Economia

Demissões voluntárias batem recorde em Minas

Ao todo, foram 663.238 solicitações no Estado no período
Demissões voluntárias batem recorde em Minas
Com fim do isolamento relacionado à Covid-19, profissionais se depararam com novas oportunidades | Crédito: Rafael Neddermeyer/Fotos Públicas

Os pedidos de demissão bateram recorde em Minas Gerais. Somente em julho de 2022, 62.864 pessoas solicitaram o desligamento de seus empregos, 11% do total de pedidos no Brasil (588.807). Já no acumulado dos últimos 12 meses, outra marca negativa histórica, 663.238 trabalhadores pediram para ser desligados no Estado, 10% do total no País. 

Esses foram os maiores números desde janeiro de 2020, quando se iniciou a série histórica do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) com a metodologia atual de contagem de vagas. O levantamento, realizado pela LCA Consultores, aponta ainda que o Estado ficou em segundo lugar no País, atrás apenas de São Paulo (193.915 pedidos em julho e 2.180.643 no acumulado). 

Para se ter uma ideia da dimensão dos números, o total de desligamentos em Minas Gerais no mês de julho foi de 187.750, ou seja, 33% das demissões foram voluntárias. Os dados também indicam aumento de 27% nos pedidos de demissão mensais na comparação com julho do ano passado (de 45.895 para 62.864). Em relação ao mês de junho, houve alta de 7% (58.760 para 62.864).

A professora e pesquisadora da Faculdade de Ciências Econômicas (Face) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Kely Paiva destaca que fatores objetivos e subjetivos podem ter influenciado a alta nos pedidos, dentre eles, a perspectiva das pessoas de se realocarem para suas áreas originais de atuação.

Ela relembra que, desde o início da pandemia, o mercado de trabalho mudou bastante. Além disso, o período foi conturbado para vários setores da economia e levou a “demissões formais e contratações de toda ordem, porque as pessoas têm que sobreviver, então elas acabam se sujeitando muito provavelmente a trabalhos que estavam abaixo ou diferentes das suas qualificações”. 

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De acordo com a professora e pesquisadora, em um primeiro momento, alguns tipos de trabalho desapareceram e empresas enxugaram seus quadros. Posteriormente, com flexibilizações, o mercado se reorganizou e surgiram novas vagas. Nesse momento, algumas pessoas puderam investir em capacitações.

O distanciamento social também aflorou uma série de problemas de saúde mental, como depressão e síndrome do pânico. Com a flexibilização e o fim do isolamento social, “alguns fôlegos de esperança vão nascendo e elas (pessoas) começam a ver outras oportunidades para retornar aos seus campos originais de trabalho, para ir para os campos para os quais elas se qualificaram”.

“Então tem essas questões de duas ordens, uma ordem material, objetiva, do mercado de trabalho e das condições de trabalho, e outra da população, das pessoas se reorganizando, porque foi um momento conturbado em termos de saúde mental que agora a gente começa a aclimatar e a colher obviamente certos frutos desta confusão toda, em que ainda estamos metidos e está passando, mas ainda não passou”, ressaltou Kely Paiva.

Quanto à perspectiva futura de os números de pedidos de demissão baixarem, ela enfatiza que é preciso aguardar as próximas movimentações do mercado para de fato compreender qual será essa tendência, visto que os dados não apontam, por exemplo, as admissões e criações de postos de trabalho. “Se a gente pode esperar alguma modificação, será em 2023”, destacou.

Setores com mais pedidos de demissão

O Brasil, assim como Minas Gerais, bateu recorde de demissões voluntárias, com 6.466.992 pedidos nos últimos 12 meses até julho. O País também alcançou o segundo maior número mensal de sua história (588.807 em julho). 

Em relação ao estoque de vagas, ou seja, o total de empregos com carteira assinada, o setor de alojamento e alimentação foi o que mais registrou demissões no mês (2%), seguido por atividades administrativas e serviços complementares (1,7%) e atividades profissionais, científicas e técnicas (1,6%).

Os setores que menos registraram pedidos de demissão no período foram eletricidade e gás e administração pública, defesa e seguridade social, 0,3% cada.

Desemprego atinge menor nível no País desde o fim de 2015

São Paulo/ Rio de Janeiro – O Brasil registrou recorde no número de pessoas ocupadas e a taxa de desemprego caiu no trimestre encerrado em julho para o menor patamar desde o final de 2015, de 9,1%, ao mesmo tempo que a renda real dos trabalhadores voltou a subir.

A leitura divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) ficou em linha com a expectativa em pesquisa da Reuters e igualou também a taxa vista no trimestre encerrado em dezembro de 2015.

Nos três meses imediatamente anteriores, até abril, o desemprego no Brasil estava em 10,5% e encerrou o segundo trimestre em 9,3%. No trimestre até julho de 2021, ela era de 13,7%.

A taxa de desemprego brasileira voltou a ficar em apenas um dígito depois de ter chegado perto de 15% com as medidas de restrição contra a Covid-19. O mercado de trabalho vem se recuperando, mas ainda é marcado por uma informalidade recorde.

“É possível observar a manutenção da tendência de crescimento da ocupação e uma queda importante na taxa de desocupação”, disse a coordenadora da pesquisa, Adriana Beringuy. “Estamos num processo de recuperação”.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou recentemente que a taxa de desemprego cairá para “quase 8%” antes do fim do ano.

Nos três meses até julho, eram 98,666 milhões de pessoas ocupadas no Brasil, um recorde na série histórica iniciada em 2012. Houve aumento de 2,2% em relação ao trimestre até abril e de 8,8% sobre o mesmo período do ano anterior.

Já o número de desempregados teve forte queda de 12,9% na comparação com o trimestre imediatamente anterior, a 9,882 milhões de pessoas. Sobre o trimestre até julho de 2021, houve queda de 31,4%.

Os trabalhadores com carteira assinada no setor privado atingiram um total de 35,801 milhões, enquanto os que não tinham carteira eram 13,075 milhões nos três meses até julho, também recorde para a série histórica. A taxa de informalidade foi de 39,8% da população ocupada.

Segundo o IBGE, duas atividades influenciaram mais a queda do desemprego em julho, embora nenhum grupo tenha apresentado perda de ocupação.

Em “Comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas”, houve acréscimo de 692 mil pessoas no mercado de trabalho em comparação com o trimestre anterior, enquanto o setor de “Administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde humana e serviços sociais” registrou aumento de 648 mil pessoas.

“Essa melhora no mercado de trabalho tem a ver com avanços na atividade econômica. Temos serviços que foram afetados pela pandemia voltando aos poucos. Comércio e administração pública começaram a avançar de forma significativa”, destacou Beringuy.

“Nossa expectativa é que a taxa de desemprego continue caindo até o fim do ano, chegando a 8,7%. À frente, no entanto, a história começa a mudar: os efeitos dos juros altos e da desaceleração da economia global vão pesar mais fortemente sobre a economia, impactando negativamente o nível da ocupação em 2023”, avaliou Claudia Moreno, economista do C6 Bank, projetando taxa de 9,8% ao final de 2023.

Rendimentos – No período, a renda média real habitual dos trabalhadores subiu a R$ 2.693, de R$ 2.618 no trimestre até abril, mas ainda abaixo dos R$ 2.773 vistos no mesmo período de 2021, em meio à alta da inflação.

“A última vez que houve crescimento significativo (da renda) foi há exatos 2 anos, no trimestre encerrado em julho de 2020”, disse Beringuy.

O aumento, segundo o IBGE, foi puxado pelo rendimento de empregadores (6,1%), militares e funcionário público estatutário (3,8%) e dos trabalhadores por conta própria (3,0%). (Reuters)

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