Descarbonização e demanda chinesa vão ditar mercado futuro da mineração

Um dos painéis mais esperados durante o último dia da Exposibram 2021, ontem, foi o que tratou das perspectivas de mercado para a mineração para os próximos anos. Foi consenso entre os palestrantes que a diminuição do uso de carbono, ou descarbonização, é uma realidade. No entanto, como todos deixaram claro em suas palestras, para isso se concretizar será fundamental um comportamento mais assertivo dos governos.
“Tudo depende dos governos e dos órgãos reguladores. Precisamos sair da retórica e irmos para o campo das ações”, reforçou Julian Kettle, vice-presidente sênior e vice-presidente de metais e mineração da Wood Mackenzie, uma das mais prestigiadas consultorias especializadas em mineração do mundo.
Kettle também pontuou, em sua fala, que estamos vivendo uma transição no mercado e uso de energia e no acesso que todos temos nessa transição. “A corrida vai começar. Os preços de commodities estão passando por uma jornada significativa. Saímos do ciclo antigo, que foi até 2014, com operações a preços globais, e passamos há pouco por um superciclo. Entendo que agora essa revolução não será mais liderada por um único país, mas sim por um tema. E esse tema, sem sombra de dúvida, é a descarbonização e consequente redução de suas emissões”, analisa. Mas, de acordo com ele, para que isso se consolide, precisaremos buscar soluções, além de mais investimentos e, principalmente, mais investimentos verdes.
Diretor da consultoria CRU Group, Paul Robinson concorda com a tese apresentada por Appian, e reforça que o que ocorreu com as commodities nos últimos 12 meses foi algo excepcional, tanto no valor final desses bens quanto nos resultados das companhias. Ao todo, 36 das 38 commodities que sua empresa acompanha apresentarão aumentos em relação ao ano passado, com algo em torno de 55% de aumento, em média. No entanto, este mesmo pool de itens deverá apresentar, no ano que vem, uma substituição menor.
“Da mesma cesta de 38 itens que acompanhamos, entendemos que 34 deverão apresentar redução de preços, com queda, em média, da ordem de 2,5%. Entendo que estamos passando por uma mudança importante nesta sinalização”, afirmou.
Robinson entende que os principais pontos que impactarão o mercado será a demanda da China por metais, além da reorganização do mercado global e, principalmente, políticas para mitigação da emissão de carbono. “Os chineses adotaram políticas verdes que estão mudando o mercado de metais, diminuindo o ritmo de aquisições. Ainda há muita demanda, é claro, mas deveremos ter alterações no ritmo, na produção e nos preços; assim como os Estados Unidos, que também estão reorganizando sua produção doméstica, com investimentos em indústrias básicas locais. Para o fim das emissões precisaremos de uma coordenação de todos os setores, de forma a visualizar uma nova e melhor retórica governamental”, disse.
Oportunidade para o Brasil – Neste cenário, CEO da Appian Capital Brazil, Paulo Castellari vê uma oportunidade muito boa de novos investimentos para o Brasil, na medida em que o País realiza, há anos, uma escolha consciente de novos projetos. “Desde projetos diversos de cobre, que se mostra muito atrativo na industrialização e em toda uma revolução de eletrificação, passando pelo níquel, que é uma peça-chave nessa realidade”, apontou o executivo.
Pensando no futuro dos preços das commodities, Julian Kettle acredita que iremos passar por um período de redução de preços, com os mercados retrocedendo. “Não veremos o crescimento nos níveis atuais, principalmente devido à restrição de suprimentos, mas encaro isso como transitório. Os preços vão cair, mas não acredito que a ponto de se chegar a um déficit. No entanto, a grande pergunta que deixo é: ‘Estes fatores vieram para ficar ou serão apenas transitórios?’ Só o futuro, com os governos e suas regulamentações, dirá”, analisou. (Com Ibram)
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