Desaceleração econômica afeta venda de materiais de construção

Os efeitos da desaceleração econômica nacional já começaram a impactar diretamente o setor de materiais de construção em Minas Gerais. Recentes aumentos na inflação e a perspectiva crescente de avanços na taxa de juros projetam um cenário de incertezas que afetam o mercado.
De acordo com o diretor do Sindicato do Comércio Varejista e Atacadista de Material de Construção, Tintas, Ferragens e Maquinismos de Belo Horizonte e Região (Sindimaco), Wagner Matos, o primeiro trimestre do ano, tradicionalmente, é caracterizado por desempenhos pouco expressivos. O período é marcado por um maior volume de chuvas, além de férias escolares e datas festivas, como o Carnaval.
Entretanto, neste ano, o setor observa sinais mais acentuados de desaquecimento se comparado ao mesmo período do ano passado. “O aumento dos juros e a inflação tem feito com que as pessoas comprem em menor quantidade, diminuindo o ticket médio nas lojas”, destaca Matos.
Com a taxa básica de juros (Selic) a 14,25% ao ano, o crédito se torna mais caro e o consumo tende a desacelerar, impactando investimentos e o crescimento econômico do País. Apesar de ser uma medida para estabilizar a economia e evitar o aumento da inflação, os efeitos colaterais podem levar a uma menor atividade econômica e redução na intenção de investimentos.
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Para o diretor, os insumos consumidos em maior quantidade, como areia, cimento, tijolo e torneiras, ainda têm superado à inflação, impactando com moderação a demanda e os preços para o consumidor final. Por outro lado, produtos que dependem de matéria-prima importada, além de itens como tinta, material elétrico e hidráulico, apresentaram recentemente altas consideráveis nos preços.
“Podemos considerar que os materiais básicos tiveram um incremento de 7% ou 8% acima da inflação e os demais um pouco abaixo. Já produtos, como o cobre, que estão atrelados ao mercado internacional, como a bolsa de Londres, apresentaram altas mais expressivas”, pontua o dirigente.
Outro desafio apontado é a falta de mão de obra na construção, que também afeta significativamente o desempenho do setor em Minas Gerais. Com a redução do desemprego no País, e consequentemente menor disponibilidade de profissionais, o diretor avalia que está cada vez mais difícil encontrar trabalhadores, especialmente de entrada – faixa que também passa por avanços expressivos de salário.
Descompasso na economia impacta expectativas
A divergência entre posições expansionistas e contracionistas para política fiscal e monetária preocupam o segmento, que possui receio quanto a condução do governo federal frente à inflação. Para o dirigente, é observado um descompasse na economia que impacta a expectativa das pessoas.
“Notamos que o Banco Central segue de forma contracionista e o governo em ritmo oposto. Essas ações antagônicas podem resultar em prejuízos para múltiplos setores, tornando 2025 um ano extremamente desafiador”, ressalta Wagner Matos.
Os próximos meses, segundo ele, serão decisivos para projeções mais assertivas de crescimento do setor de materiais de construção em Minas Gerais. “Até o momento, a estimativa é de crescimento entre 2% a 3% acima da inflação, embora dependendo do ritmo de aumento da Selic, corremos o risco de deflação”, conclui.
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