Economia

Copom encerra o ciclo de aperto monetário

Copom encerra o ciclo de aperto monetário
Crédito: Antonio Molina/Folhapress

Brasília – O Banco Central decidiu manter a Selic em 13,75% ao ano, interrompendo às vésperas da eleição presidencial o mais agressivo ciclo de aperto monetário desde o início do regime de metas para a inflação em 1999, em decisão que dividiu o Comitê de Política Monetária (Copom), ponderando que não hesitará em retomar as altas nos juros se a redução da inflação não transcorrer como o esperado.

“O Comitê se manterá vigilante, avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período suficientemente prolongado será capaz de assegurar a convergência da inflação”, afirmou comunicado do Copom divulgado pela autarquia nesta quarta-feira.

A decisão de manter a taxa foi tomada com o voto favorável de sete dos nove membros do Copom. Dois diretores — Fernanda Guardado e Renato Gomes — votaram por uma alta residual de 0,25 ponto percentual dos juros. Foi a primeira decisão não unânime do colegiado em seis anos e meio.

Ao reforçar que o Copom irá perseverar até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno das metas, o comunicado destacou que o BC poderá voltar a aumentar a Selic se necessário.

“O Comitê enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado”, acrescentou.

A decisão do Copom foi ao encontro da expectativa da maioria dos analistas de mercado, de acordo com pesquisa Reuters, segundo a qual 24 de 32 economistas consultados esperavam continuidade da taxa básica de juros no mesmo nível.

Com a decisão, o BC manteve a Selic a um patamar 11,75 pontos acima da mínima histórica de 2% ao ano, atingida em meio à pandemia de Covid-19 e que vigorou até março do ano passado. A pausa no aperto monetário ocorre após 12 elevações seguidas da taxa básica, que segue no nível mais alto desde janeiro de 2017, quando também estava em 13,75% ao ano.

Para o economista da Garde Asset Management Luis Menon, o BC não subiu juros nesta reunião “por pouco”.

“A gente esperava a manutenção, mas achamos que o tom veio mais hawkish, foi mais duro. O BC colocou que o próximo passo poderia ser aumento de juro. A gente esperava que fosse só parar, que não iria deixar tão claro isso”, disse, ressaltando a divergência entre os membros da diretoria.

Atividade aquecida

Em relação ao comportamento da inflação no País, o Copom ressaltou que o índice continua elevado, apesar da queda recente em itens mais voláteis e dos efeitos dos cortes tributários implementados pelo governo.

Entre os fatores de risco de alta para a inflação, o BC incluiu no comunicado um hiato do produto mais estreito do que o utilizado em seu cenário de referência, em particular no mercado de trabalho –o que indicaria uma economia aquecida, com tendência a gerar pressão inflacionária.

“A divulgação do PIB apontou ritmo de crescimento acima do esperado no segundo trimestre, e o conjunto dos indicadores divulgado desde a última reunião do Copom seguiu sinalizando crescimento”, afirmou.

O BC voltou a citar como outros elementos que podem impulsionar preços uma maior persistência das pressões da inflação global e incertezas sobre o arcabouço fiscal do País, já citados em comunicados anteriores.

Com relação aos riscos de baixa nos preços, o Copom mencionou queda adicional nos valores das commodities, desaceleração mais forte da atividade global e manutenção em 2023 dos cortes de impostos que inicialmente valeriam apenas neste ano.

Na reunião de agosto, o Copom havia elevado a taxa básica de juros em 0,5 ponto percentual, a 13,75% ao ano, indicando que poderia encerrar o ciclo de aperto com um ajuste menor em setembro.

Após a decisão, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou que o país registrou deflação nos meses de julho e agosto. Em 12 meses, o IPCA acumula uma alta de 8,73% –a meta para o fechamento do ano é de 3,5%, com tolerância de 1,5 ponto para mais ou para menos.

O recuo da inflação nos meses recentes foi motivado principalmente pelo corte de tributos sobre combustíveis, medidas que o BC já havia incorporado em seus modelos na reunião de agosto.

Entidades alertam para cenário desafiador

Entidades ligadas ao setor produtivo em Minas Gerais demonstram que a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) já era esperada por conta dos indicadores econômicos. Porém, o cenário é considerado desafiador mesmo com o fim do ciclo de alta nos juros básicos.

“O fim do aperto monetário representa um fôlego para o desempenho da economia real, pois a taxa de juros elevada prejudica os investimentos produtivos, o crédito fica mais caro, a inadimplência aumenta e isto diminui a renda em circulação, aponta o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH), Marcelo de Souza e Silva.

Para Silva, ainda que a taxa Selic não esteja em patamares ideais, a manutenção sinaliza boas perspectivas para o segundo semestre. “O último resultado do PIB apresentou um aquecimento da atividade econômica, tivemos aumento da geração de empregos e resultados positivos com a redução do ICMS sobre os combustíveis e a energia elétrica, como a desaceleração da inflação. A expectativa é que o poder de compra das famílias seja favorecido e estimule o consumo e a circulação de renda em torno das próximas datas comemorativas”, analisa.

Ainda de acordo com o dirigente, mesmo com a manutenção da taxa Selic, é preciso ter atenção à PEC dos Benefícios que, apesar de manter a economia aquecida ao longo dos próximos meses, pode causar pressão inflacionária adicional. “Por isso, esperamos que o governo federal utilize a política monetária para conter o avanço dos preços,  mas sem comprometer o crescimento econômico”, finaliza.

O economista da Associação Comercial e Empresarial de Minas (ACMinas), Paulo Casaca, lembra que neste ciclo de aperto, a taxa subiu 11,75 pontos percentuais. “Somente agora a inflação começa a ceder. Ainda que às custas de uma Emenda Constitucional que, entre outras medidas, desonerou o ICMS dos combustíveis e da energia elétrica e deixará uma dívida vultosa para ser paga nos próximos anos”, afirma.

Apesar disso, a retomada das atividades do setor de serviços tem sido importante para estimular a atividade econômica. A projeção atual é de que o PIB crescerá 2,65% este ano, segundo o Boletim Focus. “É pouco, mas poderia ser pior”, disse.

“Por fim, considero insuficiente e obscuro o debate sobre a política econômica pelos candidatos à presidência. O cenário econômico para 2023 será muito desafiador e as discussões têm sido, na melhor das hipóteses, bastante superficiais”, conclui.

Indústria

“A decisão do Banco Central Brasileiro vem em consonância com o visível processo de descompressão inflacionária em curso no País, alavancado, especialmente, pelas medidas recentes de desoneração de itens como combustíveis, energia e telecomunicações”, aponta a Fiemg, em nota.

“De fato, ainda convivemos com um nível de inflação elevado. Contudo, é necessário levar em consideração as implicações negativas para a economia brasileira de uma taxa básica de juros tão elevada”, conclui a entidade.

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