Deflação apurada pelo IBGE na RMBH chega a 1,07% em julho

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) foi de -1,07% em julho, deflação provocada principalmente pela redução dos preços de combustíveis e energia elétrica. Os alimentos, porém, continuaram a subir. Com o índice de julho, a variação do IPCA somou 4,45% no ano e 9,41% nos últimos 12 meses, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A região metropolitana da capital mineira teve o sexto menor índice entre as 16 áreas pesquisadas. No Brasil, o IPCA em julho foi de -0,68%, menor taxa registrada desde o começo da série histórica, iniciada em janeiro de 1980.
A Petrobras, no dia 20 de julho, anunciou a redução de R$ 0,20 no preço médio do combustível vendido para as distribuidoras. Além disso, a Lei Complementar 194/22, sancionada no final de junho, reduziu o ICMS sobre combustíveis, energia elétrica e comunicações. O que afetou não só o grupo de transportes, como também o de habitação, por conta da energia elétrica.
O raciocínio se aplica à Região Metropolitana de Belo Horizonte. Da mesma maneira que no País, os únicos grupos que tiveram variação negativa na RMBH foram os de Transportes (-5,71%) – com expressivas quedas de preço na gasolina (-17,88%) e no etanol (-10,54%) – e de Habitação (-2,74%), destacando-se neste último o item energia elétrica residencial, que teve uma variação de -10,21%.
Após os efeitos da LC 194/22, contribuiu para a redução da tarifa a aprovação pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) de revisões tarifárias em dez distribuidoras no País. Caso da área de abrangência da Cemig, onde o reajuste residencial foi de 5,66% em 22 de junho.
Também mostrou ritmo de desaceleração o grupo de Saúde e Cuidados pessoais (0,38%), devido à variação inferior dos valores dos planos de saúde (1,12%) e à queda no preço de produtos de higiene pessoal (-0,25%). No grupo Vestuário (0,03%), o item roupas teve redução de 0,23% – provocada certamente pela queda no preço do algodão, que é uma das principais matérias-primas da indústria têxtil, no final de junho.

Alimentos em alta
Em contrapartida, o setor de alimentação e bebidas continuou subindo em julho. O grupo teve a maior variação positiva (1,71%). O resultado foi puxado pelo leite longa vida – que subiu 27,06% – assim como outros leites e seus derivados (15,91%). Os altos preços do produto se mantêm durante a entressafra e também por causa do aumento dos custos de produção, como ração e insumos importados.
A alta do leite contribuiu especialmente para o resultado da alimentação no domicílio, que teve alta de 1,88%. Frutas como melancia (51,64%) e banana d’água (23,77%) também impactaram o índice. No lado das quedas, os maiores recuos de preços vieram do tomate (-22,77%), da batata-inglesa (-22,31%) e da cenoura (-20,26%).
A alimentação fora do domicílio continuou aumentando: 1,21% em julho. Lanches aumentaram 2,31% e a refeição, 0,82%. No grupo Transportes, um destaque foi o aumento das passagens aéreas, que foi de 18,56%, ainda influenciado pela retomada das viagens.
Para Daniel Furletti, professor aposentado da PUC Minas, onde lecionou Macroeconomia durante 42 anos, a deflação já é resultado do aumento da taxa de juros, como instrumento para regular a oferta e a demanda. “Esse descompasso pressionou os preços e inflou os custos. Muitos fatores conspiraram para o aumento da inflação, inclusive em nível mundial, como nos Estados Unidos, onde ela historicamente girou em torno de 3% e agora está em 9%”, explica.
Segundo o professor, a deflação sinaliza o arrefecimento da inflação ao mesmo tempo em que se restabelece um equilíbrio entre oferta e demanda. “Aumentar os juros neste caso é um remédio para o qual toda teoria econômica é favorável. Mas você não pode tomar antibióticos a vida inteira, só na hora de atacar a causa do problema. O remédio não pode ser eterno, senão ele sufoca a economia”, compara Furletti.
Já para o economista e coordenador da Associação Brasileira dos Economistas pela Democracia (Abed-MG), Paulo Bretas, a deflação é provisória. “Ela está focada nos combustíveis e na energia. O ICMS foi reduzido por força de lei e houve transferência de recursos dos Estados. A inflação continua em outros grupos, notadamente alimentos, nos quais o impacto das variações de preços internacionais segue afetando os preços domésticos e atingindo duramente as famílias mais pobres”, afirma. “Neste contexto, mesmo que elas passem a receber o auxílio de R$ 600,00, ele some com rapidez diante da inflação”, completa.
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