Copom aumenta a Selic para 6,25% ao ano

Brasília – O Banco Central aumentou a taxa básica de juros em 1 ponto percentual ontem, ao patamar de 6,25% ao ano, dando sequência ao seu agressivo ciclo de aperto monetário para domar uma inflação que tem se mostrado mais persistente e disseminada.
O BC sinalizou, em comunicado, que deverá adotar outro ajuste de igual magnitude na próxima reunião do Comitê de Política Monetária, em outubro, e frisou que sua intenção é avançar no território em que a taxa de juros atua no sentido de esfriar a economia para conseguir com isso conter a inflação.
“O Copom considera que, no atual estágio do ciclo de elevação de juros, esse ritmo de ajuste é o mais adequado para garantir a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante e, simultaneamente, permitir que o Comitê obtenha mais informações sobre o estado da economia e o grau de persistência dos choques”, disse o Copom.
“Neste momento, o cenário básico e o balanço de riscos do Copom indicam ser apropriado que o ciclo de aperto monetário avance no território contracionista.”
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Esta foi a segunda vez seguida em que o BC ajustou a taxa básica nesta magnitude. Desde março, quando tirou a Selic da mínima histórica de 2% ao ano, o BC já subiu os juros básicos em 4,25 pontos, em cinco altas consecutivas.
A decisão do BC veio após o presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, indicar que a autoridade monetária não mudaria seu plano de voo a cada nova divulgação de dado de alta frequência, desfazendo parte das apostas no mercado sobre uma alta mais pronunciada na Selic após dados recentes de inflação terem surpreendido para cima.
O BC pontuou que a inflação ao consumidor segue elevada e que a alta em bens industriais deve prosseguir no curto prazo. Também destacou que os preços de serviços subiram a taxas maiores, embora tenha ponderado que o movimento era esperado em meio à gradual normalização da atividade no setor.
“Adicionalmente, persistem as pressões sobre componentes voláteis como alimentos, combustíveis e, especialmente, energia elétrica, que refletem fatores como câmbio, preços de commodities e condições climáticas desfavoráveis”, destacou o BC.
Nos 12 meses até agosto, a inflação medida pelo IPCA bateu em 9,68%, se distanciando com força da meta central de 3,75%, com margem de erro de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.
Choques nos preços embalados por fatores como a crise hídrica e a alta do dólar frente ao real, que encarece produtos importados, têm afetado expectativas para este ano e também para o próximo.
O próprio BC passou a ver inflação de 8,5% em 2021, frente a 6,5% antes, conforme projeções divulgadas ontem para seu cenário básico.
Em relação aos anos de 2022 e 2023, que compõem o seu horizonte relevante para a política monetária, as expectativas do BC são agora de inflação de 3,7% e 3,2%, respectivamente, ante 3,5% e 3,2% anteriormente. A meta de inflação para 2022 é de 3,5% e para 2023 de 3,25%, sempre com banda de tolerância de 1,5 ponto.
Ao contrário do BC, que somente neste quarta-feira indicou o IPCA ligeiramente acima do centro da meta no ano que vem, o mercado há algum tempo passou a estimar esse avanço. No boletim Focus mais recente, feito pelo BC junto a uma centena de economistas, as expectativas para o IPCA eram de alta de 8,35% neste ano, 4,10% no ano que vem e 3,25% em 2023. (Reuters)
Decisão desagrada entidades em Minas Gerais
A elevação da taxa básica de juros anunciada pelo Banco Central traz preocupação para o setor produtivo de Minas Gerais. Entidades apontam que a alta da Selic pode prejudicar a recuperação da economia.
Em nota, a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) aponta que recebeu a decisão com preocupação, uma vez que a alta é mais um indicativo de que a elevação dos juros seguirá refreando a atividade econômica.
A entidade destacou a fraqueza da retomada econômica, com um PIB abaixo das expectativas no segundo trimestre e desemprego recorde. “A indústria enfrenta dificuldades para manter os níveis de produção em decorrência da interrupção das cadeias globais de oferta e pela falta de insumos. Prospectivamente, a crise hídrica e a possibilidade de racionamento energético são riscos cada vez mais latentes à atividade econômica”, informou.
No cenário externo, a redução nos preços das commodities alimentícias e industriais e a estabilidade da taxa de câmbio limitam os repasses dos preços internacionais para o mercado doméstico, descomprimindo a inflação.
“É prudente que haja uma reavaliação da velocidade do processo de normalização monetária nas próximas reuniões do Copom. A elevação da taxa de juros agrava o cenário prospectivo e coloca em risco a recuperação da atividade econômica, com efeitos diretos sobre a retomada do emprego e da renda em 2021 e em 2022”.
O presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH), Marcelo de Souza e Silva, afirmou, em nota, que elevação da taxa pode fazer sentido quando se pensa em conter pressões como alta do dólar, disparada de preços de combustíveis e alimentos. “Mas, por outro aspecto, pode impactar o desempenho da economia real, já que com a taxa de juros em patamares maiores, as empresas tendem a frear seus investimentos e o crédito fica mais caro. É importante frisar que, atualmente, o crédito é o grande propulsor para o crescimento de nossa economia”, disse.
Silva destacou o avanço da vacinação e o processo de retomada do setor varejista. “Por isso, é essencial que o governo tenha o cuidado de manter uma taxa que não crie obstáculos para essa retomada, controle a inflação e garanta essa recuperação em longo prazo”, afirmou.
De acordo com o economista da Associação Comercial e Empresarial de Minas (ACMinas) Paulo Casaca, a medida dificulta a recuperação econômica. “Em um momento de reabertura da economia, todos nós esperávamos um cenário mais favorável para a recuperação e, no entanto, o que temos visto é uma crescente incerteza que tem afetado nosso potencial de crescimento para os próximos anos”, disse.
O economista destacou também a decisão do governo de aumentar a alíquota do IOF até o final deste ano. “Por fim, gostaria de ressaltar nossa preocupação com o aumento do IOF, colocando na conta da população que mais tem sofrido com a pandemia da Covid-19, elevando custos para os inadimplentes e para todos que acreditam que possam superar este momento difícil. Precisamos que o setor político atue no sentido de ajudar a população após todo esse sufoco que enfrentamos por conta da pandemia”, concluiu.
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