Cooperativismo mineiro cresce acima da média de outros setores

Gabriela Cristina Sales Vieira conheceu o cooperativismo por acaso, durante uma contratação temporária de trabalho. Foi quando abriu sua conta em uma cooperativa de crédito. Com taxas de juros mais baixas para empréstimos pessoais e em consórcios imobiliários, obteve flexibilidade e rentabilidade superiores às opções oferecidas por bancos tradicionais. Assim, a experiência inicial se transformou em uma decisão definitiva.
“Logo que conheci o mecanismo de funcionamento do banco, gostei muito e decidi continuar com a conta aberta. Consigo planejar minhas finanças com mais segurança, pois sei que estou tendo um rendimento significativo com os serviços que tenho no banco, como seguro e consórcios”, diz.
A sensação de pertencimento também é um diferencial. Gabriela Vieira, jornalista, sente que faz parte de um modelo mais participativo. Segundo ela, o banco compreende suas necessidades como correntista. As taxas de juros e a facilidade para obter crédito, que estão cada vez mais limitadas devido à escalada da Selic – principal instrumento de política monetária utilizado pelo Banco Central do Brasil para controle da inflação -, são outros diferenciais. “A confiança e o atendimento personalizado fazem muita diferença”, complementa.
Além de reorganizar o orçamento, o modelo ajudou a jornalista a dar passos importantes em direção à conquista de seu primeiro imóvel. Para ela, o cooperativismo de crédito é uma alternativa viável para quem deseja empreender ou realizar projetos de vida, por exemplo. “Com juros mais baixos, é possível ter acesso facilitado à linha de crédito e realizar sonhos, como o da casa própria”, reafirma.
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O que aconteceu com Gabriela Vieira reflete uma mudança estrutural na economia mineira: hoje, mais de 3,7 milhões de pessoas em Minas Gerais estão ligadas diretamente ao cooperativismo, um modelo de negócios que, nos últimos cinco anos, dobrou de tamanho no Estado.
Um modelo que movimenta quase 15% do PIB mineiro
Atualmente, as cooperativas mineiras respondem por 14,9% do Produto Interno Bruto (PIB) estadual, com destaque para os ramos de crédito, agropecuário e saúde. Juntas, essas cooperativas movimentaram R$ 157,8 bilhões em 2024, um crescimento de 21,7% em relação ao ano anterior, o que equivale a R$ 28,8 bilhões a mais em riquezas geradas em um único ano.
“O crescimento registrado pelas cooperativas em 2024 chama ainda mais atenção quando comparado ao crescimento médio da economia estadual no mesmo período. Enquanto os setores de serviços, indústria e agropecuária mineiros cresceram entre 3% e 4%, segundo o governo do Estado, o cooperativismo avançou quase sete vezes mais, consolidando-se como uma das locomotivas econômicas de Minas”, avalia o presidente do Sistema Ocemg, Ronaldo Scucato.
Crescimento acumulado por setor entre 2020 e 2024
Setor | 2020 | 2021 | 2022 | 2023 | 2024 | 2020-2024 (%) |
---|---|---|---|---|---|---|
Cooperativismo | 20,70% | 27,40% | 26,60% | 9,50% | 21,70% | 159,43% |
Comércio | -0,90% | 7,00% | 2,90% | 1,90% | 3,80% | 15,41% |
Serviços | -3,30% | 5,60% | 4,70% | 3,10% | 3,20% | 13,76% |
Indústria | -4,80% | 9,10% | -0,20% | 2,40% | 3,80% | 10,18% |
Fonte FJP/Sistema Ocemg
A Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico (Sede) reconhece o papel do cooperativismo na economia mineira e reafirma o compromisso de manter um ambiente favorável e de apoiar iniciativas que fortaleçam o setor. A Pasta detalhou em nota enviada à reportagem que, para isso, são estabelecidas políticas públicas para a desburocratização do ambiente de negócios e para o fortalecimento das conexões entre as empresas, especialmente entre os pequenos negócios.
Destacam-se, entre essas ações, o reconhecimento e o apoio aos Arranjos Produtivos Locais (APLs), em que a maior parte das governanças é representada por cooperativas, e o Circuito Mineiro de Oportunidades e Negócios (CMON), que aproxima cooperativas de grandes redes de supermercados. “Por meio dessas medidas, o cooperativismo, cujo crescimento tem dobrado a cada cinco anos, segue conectando pessoas, transformando realidades e contribuindo de forma efetiva para a prosperidade da economia mineira”, reforça a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico no documento.
Prova disso é que, entre 2020 e 2024, o cooperativismo mineiro mais que dobrou de tamanho não apenas em movimentação econômica, mas também na quantidade de pessoas envolvidas com o modelo de negócios. E a tendência é que esse movimento perdure pelos próximos anos, já que a atividade vem crescendo acima dos 20% ao ano em Minas Gerais e o modelo cooperativista atende ao desejo da sociedade – especialmente das novas gerações – de consumir produtos e serviços pautados pela responsabilidade social, ambiental e pela transparência.
“Além disso, neste ano, as cooperativas foram autorizadas a ingressar no mercado de seguros – setor que movimenta R$ 394 bilhões e apresenta um potencial de crescimento de 15% ao ano com a entrada dessas instituições”, explica o presidente do Sistema Ocemg.
Scucato reforça que esse resultado decorre do trabalho de 800 cooperativas atuantes em diversos setores e presentes em todas as regiões do Estado. A capilaridade das cooperativas no interior de Minas, o investimento em tecnologia, a educação financeira e a confiança dos mineiros em um modelo de negócio que reinveste na própria comunidade também são fundamentais para esse desempenho.
O dirigente destaca ainda que o desempenho é sustentado por uma estratégia clara de fortalecimento da gestão cooperativista. Para isso, o Sistema Ocemg tem atuado com um portfólio robusto de soluções de capacitação e monitoramento, como o Programa de Desenvolvimento de Gestão das Cooperativas (PDGC), além de promover a qualificação dos nossos dirigentes e das nossas lideranças.
“No caso do agronegócio, fomos pioneiros na implantação de novas tecnologias que aumentam a produtividade, ao mesmo tempo que ajudam a preservar e recuperar o meio ambiente. No crédito, somos referência em inclusão financeira. Na saúde, nos destacamos pela inovação e pelo atendimento humanizado. E essa excelência nas entregas se repete em todos os ramos do cooperativismo. Por isso, mesmo em meio a uma conjuntura econômica desafiadora, estamos crescendo acima da média no mercado há vários anos”, resume.
O dirigente ainda ressalta que as cooperativas são importantes agentes de transformação das comunidades onde atuam, fato reconhecido inclusive pela ONU, que declarou 2025 como “Ano Internacional das Cooperativas”, pela capacidade do modelo de negócio em construir um mundo melhor para todos. Aliás, o cooperativismo é o único setor a ser homenageado duas vezes pela Organização com essa honraria – tendo sido reverenciado também em 2012.
“Hoje, o cooperativismo está alinhado às demandas das novas gerações, que incluem transparência, propósito, impacto social e ambiental. Somos um modelo moderno e que responde às exigências do nosso tempo, sem abrir mão dos valores cooperativistas”, orgulha-se o presidente do Sistema Ocemg.
Resultados que se refletem na vida de Gabriela Vieira e de muitos outros mineiros, já que estudo da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) mostra que municípios que contam com a presença de cooperativas apresentam, em média, um incremento de R$ 5,1 mil no PIB por habitante (18,6% da média nacional) e ainda sentem reflexos no mercado de trabalho formal e no volume de negócios que movimentam a cidade. “Isso acontece porque, onde tem cooperativa, tem mais trabalho, renda, empreendedorismo e injeção de recursos (por meio de salários e tributos) na economia”, garante Scucato.
Cooperativismo em Minas: os números de um setor em expansão
- 15% do PIB mineiro vêm do cooperativismo, que movimentou R$ 157 bilhões em 2024.
- R$ 3,7 bilhões em tributos foram recolhidos pelas cooperativas em 2024.
- 61 mil empregos diretos e mais de 72 mil postos de trabalho com terceirizados.
- Salário médio 35,6% maior do que o do setor privado tradicional.
- 54,5% da força de trabalho é feminina.
- 52,7% da população de Minas tem alguma ligação direta ou indireta com cooperativas.
- Presentes em 82% dos municípios mineiros.
- Em 81 cidades, são a única instituição financeira disponível.
- Aumento de 25,3 empregos formais por mil habitantes.
- Estimulam a criação de 3,2 novos negócios por mil habitantes.
- Contribuem para a redução de 12,3 famílias em situação de pobreza por mil habitantes.
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