as instituições já investem em qualificação e oferecem o que o mercado precisa. “Até então, só as instituições sentiam, mas agora o mercado está começando a sentir. É preciso valorizar mais os profissionais para que eles realmente possam ser atraídos pelas empresas. Do contrário, eles acabam buscando outras áreas”, destaca. 

Logísticas e Transporte também demandam por profissionais qualificados

A construção civil não está sozinha nessa carência de mão de obra qualificada. Ao analisar a distribuição por área, foi observado que logística & transporte, operação industrial, manutenção & reparação e metalmecânica, junto com o setor de construção, concentrarão 59% da demanda futura por formação profissional entre 2025 e 2027.

Logística e transporte têm a maior demanda por formação inicial, assim como por treinamento e desenvolvimento. Até 2027, o setor precisa de mais de 361 mil profissionais qualificados no Estado. 

Rafael Silva e Sousa
Rafael Silva e Sousa aponta maior carência de mão de obra em setores mais tradicionais em Minas Gerais | Foto: Divulgação CNI

Conforme detalha o gerente da CNI, Rafael Silva e Sousa, em Minas Gerais, as áreas com maior necessidade de formação inicial são logística & transporte (50,6 mil), construção (48,9 mil) , manutenção & reparação (23,1 mil), metalmecânica (18,1 mil) e operação industrial (17,8 mil).

“A própria constituição da indústria brasileira, e aí incluo a mineira, é muito focada nos setores mais tradicionais e, por isso, acabam demandando mais esta mão de obra. O próprio setor de logística, que aparece em primeiro em todo o País, é uma área mais transversal e carente em todos os estados”, aponta.

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