Danos com desastres de Mariana podem chegar a R$ 60 bilhões

Rio de Janeiro/São Paulo – A valoração econômica dos danos socioambientais causados pelo rompimento de barragem da Samarco em Mariana pode variar entre R$ 37,6 bilhões e R$ 60,6 bilhões, apontou levantamento do Lactec, uma das empresas nomeadas pelo Ministério Público Federal para a elaboração de diagnósticos.
O colapso da estrutura, que completa seis anos em 5 de novembro, liberou uma onda de rejeitos de mineração, deixando 19 mortos, centenas de desabrigados, além de atingir florestas e rios, incluindo o Doce, em toda a sua extensão, até o mar do Espírito Santo.
O levantamento é publicado agora, justamente quando autoridades federais e estaduais, a Samarco e suas sócias (Vale e BHP) estão negociando a revisão de um acordo fechado em 2016 para a reparação dos danos, com as negociações previstas para serem concluídas em fevereiro de 2022, com a possível revisão de valores acordados anteriormente.
“Fizemos a valorização ambiental e estamos dando uma base para o Ministério Público ter um valor de referência para tomar decisões futuras. Não temos como definir o que o Ministério Público vai fazer com o resultado do estudo”, explicou a pesquisadora do Lactec Renata Cristine da Silva Gonçalves.
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Segundo ela, a grande vantagem do estudo é dar um valor monetário a questões difíceis de serem valoradas.
“Demos um valor financeiro a questões ambientais que não são comercializadas”, acrescentou ela, lembrando que a Lactec usou metodologia utilizada para levantar perdas de um histórico vazamento de petróleo no Golfo do México, fazendo algumas adaptações para a realidade brasileira.
Desde o desastre até o fim de setembro, foram desembolsados pelas empresas R$ 16,8 bilhões em reparações e compensações, de um total previsto atualmente de cerca de R$ 29 bilhões até 2030, segundo dados da Fundação Renova, responsável por gerir as atividades. O valor total a ser pago é sempre revisado, de acordo com as ações necessárias.
Para a elaboração do documento, entregue em setembro ao MPF, o Lactec – centro de ciência e tecnologia com sede em Curitiba, nomeado desde 2017 para diagnosticar os danos com o rompimento – avaliou coletas, pesquisas e análise detalhada dos dados da região.
Ao todo, 96 danos foram diagnosticados e analisados, divididos em nove áreas: rejeitos, solo, flora, fauna, rios, mar, pescados, peixes e patrimônio cultural.
A partir daí, foram avaliados no que diz respeito a sua área de abrangência, gravidade, possibilidade de reversão e se têm tendência a diminuir ou aumentar. Desses danos, 56% foram considerados pelos pesquisadores como gravíssimos e 54% são apenas parcialmente reversíveis – enquanto 18% não podem ser revertidos.
Procurada, a Samarco informou que buscaria responder sobre o assunto o quanto antes.
Tragédia de Brumadinho – A Vale informou ontem que concluiu o depósito em juízo do montante de R$ 4,4 bilhões previsto para o Programa de Transferência de Renda aos atingidos pelo rompimento da barragem de Brumadinho.
Os recursos, corrigidos pelo IPCA até agosto de 2021 e deduzidos os custos operacionais e pagamentos emergenciais realizados entre junho e outubro de 2021, foram depositados em duas vezes, sendo R$ 2 bilhões em 18 de outubro e o restante em 28 do mês passado.
Os depósitos foram realizados porque, desde 1º de novembro, passaram a valer os termos do novo programa, assinado entre a empresa, o governo de Minas Gerais e as instituições de Justiça, em fevereiro deste ano. O acordo envolveu R$ 37,69 bilhões para reparação de danos coletivos.
A Vale disse que tem prestado apoio e assistência às famílias impactadas pela ruptura da barragem desde o primeiro momento, em 2019. Durante quase três anos, cerca de cem mil pessoas contaram com o benefício, que ultrapassou R$ 2,3 bilhões, acrescentou a mineradora.
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