Economia

Em recuperação judicial, Coteminas vem enfrentando turbulências

As importações em alta são entraves que impactam o grupo mineiro
Em recuperação judicial, Coteminas vem enfrentando turbulências
Crédito: Arquivo Coteminas

Mais uma empresa nacional acabou de entrar em recuperação judicial, neste caso, a Companhia de Tecidos Norte de Minas (Coteminas), localizada em Montes Claros (Norte do Estado), para tentar preservar as atividades e os ativos do grupo. O segmento têxtil vem sendo sacrificado com a entrada de produtos importados que chegam ao País com custos reduzidos e sem todos os encargos que são cobrados para a manutenção dos negócios no Brasil. Porém, a situação não é novidade, pois a empresa vinha tentando, ao longo do ano anterior, reestruturar as dívidas e oferecer viabilidade para os credores, foi como avaliou o professor da Fundação Dom Cabral (FDC), Eduardo Menicucci Ferri Horta.

De acordo com ele, a indústria têxtil no Brasil vem enfrentando dificuldade há alguns anos, desde o momento que a China começou a inundar o mercado com produtos de ‘R$ 0,99’. “A indústria têxtil brasileira está no limbo há alguns anos. E, sem sombra de dúvidas, a entrada de um grande volume de produtos chineses foi o fator que mais impactou na vida empresarial da Coteminas. Afinal de contas, os produtos chegam ao País por um preço que não tem como a indústria têxtil suportar”, destacou.

Para se manter em atividade, uma indústria precisa registrar os trabalhadores, têm regras ambientais para cumprir e os impostos para pagar, enquanto os produtos têxteis que chegam ao País, além de virem com preços muito baixos, não precisam arcar com todas essas despesas, enumerou ele. “Por isso é muito difícil concorrer com os produtos importados. A Coteminas tomou uma medida esperada, pois chegou a um momento que, para se reestruturar, é a alternativa mais viável que existe para a ocasião”, apontou.

Antes havia um preconceito sobre a recuperação judicial, mas entendemos como uma forma de a empresa se proteger para tentar sobreviver, afirmou o professor. “São diversas reuniões tensas e desgastantes, na qual tem que relacionar todos os credores para tentar renegociar. Entretanto, é a ferramenta que o mundo empresarial tem para sobreviver. Temos casos de empresas como a Latam, que utilizou a ferramenta em um momento oportuno, ainda em 2020, e dois anos depois se recuperou, operando desde então”, comparou.

O conteúdo continua após o "Você pode gostar".


Entretanto, nem sempre o processo de recuperação judicial termina bem. Um caso citado pelo professor foi o da empresa aérea Avianca, que mesmo com recuperação judicial em andamento não conseguiu ter êxito no plano e acabou com falência decretada. “Por isso, esperamos e torcemos para que o processo de recuperação judicial da Coteminas seja conduzida e aprovada dentro dos prazos legais e, mesmo que tenha que se desfazer de algumas unidades ou ativos, que consiga se recuperar nos próximos dois, três anos”, projetou.

De agora em diante, a empresa terá 180 dias para negociar com os credores as condições de pagamento, para que no momento da assembleia, o plano de recuperação seja aprovado. “Se um plano não for aprovado, não resta outra alternativa a não ser a decretação de falência. Mas, algo entre 80% e 90% dos planos são aprovados, pois os credores têm esperança de receber, ainda que parte dos créditos devidos. Acredito que foram as condições mercadológicas e comerciais que ajudaram a culminar nesse pedido que, para o empresário é uma situação difícil, ainda mais se tratando de uma empresa nacional, que foi passando por gerações e que tem história”, afirmou.

Para o deputado estadual Arlen Santiago (Avante), que tem base na região Norte do Estado, a notícia sobre a recuperação judicial da Coteminas foi recebida com certa tristeza. “Um patrimônio que já foi controlado pelo ex-vice-presidente do Brasil, José Alencar Gomes da Silva, e hoje está nas mãos do filho, que é presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Josué Gomes da Silva, enfrentando um percalço como este, só comprova que o Brasil não etá sendo um local fácil para sobreviver. Ainda mais agora com a questão do substancial aumento da carga tributária sobre os empregos, a reoneração da folha”, salientou.

Um ponto levantado pelo deputado é que, além da questão das dívidas da empresa, ainda existem a situação dos funcionários. “Um império que não consegui manter a consolidação. É triste de ver isso, mas esperamos que a recuperação judicial possa reverter o cenário. Não conheço a fundo a situação financeira da empresa, mas há um tempo tentei junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES) uma linha de crédito para tentar ajudar a empresa e manter os postos de trabalho. Agora, vou ficar ao lado dos funcionários para que eles não sejam prejudicados”, afirmou o parlamentar.

Comunicado foi feito à CVM na quarta-feira

No fato relevante encaminhado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a companhia não informa onde foi feito o pedido ou o nome do juiz ou juíza que aceitou parcialmente sua requisição. Também não diz qual o total de dívidas a serem renegociadas com a intermediação do Judiciário.

O extrato da decisão incluído no comunicado determina a suspensão de todas as ações e execuções contra a Coteminas e as demais empresas do grupo -o documento cita nominalmente apenas a Ammo Varejo, que vende as marcas Santista, Artexz e Mmartan, mas o grupo inclui a Santanense e a Springs Global (companhia-mãe, que combina a Coteminas com a americana Spring US).

A Coteminas diz que um fundo de investimentos notificou as empresas do grupo do vencimento antecipado de debêntures emitidos pela Ammo Varejo em maio de 2022, e a transferência de ações por valor irrisório.

Segundo o comunicado, a companhia têxtil contranotificou o fundo porque não estaria configurado o vencimento antecipado de dívidas.

Grupo fechou parceria com a Shein

No ano passado, o grupo fechou uma parceria com a chinesa Shein para produzir vestuário no Brasil. Logo depois a rede global de fast fashion emprestou US$ 20 milhões para a Santanense, que tem fábrica em Itaúna, na região Centro-Oeste do Estado, e faz parte da Coteminas

O empréstimo visa recompor o capital de giro da companhia e é conversível em ações. O vencimento da dívida está previsto para junho de 2026 e prevê o pagamento de juros anuais, conforme informações divulgadas na época. (Com informações de Fernanda Brigatti/Folhapress)

Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas