Construção civil vai precisar de mais de 200 mil profissionais qualificados até 2027

O mercado da construção civil está em alta e precisará, até 2027, de cerca de 205 mil profissionais qualificados para o setor em Minas Gerais, conforme estimativa da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Desse total, 48,9 mil ainda precisam ser formados e 156,6 mil precisam de treinamento e desenvolvimento para ocupar as novas vagas criadas, substituir profissionais que saem do mercado ou atender à demanda do setor no Estado. No Brasil, a necessidade do setor chega a 1,4 milhão de profissionais.
Denominado Mapa do Trabalho Industrial, o estudo realizado pelo Observatório Nacional da Indústria da CNI leva em conta, conforme explica o gerente de Estudos e Prospectiva Industrial da CNI, Rafael Silva e Sousa, as expectativas de crescimento da economia e do mercado de trabalho para identificar as demandas dos setores da indústria no País.
Dentre os setores reconhecidos como mais carentes, a construção civil se destaca. O gerente da CNI explica que quando a economia aquece, a construção civil é uma das primeiras a acompanhar. “Há um aumento nas construções tanto relacionadas às plantas industriais como nas construções residenciais, daí o crescimento da demanda”, ressalta.
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Para Sousa e Silva, apesar da demanda por formação inicial ser considerada alta já que é responsável por 23,8% do total, a maioria pode ser resolvida com o treinamento da mão de obra. “Antigamente era mais comum você entrar em um emprego e não precisar se qualificar. Mas atualmente, é preciso continuar estudando. No mundo atual, essa necessidade é cada vez mais imperativa”, comenta.
O gerente da CNI aponta ainda que, com janelas de inovação e tecnologia cada vez menores, os trabalhadores precisam se requalificar de maneira sistemática, independente do setor. “Com a digitalização e a inserção de novas tecnologias, será necessário estar fazendo treinamento e desenvolvimento de forma continuada”, avalia.
Uma das alternativas de formação e qualificação é o Sistema Nacional de Aprendizado (Senai). Segundo Souza e Silva, o estudo inclusive direciona a criação de cursos e os processos formativos dos Senai’s no Brasil. “O mapa é um trabalho que atende diretamente ao Senai Nacional. Ele norteia a demanda da indústria para formar o trabalhador daqui há dois anos”, explica.
Para o presidente da Câmara da Construção Civil da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), Geraldo Linhares, o problema maior é que o setor não está conseguindo atrair o trabalhador para o primeiro emprego. “A gente perde para os programas de assistência social. O governo é um grande concorrente das empresas. E nosso trabalho é físico, rude. Temos uma mobilidade e um serviço de transporte ruim. São muitos os pontos que afastam este trabalhador da construção”, analisa.
Linhares comenta que há no setor uma série de iniciativas em busca de atrair mais a mão de obra. Desde a revisão da nomenclatura dos cargos em que se está trocando a palavra servente por ajudantes, por exemplo, a projetos de formação qualificada em que se formam duas pessoas ao mesmo tempo, in loco nas construções. “O trabalhador aprende já trabalhando, sem a necessidade de frequentar uma escola após o trabalho”, exemplifica. Entretanto, as medidas ainda não são suficientes.
No setor de educação superior, o gestor dos cursos de engenharia civil e engenharia química da Universidade de Uberaba (Uniube), Luis César de Oliveira, reforça a necessidade da constante atualização profissional. Oliveira entende ser a educação a peça-chave para uma carreira de sucesso, pois aumenta as oportunidades de emprego, eleva o potencial de retorno financeiro e impulsiona o crescimento profissional.
O professor conta que na região do Triângulo Mineiro, há um forte crescimento de empreendimentos imobiliários e de obras de infraestruturas potencializados pelo polo químico industrial que tem atraído investimentos. “Essas grandes empresas enfrentam dificuldades de profissionais atualizados com as novas tecnologias que elas trazem”, diz.
Apesar disso, o professor atribui parte do desinteresse dos estudantes não só pela construção, mas pela indústria de modo geral, à falta de entendimento do mercado de uma juventude mais imediatista. “Muitos esperam que, ao sair da instituição de ensino, ganharão altos salários. E essa conquista não vindo no tempo que eles esperam, acabam desistindo”, pondera.
Consciente disso, o professor defende que o mercado valorize mais os alunos ao saírem da universidade, uma vez que as instituições já investem em qualificação e oferecem o que o mercado precisa. “Até então, só as instituições sentiam, mas agora o mercado está começando a sentir. É preciso valorizar mais os profissionais para que eles realmente possam ser atraídos pelas empresas. Do contrário, eles acabam buscando outras áreas”, destaca.
Logísticas e Transporte também demandam por profissionais qualificados
A construção civil não está sozinha nessa carência de mão de obra qualificada. Ao analisar a distribuição por área, foi observado que logística & transporte, operação industrial, manutenção & reparação e metalmecânica, junto com o setor de construção, concentrarão 59% da demanda futura por formação profissional entre 2025 e 2027.
Logística e transporte têm a maior demanda por formação inicial, assim como por treinamento e desenvolvimento. Até 2027, o setor precisa de mais de 361 mil profissionais qualificados no Estado.

Conforme detalha o gerente da CNI, Rafael Silva e Sousa, em Minas Gerais, as áreas com maior necessidade de formação inicial são logística & transporte (50,6 mil), construção (48,9 mil) , manutenção & reparação (23,1 mil), metalmecânica (18,1 mil) e operação industrial (17,8 mil).
“A própria constituição da indústria brasileira, e aí incluo a mineira, é muito focada nos setores mais tradicionais e, por isso, acabam demandando mais esta mão de obra. O próprio setor de logística, que aparece em primeiro em todo o País, é uma área mais transversal e carente em todos os estados”, aponta.
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