Desaceleração econômica impede avanço do comércio varejista mineiro

O comércio varejista em Minas Gerais iniciou 2025 com leve retração de 0,2%. O resultado de janeiro acompanha a oscilação negativa de 0,1% observada no Brasil e pode ser resultado de uma tendência de desaceleração na economia brasileira aliada à fatores sazonais.
Em contraste, o varejo ampliado, que inclui segmentos como veículos e materiais de construção, apresentou alta de 1% no volume de venda no Estado e de 2,3% no País. Os dados fazem parte da Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), elaborada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Na comparação com janeiro de 2024, o varejo restrito apresentou um crescimento significativo de 4,2%. O resultado foi impulsionado, principalmente, pelo desempenho positivo de hipermercados e supermercados, cujas vendas cresceram 4,6%, representando 53% do total de vendas do segmento. Por outro lado, houve recuo nas vendas de equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (-26,4%) e de tecidos, vestuário e calçados (-1,7%).
A economista da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Luiza de Mello, aponta que o desempenho do comércio varejista em janeiro permaneceu relativamente estável na comparação com o mês anterior. O resultado, segundo ela, começa a evidenciar uma desaceleração de crescimento econômico prevista para este ano, reflexo da retomada da alta nos juros, que tende a elevar o crédito e com isso restringir a capacidade de consumo das famílias.
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Já no comparativo interanual, a economista destaca que o volume de vendas no Estado permanece positivo e acima dos níveis pré-pandemia. “O volume de vendas na comparação com janeiro de 2024 supera os resultados nacionais, evidenciando a resiliência do varejo mineiro”, pontua.
Para este ano, segundo a PMC, a expectativa é que o comércio varejista avance 1,6% em Minas Gerais e 1,7% no Brasil. O crescimento é inferior aos 3,7% registrados no Estado em 2024 na comparação com 2023. “Quando analisamos esse contexto de restrição, o cenário se torna ainda mais desafiador. A menor expansão da massa salarial no início do ano reforça essa dinâmica, resultando em uma contenção da demanda”, explica a economista.
De acordo com o economista do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), Érico Grossi, a elevação de preços em setores como supermercados e alimentos impactou significativamente no resultado de janeiro. Além disso, ele destaca que efeitos sazonais também pesaram na oscilação negativa observada.
“O comportamento neste mês tende a ser de arrefecimento após as vendas intensas do Natal e da Black Friday, em novembro e dezembro. Ainda assim, é preciso dizer que o nível de comércio em Minas Gerais se mantém muito alto”, ressalta.
Com relação ao varejo ampliado, por estar diretamente associado ao crédito, o economista avalia que os impactos da atual desaceleração econômica, bem como da elevada inflação, serão mais acentuados no médio prazo. “Isso explica porque não observamos um recuo neste mês no setor, cujo avanço nos últimos 12 meses, incluindo janeiro, já está em quase 13%”, afirma.
Consumidor está mais cauteloso para evitar endividamento
Em um cenário de juros cada vez mais elevado, a inadimplência entre os consumidores em Minas Gerais avançou 2,86% em janeiro na comparação com o mesmo mês de 2024. De acordo com levantamento feito pela Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH), a partir de dados do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), o trabalhador atualmente possui em média, duas contas em atraso com valor médio de R$ 4.357,22.
De acordo com o professor de Ciências Contábeis da Estácio BH, Alisson Batista, o consumidor está cada vez mais cauteloso e buscando mais informações referente ao nível de endividamento, que afeta significativamente o consumo no comércio varejista. Com receitas cada vez mais ocupadas, a tendência, segundo ele, é de uma menor margem de consumo até a regularização da inadimplência.
“Quando uma pessoa possui um endividamento onde não consegue arcar com as despesas mensalmente, ela vai abrindo mão de despesas essenciais para custear dívidas em crédito ou financiamentos. Além de prejudicar a qualidade de vida, esse comportamento impacta o desempenho de múltiplos setores como alimentação, estudos, vestuário, dentre outros”, conclui.
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