Desabastecimento de matérias-primas impacta as indústrias mineiras

O setor industrial mineiro enfrenta um período de dificuldades para obtenção de insumos e matérias-primas, o que tem afetado o atendimento à demanda. A pesquisa Sondagem Especial, realizada em fevereiro e divulgada na sexta-feira (9) pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), mostra que aproximadamente três em cada quatro empresas passaram pelo problema.
Os reflexos da pandemia da Covid-19 são apontados como os principais motivos para esse cenário, o que coloca o controle da doença como algo fundamental para o retorno à normalidade.
Embora a pesquisa não contemple os setores mais afetados, nos últimos dias anúncios e alertas têm sido feitos nesse sentido por segmentos diversos. Conforme noticiado pelo DIÁRIO DO COMÉRCIO, a indústria do ferro-gusa poderá passar por paradas pontuais por conta da falta de minério de ferro granulado. Além disso, até 1.000 trabalhadores da Fiat, em Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), poderão entrar em férias coletivas por causa da escassez de componentes eletrônicos importados.
Analista de estudos econômicos da entidade, Daniela Muniz explica que a situação teve início ainda no ano passado, no período mais agudo da crise sanitária. Conforme ela destaca, várias empresas tiveram uma forte queda no faturamento e entraram em dificuldades, o que resultou na redução de estoques. O aumento da demanda posteriormente causou desorganização na cadeia produtiva, no Brasil e no mundo.
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Além disso, diz ela, a desvalorização do real frente ao dólar aumentou os preços dos produtos importados, o que fez com que houvesse uma maior demanda dos itens nacionais. “Dessa forma, o setor industrial passou a enfrentar limitações para a produção e atendimento aos clientes”, diz.
Nesse cenário, os números da Fiemg mostram que 51% das empresas do setor industrial enfrentaram dificuldades no atendimento aos pedidos dos clientes. Desse total, 7% afirmaram que grande parte da demanda não foi atendida e 44% destacaram que uma pequena parte da demanda não foi atendida.
Entre as empresas do setor industrial que registraram problemas, 53% disseram que a dificuldade em relação ao atendimento aos pedidos se intensificou ou se intensificou muito entre os meses de outubro do ano passado e fevereiro deste ano. Já 30% afirmaram que a dificuldade foi a mesma e 17% ressaltaram que a dificuldade reduziu.
Os dados da Sondagem Especial ainda revelam que aproximadamente 75% das empresas do setor industrial disseram que, mesmo pagando mais caro para obter insumos e matérias-primas domésticos, elas tiveram dificuldade para realizar a compra, sendo que 24% alegaram muita dificuldade.
Expectativas
Nesse quadro de incertezas, 46% dos empresários acreditam que a situação voltará ao normal ainda neste primeiro semestre, enquanto 43% creem em uma retomada no segundo semestre e 11% só acreditam que isso ocorrerá de 2022 em diante.
Já quando o assunto são os insumos e matérias-primas importados, 64% das empresas do setor industrial mineiro os utilizam em seus processos produtivos, sendo que 69% tiveram dificuldades de adquiri-los, mesmo pagando um valor mais elevado.
Dessa forma, 36% dos empresários acreditam que a situação irá se normalizar neste primeiro semestre, 48% acreditam em uma resolução no segundo semestre e 16% destacam que a normalização deverá ocorrer a partir do ano que vem.
Diante de todo esse quadro, Daniela Muniz salienta que a desorganização das cadeias produtivas tem sido uma realidade não só no Brasil, mas no mundo. Ela ressalta que mesmo que o consumo tenha sido prejudicado por conta do fim do auxílio emergencial no começo do ano, as empresas estão com dificuldades para atender a demanda.
“É necessário que a pandemia seja controlada com a vacinação para que se possa ter uma normalização da cadeia de fornecimento”, diz.
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