Economia

Crise energética na Europa pode ter impactos em MG

Cenário negativo por conta da guerra na Ucrânia pode resultar em alta de combustíveis e queda nas exportações
Crise energética na Europa pode ter impactos em MG
Crédito: Reuters/Oleksandr Ratushniak

Os conflitos entre Rússia e Ucrânia desencadearam uma série de problemas no mundo todo, inclusive, uma crise energética na Europa. A chegada do inverno no próximo mês e que se estende até março de 2023 tem potencial para agravar essa crise, uma vez que os países vão utilizar os estoques de gás natural para aquecer as residências durante o período frio. Vale lembrar que os membros da União Europeia (UE) sofrem com o corte parcial do fornecimento do gás por parte da Rússia – em resposta às sanções impostas pelo Ocidente ao país. 

Embora a crise energética do velho continente esteja longe de ter um fim, especialistas ouvidos pelo DIÁRIO DO COMÉRCIO apontam poucos impactos no Brasil e em Minas Gerais. De acordo com o analista de estudos econômicos da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Walter Horta, os preços elevados do gás natural e da eletricidade inviabilizam a economia europeia. Com a recessão, o continente acaba comprando menos produtos de outras praças mundiais, o que se traduz em uma diminuição da exportação mineira e brasileira. Dessa forma, “o principal impacto da crise energética é indireto”. 

Segundo ele, havia um temor nos últimos meses de que os estoques de gás da UE não fossem suficientes para passar o próximo inverno. Entretanto, com o esforço de países e estados, as reservas chegam cheias para a estação. De acordo com Horta, os níveis de armazenamento estão na casa dos 90%. Esse valor supera a meta de 80% que as autoridades do bloco estabeleceram para os países atingirem até novembro. “Para esse inverno os estoques estão garantidos, a Europa consegue passar por esse período, a preocupação fica pro ano que vem.”

A analista de Mercado de Energia da Fiemg, Aline Neves Rodrigues, afirma que a “crise energética na Europa, pode afetar principalmente o preço dos combustíveis fósseis, como o óleo diesel, e o gás natural liquefeito (GNL), e o Brasil é um importador, e temos grande dependência das fontes principalmente no setor de transportes e indústria”.

Aline Neves ressalta que de acordo com dados da Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado (Abegás), o Brasil reinjeta para a produção de petróleo quase 70 milhões de metros cúbicos por dia (m3 /dia) de GNL e que se a capacidade de escoamento for elevada em pelo menos 40 milhões de m3 /dia, “isso reduziria a dependência de importação do País”. 

Ainda segundo ela, com a corrida da Europa por fontes de energia renovável, uma oportunidade que afeta diretamente Minas Gerais é o aumento da exportação do silício, um dos principais insumos para produção de células fotovoltaicas. A analista da Fiemg destaca que “as indústrias em busca de energia limpa com fornecimento contínuo, preços competitivos dos insumos, podem deslocar e/ou aumentar as bases produtivas aqui no Brasil”. 

Para o engenheiro, ex-diretor da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) e ex-presidente da Centrais Elétricas Brasileiras (Eletrobras), Aloísio Vasconcelos, o continente europeu ficou muito dependente do gás natural e com o problema da guerra o “caldo entornou”. Segundo ele, com o período de conflitos, vários países se movimentaram para tentar minimizar este problema. A França, por exemplo, buscou reestatizar a Électricité de France (EDF) – empresa fundamental para a energia nuclear do País. Outra a se movimentar foi a Espanha, que investiu em usinas eólicas e solares. “Portanto, eu acredito que vá diminuir a crise dessa guerra”, salienta.

Hidrelétricas 

Quanto ao Brasil, Vasconcelos afirma que o setor de energia tem uma posição equilibrada. “Não é absolutamente tranquilo e também não é exageradamente preocupante, mas é preciso ficar alerta e como o mineiro diz: ‘abrir os olhos”’, reitera. Ele defende ainda a volta da construção de usinas hidrelétricas no País, embora reconheça a importância e o sucesso da geração de energia eólica e solar em várias regiões da Federação. A explicação é pelo fato das hidrelétricas serem capazes de suportar a atividade de grandes indústrias e mineração. 

Segundo o ex-presidente da Eletrobras, no rio Tapajós há a possibilidade de se construir três hidrelétricas com potência total de mais de 12 mil megawatts (MW) de energia. A técnica de construção da usina seria um sistema moderno que causa menos impactos ao meio ambiente e que permite, por exemplo, que os geradores sejam mergulhados na água, diminuindo o tamanho da usina.

Ele afirma que chegou a enviar esse projeto para os candidatos à Presidência do Brasil e que a equipe do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o procurou para apresentá-lo. Segundo ele, pode ser que em algum momento do mandato do petista, o projeto venha a ser lembrado e viabilizado. Para o futuro, Vasconcelos cobra coragem dos representantes do setor de energia. “Os dirigentes do setor têm que ter coragem para pesquisar, para investir e para fazer usinas. Tem que ter coragem para o País jamais ter crise de energia.” 

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