Conversão de veículos pesados para GNV pode ‘salvar’ oficinas

A questão ambiental pode ser um fator preponderante para a retomada do setor de oficinas convertedoras, que instalam o kit de gás natural veicular (GNV) em veículos que usam combustíveis convencionais. A busca pela descarbonização por parte das empresas pode estimular um novo interesse pelas conversões, desta vez voltado para veículos pesados.
O cenário mais otimista foi vislumbrado pelo vice-presidente do Sindicato da Indústria de Reparação de Veículos do Estado de Minas Gerais (Sindirepa), Pedro Zwaal, e pelo consultor de mercado de energia da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), Sérgio Pataca.
Zwaal conta que Minas Gerais contava com cerca de 100 oficinas de conversão e, atualmente, este número não chega a 10. O desinteresse pela modalidade, na opinião dele, é atribuída à falta de incentivos governamentais e ao alto preço do GNV nas bombas, que desestimularam o uso pelos motoristas. “Hoje é mais comum fazermos a retirada dos kits de GNV do que a conversão para eles”, comentou o vice-presidente do Sindirepa.
O consultor de mercado de energia da Fiemg, Sérgio Pataca, fortalece o argumento do vice-presidente e lembra do valor do metro cúbico do combustível no Estado. “Enquanto no Espírito Santo o metro cúbico é R$ 4,44, aqui em Minas ultrapassa R$ 5, chegando a uma média de R$ 5,09. O usuário acaba chegando à conclusão que não compensa investir na conversão, e por isso o desinteresse”, afirmou.
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Com relação aos incentivos, o vice-presidente do Sindirepa reforça que enquanto em Minas Gerais o Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) é calculado pelo valor de 4% do veículo, no Rio de Janeiro, a taxa é de 1,5% para quem usa o GNV, o que estimula a conversão por lá.
GNV e a descarbonização
Apesar do cenário pessimista, o interesse de grandes empresas na redução dos impactos ambientais pode propiciar a retomada das oficinas, segundo especialistas. O gás natural veicular (GNV) possui vantagens sobre os demais combustíveis, o que tem atraído o interesse de transportadoras e empresas que operam com grandes frotas. Além de ser mais econômico, o GNV permite que, em média, o motorista percorra o dobro da distância em comparação com outros combustíveis, além de contribuir para a sustentabilidade do planeta.
“A pegada ambiental é o que mais atrai. As transportadoras usam o diesel que é muito poluente e em busca da descarbonização, as empresas começam a se interessar pela conversão. Elas aproveitam a frota existente e conseguem atingir índices ambientais melhores, uma vez que o GNV é o menos poluente dos combustíveis não renováveis. É o que chamamos de combustível de transição”, explica Pataca.
De acordo com o consultor, a tendência é que estes veículos migrem agora para o GNV e no futuro para o biometano ou para o hidrogênio verde, sem muito prejuízo, uma vez que o motor que funciona com GNV, normalmente, funciona com o biometano e o hidrogênio.
O vice-presidente do Sindirepa, Pedro Zwaal, também comenta a atenção das empresas às questões ambientais que buscam menor dependência do petróleo e aproveitam os incentivos governamentais (quando disponíveis). De acordo com ele, além do menor impacto ambiental, elas têm buscado redução de custos e ainda aproveitado o amadurecimento da tecnologia e da infraestrutura.
Zwaal cita montadoras como Scania, Iveco e Volvo que já anunciaram lançamentos com o uso do combustível natural. “As montadoras de veículos pesados também estão investindo em caminhões a gás. A Scania tem intenção de colocar 2 mil caminhões no mercado e já temos 1 mil. A Iveco, a curto prazo, também vai lançar o seu caminhão a gás. A Volvo está no mesmo caminho. Ou seja, as empresas estão indo atrás do compromisso da descarbonização”, pontuou.
O movimento pode ser uma esperança para as oficinas convertedoras que perderam mercado nos últimos anos de veículos leves. “É uma questão ambiental. As diferenças de emissões do GNV para a gasolina chegam a quase 15%. Então, ele é um combustível que, apesar de não renovável, é o mais limpo deles e inicia a transição para combustíveis mais limpos”, afirma Pataca.
Para ele, o movimento pode gerar uma busca pelos serviços de conversão. Entretanto, Zwaal pontua que o sucesso dessa reviravolta depende do mercado. “Vai depender da velocidade do aumento da demanda”, pontuou Zwaal.
Procurado pela reportagem, o governo de Minas, por meio da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico (Sede-MG), respondeu nesta quarta-feira (26), após a publicação da reportagem, que a pasta, no âmbito da Segunda Revisão Tarifária Periódica da Gasmig, reduziu, em 2022, a margem do GNV possibilitando redução da tarifa praticada.
Para assegurar a competitividade do GNV frente aos seus substitutos, a SEDE-MG vem empenhando esforços para garantir que a tarifa não se eleve frente à conjuntura macroeconômica.
Entre as iniciativas, destaca-se a política de margem variável ao GNV, desde 2022, que pode garantir até R$ 15 centavos por m³ de desconto na margem praticada pela GASMIG ao segmento GNV, o que contribui para suavizar o efeito da tarifa final. A medida visou auxiliar os postos de combustíveis, assegurando previsibilidade ao faturamento da GASMIG frente a todos os postos do estado.
“Ressaltamos ainda a atualização da Lei 14.937/2003, em 2024, que prevê a isenção do IPVA para veículos novos movidos a GNV e também o projeto de Corredores GNV, que visa o abastecimento de corredores estratégicos de forma a possibilitar o deslocamento rodoviário estratégico de pessoas e mercadorias. Atualmente estão em operação o Corredor Fernão Dias, Corredor Vitória, Corredor Rio-Bahia, Corredor BH-Rio, Rota Alternativa Ipatinga”, informou, por meio de nota.
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