Economia

Consumo de pão cai com escalada no valor do trigo

Na avaliação da Amipão, queda no consumo por conta dos preços elevados vem evitando o desabastecimento
Consumo de pão cai com escalada no valor do trigo
Crédito: danielpinho5 - stock.adobe.com

O pão nosso de cada dia tem sofrido para sair do forno. Um dos grandes problemas é o aumento dos custos e dos insumos, em especial do trigo. A interrupção do fornecimento do grão por parte da Rússia, maior produtor mundial, não só reduziu a oferta, como aumentou a concorrência ao trigo da Argentina, EUA e Canadá, países aos quais Brasil e Europa estão recorrendo. Some-se a isto a redução da produção indiana, devido ao excesso de calor e possíveis problemas climáticos, em outros fornecedores, como a própria Argentina.

“Só não faltou trigo até agora por uma questão econômica. O pão subiu e houve uma queda de consumo no contexto geral. Mas é uma situação preocupante, inclusive porque o inverno aguça o consumo e podemos ter problemas com a falta de trigo”, afirma o presidente da Associação Mineira da Indústria de Panificação (Amipão), Winícius Segantine Dantas.

Ele conta que o próprio trigo brasileiro foi muito exportado. “Ele é pouco panificável, mas atende à demanda para ração, por exemplo. Sua falta foi mais um problema para nós, porque em alguns casos se fazia uma mistura dele com trigos de melhor qualidade, que completava nossas necessidades”, explica.

Segundo o presidente da Amipão, mesmo com trigo no mercado, os preços não se assentaram. “As altas são insustentáveis e vários insumos continuam subindo, agora o leite e os derivados é que dispararam”, acrescenta.

O consumidor não abre mão do pãozinho e, por isso, a demanda, em média, se sustenta, mesmo com preços maiores. Winícius Dantas, que é proprietário de sete padarias, diz que sentiu a redução dos tíquetes, mas restrita a bairros de classe média baixa ou de jovens em início de carreira, ou seja, segmentos de menor poder aquisitivo.

“Eu me preocupo com as regiões periféricas, onde a dificuldade financeira é maior, o consumidor não consegue acompanhar, o panificador não repassa e termina comprometendo o seu negócio”, alerta o presidente da Amipão.

Em seus estabelecimentos, o preço do quilo do pão foi de R$ 16,99 antes da pandemia para R$ 19,99 atualmente, uma alta de 18% nos últimos dois anos. O trigo, por sua vez, subiu cerca de 60% – o quilo da farinha foi de R$ 2,49 para cerca de R$ 4,20 nos dois últimos anos.

Nesse contexto, o empresário da área precisa de muita criatividade para continuar a operar. Isso quer dizer, segundo Dantas, trabalhar cada vez mais a qualidade do produto e transformar os produtos em afeto ou agrado, com uma fitinha no fechamento do produto, um pão quentinho, um atendente bem treinado ou um serviço de melhor presteza.

Dantas afirmou estar preocupado com padarias que não conseguem repassar a alta de custos | Crédito: Divulgação/Amipão

Variedade para atrair o cliente

Para Isabela Santiago, proprietária da Padaria Vianney, a estratégia é “criar produtos gostosos e de qualidade com um custo mais baixo, evitando assim as matérias-primas mais caras”. A diversificação, aliás, é a proposta do estabelecimento, um dos mais tradicionais de Belo Horizonte. Instalada no bairro Funcionários, a padaria oferece, além de produtos de panificação, também pratos executivos, lanches, pizzas e sushi.

Isabela Santiago calcula que o preço da farinha é hoje 84% maior que no pré-pandemia e destaca que este não é o único insumo que aumentou. Um exemplo é o queijo de Minas, muito utilizado na padaria – só em 2021, o preço mundial do leite aumentou 21%.

Segundo a empresária, há riscos de novos aumentos do preço do pão. “Infelizmente temos que acompanhar a inflação; o aumento do combustível, por exemplo, de 65%, atinge toda a população. Para o nosso setor está super difícil acompanhar, já que os clientes sentem muito os aumentos, mas esta situação está atingindo a todos os setores e não só a panificação”, finaliza.

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